Os dois anos de guerra na Faixa de Gaza e o bloqueio à entrada de suprimentos no território palestino causaram devastação e geraram graves consequências de longo prazo para a população.
A fome foi confirmada em Gaza pela primeira vez em agosto deste ano, afetando mais de 500 mil pessoas. Os dados são de um monitor global da fome apoiado pela ONU.
Em entrevista exclusiva à CNN, Tamara Alrifai, diretora de comunicações externas da UNRWA (Agência da ONU para refugiados Palestinos) afirmou que o quadro é reversível, mas não é simples.
Ela explicou que a oferta de alimentos nutritivos, como frutas e vegetais, se tornou muito escassa com a guerra, sendo que a comida que entrou em Gaza durante o conflito teve pouca diversidade.
Assim, além do envio de quantidade suficiente de suprimentos, é necessária a distribuição adequada dos alimentos para os palestinos afetados.
“Os médicos da ONU ficaram alarmados nos últimos seis meses vendo o impacto [da fome]. Esse impacto é reversível se houver alimentos nutritivos entrando em Gaza, e se essas crianças forem lentamente trazidas de volta a uma dieta saudável para não chocar seus corpos”, destacou Alrifai.
“Precisamos conseguir trazer essa quantidade mínima de comida e outros suprimentos. Podem ser remédios, podem ser sabonetes, podem ser itens de higiene feminina. Tudo está faltando em Gaza, mas é reversível”, adicionou.
A primeira fase do plano de cessar-fogo entre Israel e Hamas prevê a entrada de 600 caminhões de ajuda humanitária por dia. Entretanto, o governo israelense havia informado à ONU que diminuiria a quantidade de ajuda que entra em Gaza após o Hamas não conseguir entregar todos os corpos de reféns que morreram.
Segundo Tamara Alrifai, entre 150 e 250 caminhões com ajuda entraram em Gaza por dia na semana passada.
Colapso nos serviços públicos
Outro grande desafio enfrentado pelos palestinos é o colapso nos serviços públicos na Faixa de Gaza.
A UNRWA é a maior agência de ajuda no território, contando com mais de 12 mil funcionários, e assume responsabilidades e serviços que seriam prestados por uma administração municipal, por exemplo.

A agência possuia mais de 300 prédios, que eram usados como escolas, centros de saúde e de assistência social para refugiados palestinos. Entretanto, segundo Alrifai, todas essas edificações foram atingidas durante a guerra e precisam de reabilitação.
“Temos 180 escolas. Costumávamos dar aulas para 300 mil meninas e meninos. Mas quando a guerra começou, transformamos essas escolas em abrigos, e muitas delas foram atingidas durante a guerra”, comentou.
A diretora chama atenção para outros problemas de questão pública, como a gestão de resíduos sólidos.
“Há um colapso nos serviços públicos em Gaza. E a longo prazo, quero dizer, após a fase de emergência com alimentos e água, é preciso restaurar o setor público”, ressaltou.
“No caso de um governo palestino em pleno funcionamento que cubra Gaza, os serviços da UNRWA terão que se fundir com o setor público, porque cobrimos uma parte dos palestinos”, concluiu.
