A insegurança alimentar afeta milhões de brasileiros, mas não de forma igual. Mulheres negras estão entre as mais vulneráveis tanto à desnutrição quanto à obesidade.
A constatação vem de um estudo publicado nesta quinta-feira (30/10) na revista Food Security, conduzido por pesquisadores das universidades federais da Paraíba (UFPB) e do Rio Grande do Norte (UFRN), além da Universidade de São Paulo (USP).
Entre pessoas em situação de insegurança alimentar, mulheres negras apresentaram 42% mais chance de obesidade em comparação a homens brancos com alimentação regular — grupo controle do estudo — e 41% mais chance de baixo peso. Já mulheres brancas na mesma condição mostraram 40% mais risco de obesidade.
A análise também revelou que, entre pessoas negras com insegurança alimentar, a obesidade foi mais comum entre mulheres (15,9%) do que entre homens (10,8%).
O que é insegurança alimentar?
- Insegurança alimentar é quando uma pessoa não tem acesso regular a alimentos em quantidade e qualidade suficientes.
- Fatores como pobreza, desemprego, mudanças climáticas e desperdício de alimentos estão entre as principais causas.
- O nível leve envolve preocupação ou incerteza sobre a disponibilidade e variedade dos alimentos.
- O nível moderado acontece quando a alimentação perde qualidade ou quantidade nas refeições.
- O nível grave representa a falta de comida suficiente, o que pode levar à fome e prejudicar a saúde.
Os resultados foram obtidos a partir dos dados de aproximadamente 46 mil brasileiros que participaram do Inquérito Nacional de Alimentação (INA), módulo integrante da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017–2018, realizada pelo IBGE.
Os pesquisadores aplicaram a lente da interseccionalidade, conceito que analisa como fatores como raça, gênero e condição socioeconômica se sobrepõem, ampliando desigualdades.
“Em vez de estudar esses marcadores separadamente, buscamos entender as nuances que eles produzem quando atuam juntos”, explica Sávio Marcelino Gomes, pesquisador da UFPB e principal autor do artigo, em comunicado.
Para Gomes, as desigualdades sociais também precisam estar no centro dos estudos sobre a chamada sindemia global — conceito que relaciona as mudanças climáticas à obesidade e à desnutrição. “Os efeitos desse fenômeno não atingem todos da mesma forma. Qualquer medida deve levar em conta essas desigualdades”, afirma.
Políticas públicas e novos caminhos
O estudo reforça a importância de políticas públicas que priorizem mulheres negras em situação de insegurança alimentar e integrem ações de combate à fome e à obesidade. Para os autores, essa abordagem é essencial para reduzir desigualdades e promover saúde de forma equitativa.
O grupo de pesquisa pretende ampliar a agenda interseccional em novas frentes. Uma delas é o estudo sobre insegurança alimentar entre pessoas trans na Paraíba, que busca evidenciar como a identidade de gênero influencia o acesso à alimentação adequada. Outra linha deve analisar como o ambiente alimentar se relaciona com essas desigualdades.
“O grupo está disponível para dialogar com gestores e produzir relatórios técnicos. A ideia é que as informações circulem de forma ativa e ajudem o poder público a traçar novos caminhos”, conclui Gomes.
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Fonte: Metrópoles
