Mesmo fora das eleições da Bolívia, Evo Morales tenta liderar partido

Mesmo sem concorrer no processo eleitoral, nem apoiar nenhum candidato, o ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, lidera o próprio partido nas eleições, na esperança de reconstruir capital político com o fim do governo do MAS (Movimento ao Socialismo).

Morales, que foi impedido de concorrer devido ao limite constitucional de mandatos, pediu que os bolivianos votassem nulo no primeiro turno da eleição presidencial. A votação teve um recorde de 20% de votos nulos, que foram comemorados por Morales. Desta vez, ele não pediu contestação da votação.

“Evo continua ileso como o eixo político da região produtora de coca. A partir daí, ele tenta se reorganizar, visando as eleições regionais de 2026”, disse à CNN o cientista político Franco Gamboa, pesquisador da UMSA (Universidade Mayor de San Andrés) em La Paz.

“Ele está desempenhando um papel importante, mas não decisivo”, acrescentou.

Disputa de candidatos

O atual presidente Luis Arce, ex-aliado de Morales, o acusou de tentar desestabilizar a disputa.

O ex-presidente respondeu nas últimas semanas que “garante” um segundo turno e enfatizou que não está convocando mobilizações no dia da eleição.

Arce e Morales deram sinais de desavenças desde o início de seus mandatos, que se materializaram em 2023 devido a divergências sobre a composição do gabinete.

Nem mesmo uma tentativa frustrada de golpe em 2024 levou à reconciliação, e ambos foram eliminados da disputa, sem nenhum candidato do MAS para captar os votos do setor.

Evo Morales também esclareceu que não apoia o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga, nem o senador Rodrigo Paz Pereira, vencedores do primeiro turno, a quem chamou de “chitacos” (servis) e criticou por buscarem apoio dos Estados Unidos e empréstimos de organismos internacionais.

“Deixem que se resolvam entre a direita, nós não vamos interferir”, afirmou Morales em seu programa de rádio.

Para o pesquisador da UMSA, Franco Gamboa, as acusações contra os candidatos não decorrem de um debate ideológico, mas sim de um cálculo político para deslegitimar o processo e reorganizar suas bases.

Crise política na Bolívia

Conhecido como “Capitão Lara”, um ex-policial e estrela do aplicativo TikTok ganhou notoriedade com denúncias nas redes sociais sobre suposta corrupção na polícia, que rejeitou as alegações. Um Tribunal Disciplinar o exonerou em 2024, sem direito à reintegração.

“Evo vê nele uma liderança populista autoritária semelhante à sua. Não são dois lados da mesma moeda; são uma camuflagem para o mesmo lado”, falou Gamboa.

Lara descreveu Morales como “um líder que ainda tem força” em entrevista à Rádio Activa, na qual evitou discutir os processos judiciais do ex-presidente.

Dias depois, quando questionado sobre rumores de afinidade entre os dois, Lara respondeu à Red Uno que “são atentados, uma guerra suja”.

“Temos uma verdadeira crise de liderança”, afirmou o cientista político Marcelo Arequipa, professor da UMSA, à CNN. “Não temos partidos políticos na Bolívia. Agora, ninguém fala do MAS como partido, como estrutura.”

O partido governista, após quase 20 anos interrompidos apenas pela presidência interina de Jeanine Áñez, competiu dividido, sem que nenhuma coligação alcançasse 10% dos votos, ficando em quarto e sexto lugares.

Morales, que foi impedido de concorrer a um cargo pela Justiça, renunciou em fevereiro ao MAS, partido que liderou por quase 30 anos.

O especialista acredita que, enquanto a esquerda não tiver uma organização sólida, “a janela de disponibilidade social permite o surgimento de uma liderança forte, mas de direita”.

A reestruturação do movimento, explicou o analista, deve envolver “um retorno às origens, aos territórios locais”, já que o movimento “surgiu do nível municipal, do nível local para o nível nacional”.

Um novo partido e uma possível prisão

Agora, Evo Morales pressiona pelo registro de seu partido, “Estamos Retornando Obedecendo ao Povo”, abreviado como EVO Pueblo, para concorrer no próximo ano.

“Ele tentará participar das eleições regionais de abril por todos os meios necessários. Só então verá como poderá reconstruir sua liderança nacional”, disse o pesquisador da UMSA, Franco Gamboa.

Assim, o ex-presidente avança a possibilidade de ser uma figura-chave na oposição ao novo governo, que deverá enfrentar meses extremamente difíceis, com crise cambial, inflação recorde nas últimas décadas e escassez de combustível.

Os dois candidatos do segundo turno, Jorge “Tuto” Quiroga e Rodrigo Paz, prometeram medidas de ajuste fiscal, o que prenuncia um cenário de agitação social. Esses fatores também tornam uma possível prisão de Evo Morales mais sensível politicamente.

Ele está sob investigação por suposto tráfico de pessoas, acusações que ele nega.

Os dois candidatos afirmaram que Morales deve enfrentar a justiça.

Quiroga afirmou que o ex-presidente “está escondido” na região do Chapare e prometeu que um mandado de prisão será executado, enquanto Paz sustentou que “como qualquer outro boliviano em nosso governo, ele estará sujeito ao peso da crise com o total apoio do Poder Executivo”.

“Quem quer que se torne o novo presidente terá sérias dificuldades para estabilizar a governabilidade”, afirmou Gamboa, que estima que a primeira etapa levará pelo menos alguns meses e que, mesmo que algumas redes de segurança social sejam mantidas, inevitavelmente haverá falta de recursos para as regiões.

“Como resultado, haverá uma reorganização das forças de Evo dentro do movimento dos cocaleiros. Isso tem um custo político muito alto. Será um terreno fértil para Evo reconstruir sua liderança.”

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