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Paraskate no STU: Felipe Nunes leva o ouro para casa

Paraskate no STU: Felipe Nunes leva o ouro para casa

O Paraskate viveu neste domingo (26/10), no Parque da Cidade Sarah Kubitschek, em Brasília, uma das finais mais simbólicas da temporada 2025 do STU National Street Finals.

Na pista, o pódio consagrou três nomes que são, cada um à sua maneira, pilares da modalidade: Felipe Nunes, o multicampeão curitibano de projeção internacional, garantiu o ouro; Vini Sardi, fundador e voz ativa do movimento que busca levar o Paraskate às Paralimpíadas, ficou com a prata; e Ítalo Romano, lenda viva da modalidade, completou o pódio com a garra que o mantém no topo há mais de uma década.

Mais do que troféus, o que se viu foi a afirmação de um projeto coletivo. O Paraskate brasileiro hoje reconhecido como o mais estruturado do mundo transformou o que antes era um sonho de representatividade em uma engrenagem real: com regulamento próprio, federação ativa e atletas que desafiam não apenas a gravidade, mas também o olhar do público sobre o que é “limite”.

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“Agora ou nada”: a volta que coroou o campeão

Com um sorriso contido e o corpo ainda ofegante, Felipe Nunes, 26 anos, não escondeu a emoção ao descrever o que sentiu ao acertar a linha que lhe deu o título:

“Estou me sentindo muito feliz porque nos primeiros dias eu não consegui me adaptar muito com a pista, apesar dela estar perfeita. Ontem eu também não consegui andar bem, aí hoje eu vim bem cedo, treinei bastante, consegui fazer uma linha certa. Na primeira volta eu não acertei como queria, na segunda errei, e na terceira eu falei: ‘agora ou nada’. Fui pra cima e deu certo”

O campeão é conhecido por transformar pressão em precisão. Aos 26, Felipe já é considerado um dos maiores paraskatistas da história. Nasceu em Curitiba e perdeu as pernas aos 6 anos, após um acidente ferroviário. No entanto, foi no skate que encontrou sua forma mais pura de liberdade.

Skatista sem pernas realiza manobra aérea em pista azul e metálica, com torres e refletores ao fundo.Concentração total: Felipe Nunes alcança altura impressionante na transição

De lá pra cá, acumulou feitos que ultrapassam fronteiras: medalha de ouro no Dew Tour 2022 (Park e Street), capa da revista Thrasher e participação no clipe da banda Metallica, um dos maiores ícones do rock mundial.

Felipe é o paraskatista mais vitorioso do STU Street e, mais do que isso, tornou-se um símbolo de performance e inspiração.

Vini Sardi: o arquiteto de um movimento

Se Felipe é o corpo em movimento, Vini Sardi, vencedor da prata, é o cérebro e o coração do Paraskate brasileiro. Fundador da Associação Brasileira de Paraskate (ABPSK), ele é responsável por estruturar um modelo organizacional que hoje serve de exemplo para o mundo.

“Tô muito feliz porque hoje eu senti que me superei. Eu sou um cara do Park, e ficar em segundo no Street pra mim é surreal. Foi meu primeiro pódio no Street, e isso significa muito. Agora é focar em continuar evoluindo, mas sem deixar o Park de lado — lá eu tô em primeiro no ranking e quero fechar o ano como campeão.”

Vini Sardi, presidente da ABPSK, mostra técnica e precisão em manobra

Vini tem se dividido entre os bastidores e as competições, e faz isso com um objetivo claro: colocar o Paraskate nos Jogos Paralímpicos.

Sob sua liderança, a ABPSK organizou o Paraskate Tour, circuito nacional que já passou por São Paulo e Recife e reuniu dezenas de atletas com diferentes tipos de deficiência, incluindo a primeira bateria de paraskatistas visuais do mundo.

Ítalo Romano: o legado em movimento

Com 35 anos, Ítalo Romano é mais que atleta: é mito. Curitibano como Felipe, tornou-se referência mundial em 2011 ao ser o primeiro e único paraskatista a dropar a Megarampa do Bob Burnquist, um feito até hoje inédito.

Ítalo carrega o peso de quem abriu caminho quando o skate adaptado ainda era invisível. E em Brasília, depois de enfrentar uma lesão na perna, ele voltou ao pódio e à história.

Ítalo Romano mostra experiência e controle em manobra técnica

“Fiquei em terceiro lugar e estou muito grato, principalmente porque vinha de uma lesão. Estava preocupado, mas graças a Deus deu tudo certo. Dedico à minha família, à minha mulher e a todos que me apoiaram. Agora é focar na próxima etapa, no Park, onde estou em segundo lugar. Quero fechar o circuito com chave de ouro”, falou o diretor da ABPSK, que atua diretamente na formação de novos atletas.

O Paraskate como símbolo de futuro

Hoje, com mais de 60 atletas afiliados à ABPSK, o Brasil se consolida como a maior potência do mundo na modalidade, e é o único país a ter regulamentação técnica, rankings e etapas próprias para o skate adaptado.

O Paraskate é, antes de tudo, um manifesto. É o grito de quem transforma o que poderia ser fragilidade em força  e o que poderia ser obstáculo em arte.


Fonte: Metrópoles

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