Nosso corpo tem um relógio interno, o chamado ritmo circadiano, que indica quando estamos mais aptos a digerir, produzir energia e descansar. Esse mecanismo regula o sono, a temperatura corporal, a liberação de hormônios e até a forma como aproveitamos os nutrientes.
Quando os horários jogam a favor do metabolismo
Quando respeitamos esse compasso natural, tudo funciona em harmonia: o corpo gasta energia com eficiência, o sono é restaurador e o metabolismo se mantém equilibrado. Mas, quando o ignoramos – dormindo tarde, pulando refeições ou jantando pesado -, criamos um descompasso metabólico que favorece o ganho de peso, a resistência à insulina, os distúrbios do sono e até o estresse metabólico.
Durante o dia, o metabolismo atinge seu auge. A luz solar estimula a produção de cortisol e insulina, preparando o organismo para transformar os alimentos em energia. À noite, o corpo desacelera e passa a liberar melatonina, sinalizando que é hora de repousar. Por isso, refeições pesadas no fim do dia costumam ser mal digeridas e tendem a ser armazenadas como gordura.
Pesquisas mostram que quem concentra as principais refeições nas horas de luz – com um café da manhã reforçado e um jantar leve – apresenta melhor controle glicêmico e menor risco de obesidade.
Jet lag metabólico: quando os horários saem do trilho
Assim como viagens longas desajustam o sono, horários alimentares irregulares desorganizam o metabolismo. Comer tarde, dormir tarde e acordar sem fome criam um ciclo vicioso conhecido como jet lag metabólico – um desalinhamento entre o relógio interno e o ambiente externo. Trabalhadores noturnos, por exemplo, frequentemente apresentam maior incidência de sobrepeso e alterações hormonais justamente por viverem fora do ciclo natural de luz e escuridão.
Ajustes simples que fazem diferença
Reestruturar o tempo, e não apenas o prato, é fundamental. Ao longo da vida, nossos hábitos mudam e, com eles, a sincronia do corpo se perde. Retomar o ritmo natural é uma forma de restaurar a fisiologia metabólica.
Manter horários regulares, evitar beliscar à noite e valorizar o café da manhã são medidas simples que fortalecem o equilíbrio hormonal e energético. A nutrologia moderna vê o relógio biológico como um aliado da longevidade. Sincronizar alimentação e ritmo corporal é nutrir-se com consciência, ciência e leveza. Quando respeitamos o tempo do corpo, ele responde com vitalidade – e o ato de comer volta a ser mais do que uma necessidade: torna-se um gesto de sintonia com a própria vida.
*Texto escrito pelo nutrólogo Ordânio Almeida (CRM/SP 210.631), membro da Brazil Health
Referências
- Garaulet M et al. Cell Metabolism (2022) – relação entre horários das refeições e sensibilidade à insulina.
- Scheer FAJL et al. Proc Natl Acad Sci USA (2019) – influência do ciclo claro-escuro sobre o metabolismo.
- Reutrakul S, Van Cauter E. J Clin Endocrinol Metab (2024) – crononutrição e controle metabólico.
- Xie Z et al. Nat Rev Endocrinol (2024) – ritmo circadiano e homeostase energética.
