Somos todos impulsivos em diferentes momentos da vida. Agir por impulso pode trazer satisfação e prazer, acontecendo eventualmente.
O problema surge quando agimos de maneira imprudente ou irracional. Nesses casos, geralmente percebemos que o comportamento foi inadequado, tentamos evitar repeti-lo e buscamos nos controlar. Mas, e quando não conseguimos ter autocontrole?
O que é impulsividade?
A impulsividade é um tipo de comportamento caracterizado por reações rápidas e não planejadas, sem considerar as consequências imediatas ou futuras. Pessoas impulsivas podem encontrar muita dificuldade para conter seus impulsos, agindo de forma precipitada, imprudente, compulsiva ou agressiva.
Isso pode trazer prejuízos significativos em várias áreas da vida, como saúde, relacionamentos, trabalho, família e finanças. Estima-se que entre 10% e 15% da população já tenha enfrentado problemas relacionados à impulsividade ao longo da vida.
Aqueles que enfrentam a impulsividade não conseguem simplesmente parar. Até a década de 1990, esse assunto era considerado secundário na saúde mental. De lá para cá, a impulsividade ganhou destaque e passou a ser amplamente estudada, por ser um componente importante em diversos quadros psiquiátricos. Ela pode estar presente em qualquer fase da vida.
A impulsividade é reconhecida como critério para o diagnóstico de alguns transtornos listados no Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5), publicado pela Associação Americana de Psiquiatria (APA, 2014):
- Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade;
- Transtornos de personalidade antissocial e borderline;
- Transtornos disruptivos, como transtorno explosivo intermitente, oposição desafiante, conduta (prejuízos de empatia), piromania, cleptomania;
- Transtornos depressivos e transtorno bipolar;
- Transtornos de ansiedade e transtorno obsessivo-compulsivo, tricotilomania, transtorno de escoriação;
- Dependência de substâncias e transtorno do jogo;
- Transtornos alimentares, como compulsão alimentar e bulimia nervosa.
Como a impulsividade se manifesta no dia a dia
Podemos incluir na definição de impulsividade também comportamentos associados à perda de controle e dependências, como o uso excessivo da internet, dependência de jogos eletrônicos, compras compulsivas e compulsão sexual. A impulsividade é um fenômeno complexo e multifatorial, podendo ser entendida como o resultado do desequilíbrio entre duas forças internas:
- Freios (inibidores de comportamentos impulsivos): estabilidade e autorregulação emocional, atenção focada, inteligência, memória, capacidade de avaliar a realidade, ética, busca por regras sociais, autocontrole e empatia;
- Impulsos (propulsores de comportamentos impulsivos): desejos incontroláveis, descontrole emocional, crenças disfuncionais, agressividade, ausência de valores éticos, baixo autocontrole, falta de empatia.
Quando prevalece o impulso e a resposta é imediata, podem surgir consequências negativas, comportamentos inadequados socialmente e até prejuízos irreparáveis. Isso mostra que o comportamento impulsivo pode escapar de qualquer tentativa de controle. Nesses casos, é importante buscar ajuda profissional, como psiquiatras e psicólogos.
Como reconhecer e lidar com a impulsividade
- Identifique quando e em quais situações os comportamentos impulsivos ocorrem (como gastar demais, tomar decisões precipitadas, etc.);
- Observe a frequência e intensidade desses comportamentos para avaliar a gravidade do problema;
- Identifique os gatilhos que desencadeiam a impulsividade (exemplo: estresse, pressão social);
- Reflita sobre as consequências dos comportamentos impulsivos, sejam positivas (como alívio imediato) ou negativas (problemas financeiros, conflitos nos relacionamentos);
- Procure entender qual a função do comportamento impulsivo na sua vida (aliviar tensão, aliviar emoções ruins, buscar prazer imediato).
10 dicas para desenvolver o autocontrole e gerenciar comportamentos impulsivos
- Reconheça as situações, emoções ou pensamentos que podem provocar atitudes impulsivas;
- Aprenda a perceber sinais de impulsividade em você, como aumento da ansiedade ou irritação, e o que sente fisicamente nesses momentos.
- Pratique a respiração profunda para diminuir o estresse e controlar os impulsos.
- Use a técnica da “Pausa e Reflexão”: ao sentir o impulso de agir, pare por um momento e pense nas consequências do seu ato.
- Defina metas claras e prioridades para manter o foco e reduzir a impulsividade.
- Pratique técnicas para lidar com o estresse, como relaxamento, meditação e exercícios físicos.
- Desenvolva habilidades para lidar com emoções negativas de forma saudável.
- Pratique a gratidão, valorizando as coisas boas do seu dia a dia, o que pode ajudar a diminuir a impulsividade.
- Seja paciente e persistente: desenvolver autocontrole é um processo que exige tempo e prática.
- Busque apoio de familiares, amigos ou profissionais de saúde mental.
Lembre-se de que o autocontrole é uma habilidade que pode ser treinada com prática e paciência. Você pode começar a trabalhar para adotar comportamentos mais equilibrados e saudáveis.
Essas sugestões não substituem o acompanhamento e tratamento profissional, que deve ser feito por psicólogos e psiquiatras capacitados.
*Texto escrito pela psicóloga clínica Marta Lenci (CRP 06/116553), especializada em Terapia Cognitiva Comportamental
Referências
- Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre, RS: Artmed, 2014.
- Psiquiatria, Saúde Mental e a Clínica da Impulsividade, Hermano Tavares et al. Barueri, SP: Manole, 2015.