Sentir fome mesmo depois de comer é uma queixa mais comum do que parece. O hábito de “beliscar” após uma refeição completa é um comportamento que tem explicação científica: ele está ligado ao funcionamento de uma complexa rede de hormônios que controla a fome e a saciedade.
Quando esse sistema se desregula, o cérebro pode interpretar de forma errada os sinais enviados pelo corpo e induzir a busca por mais comida, mesmo quando há energia suficiente armazenada.
Leia também
-
Endócrino aponta 3 nutrientes que ajudam a regular os hormônios
-
Descubra os hormônios que estão impedindo sua perda de peso
-
Saiba como os picos de glicose afetam os hormônios e impactam a saúde
-
Estudo descobre hormônios que podem evitar rugas e cabelos brancos
Como o corpo regula o apetite
Dois hormônios estão no centro desse processo: a grelina e a leptina. Eles trabalham como se fossem acelerador e freio. A grelina é produzida no estômago e estimula o apetite quando o órgão está vazio.
Já a leptina é secretada pelas células de gordura e sinaliza ao cérebro que já há energia suficiente armazenada. “Enquanto a grelina estimula a fome, a leptina ajuda a diminuí-la”, explica o endocrinologista Ricardo Paiva, da Santa Casa de Bragança Paulista.
Quando o equilíbrio entre elas é rompido, o corpo pode enviar sinais confusos ao sistema nervoso central, fazendo com que a pessoa sinta fome mesmo após uma refeição completa.
A endocrinologista Taciana Mara Rezende, do Hospital Municipal Universitário de Taubaté (HMUT), lembra que o organismo depende da interação de vários hormônios para controlar o apetite.
“Além da grelina e da leptina, hormônios como o GLP-1, o peptídeo YY e a insulina também atuam nesse processo, em conjunto com o hipotálamo”, afirma.
O impacto dos ultraprocessados
A alimentação moderna é uma das principais causas de desequilíbrio hormonal. O consumo excessivo de alimentos ultraprocessados e ricos em açúcar provoca picos de glicose e insulina que logo caem, despertando novamente a fome.
“Dietas ricas em açúcar e carboidratos simples podem levar à resistência à leptina e à insulina, dificultando que o cérebro perceba a saciedade”, destaca Paiva.
Essa resistência faz com que o corpo precise de quantidades cada vez maiores de alimento para atingir a mesma sensação de satisfação. Além disso, ultraprocessados alteram a microbiota intestinal e ativam o sistema de recompensa do cérebro, liberando dopamina e estimulando o desejo de comer cada vez mais — mesmo sem necessidade fisiológica.
Sono e estresse também influenciam
Dormir pouco e viver sob estresse crônico afeta diretamente os hormônios da fome. Noites mal dormidas aumentam a produção de grelina e reduzem a leptina, estimulando o apetite e a preferência por alimentos calóricos.
“O estresse eleva o cortisol, hormônio que favorece o acúmulo de gordura abdominal e intensifica a fome emocional”, explica Taciana.
A endocrinologista acrescenta que a falta de descanso adequado também interfere no metabolismo da insulina e pode comprometer o controle glicêmico, favorecendo o ganho de peso. “A interrupção do ciclo do sono afeta a inibição natural da fome que ocorre à noite, deixando o organismo em constante alerta”, completa.
O perigo das dietas restritivas
As chamadas dietas muito restritivas também podem desregular o sistema hormonal. Quando a ingestão calórica é reduzida drasticamente, o corpo ativa mecanismos de defesa para poupar energia. “Nessas situações, há aumento da produção de grelina, o que intensifica o apetite e torna difícil manter o plano alimentar por muito tempo”, explica Paiva.
Além disso, pessoas com sobrepeso ou obesidade podem ter deficiências nutricionais que afetam o metabolismo. Por isso, segundo o especialista, uma avaliação médica e laboratorial é essencial antes de qualquer mudança alimentar.
Como restabelecer o equilíbrio
O controle da fome e do peso corporal depende da harmonia entre corpo, mente e hormônios. Para recuperar o equilíbrio, especialistas recomendam alimentação rica em proteínas e fibras, sono de qualidade e controle do estresse. Evitar ultraprocessados e priorizar refeições completas e naturais ajuda a manter a liberação hormonal dentro dos níveis normais.
Quando os hormônios da fome e da saciedade funcionam de forma sincronizada, o corpo tende a buscar o equilíbrio de maneira natural — sem necessidade de dietas extremas ou privações exageradas.
Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!
Fonte: Metrópoles