A menopausa é caracterizada pelo último ciclo menstrual e, geralmente, ocorre entre os 45 e 55 anos. No entanto, os sintomas típicos decorrentes da queda dos hormônios femininos podem surgir anos antes, período chamado de perimenopausa.
As ondas de calor e as mudanças de humor são os sinais mais conhecidos desta fase, mas há outros sintomas que afetam milhares de mulheres, como o aumento do apetite e, até mesmo, a compulsão alimentar.
O tema foi discutido no Menopausa Summit, o maior evento dedicado à menopausa, saúde feminina, bem-estar, sexualidade e longevidade, organizado pela jornalista e comunicadora Maria Cândida. O encontro acontece nesta sexta-feira (17), véspera do Dia Mundial da Menopausa, no Unibes Cultural, em São Paulo.
De acordo com Dolores Pardini, endocrinologista e chefe do Ambulatório de Climatério e Menopausa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o aumento do apetite e da compulsão por alimentos ocorre devido à queda do nível de estrogênio, o principal hormônio feminino produzido pelos ovários.
“O estrogênio tem uma ação no cérebro, em uma região chamada hipotálamo. Nela, há o centro da fome e o centro da saciedade. O da fome estimula o apetite, enquanto o da saciedade faz a pessoa ficar satisfeita”, explica Pardini durante o evento, no qual a CNN esteve presente.
“Esses centros são mediados por uma série de outros hormônios fabricados no estômago e em outros órgãos. E o estrógeno também controla. Ele estimula o centro da saciedade e diminui o centro da fome. Além disso, ele aumenta o consumo energético”, completa.
No entanto, durante o período de climatério — que abrange a perimenopausa, a menopausa e o pós-menopausa — a produção do estrogênio é reduzida. Consequentemente, esse sistema fica em desequilíbrio, com a queda de outros hormônios e outros fatores que podem estar associados ao aumento do apetite em mulheres nesta fase da vida.
“Temos visto em estudos muito bem feitos que isso começa já na perimenopausa. Quatro ou cinco anos antes da última menstruação, a mulher já começa a ganhar massa gorda, que é a gordura, e a perder massa magra, que é o músculo”, explica Pardini.
O estrogênio, além de atuar nos núcleos da fome e da saciedade, também atua em eixos de prazer. Por isso, há a maior busca por alimentos mais prazerosos, com mais açúcar e gordura durante o climatério, conforme explica Luciano Giacaglia, endocrinologista e coordenador do Departamento de diabetes tipo 2 e pré-diabetes da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) durante o evento.
“Outra questão é o sono. O sono é importante para regular os hormônios. Quando temos insônia, há o aumento de um hormônio chamado grelina, que é o hormônio do apetite, e o bloqueio de outro hormônio chamado leptina, que inibe o apetite. Então, o comprometimento do sono leva a essa alteração hormonal”, afirma Giacaglia. A insônia é um dos sintomas comuns da menopausa.
Reposição hormonal pode ajudar no controle do apetite?
Uma das principais formas de tratamento da menopausa é a reposição hormonal, que consiste no uso de hormônios como estrogênio, testosterona e progesterona, a fim de restabelecer o equilíbrio e reduzir os sintomas decorrentes da queda desses hormônios — incluindo o aumento do apetite.
“Todas as questões fisiológicas fundamentais são reguladas pelo estrogênio. Hoje se discute se deve ou não deve ser feita a reposição hormonal. Salvo as exceções em que ela é contraindicada, a mulher não deve levar uma vida miserável. Com o acompanhamento adequado, com a visita periódica, tanto ao endocrinologista quanto ao ginecologista, podemos fazer a reposição hormonal”, afirma Pardini.
Menopausa pode desencadear transtorno de compulsão alimentar?
De acordo com Pardini, a menopausa pode, sim, ajudar no desenvolvimento de transtorno de compulsão alimentar, apesar de ainda não haver estudos que apontem uma relação direta entre as condições.
“Quando a pessoa vai envelhecendo, ela vai substituindo alguns prazeres. E tem mulheres que, infelizmente, são privadas, principalmente no serviço público, do uso de hormônios, porque eles são caros [e não estão disponíveis no SUS]. Com isso, ela não pode comprar, não toma o hormônio e acaba dormindo mal, acorda cansada, não faz caminhada, dorme separada do marido porque tem os fogachos e isso vai comprometendo o relacionamento, mexe com a autoestima”, avalia a endocrinologista.
Segundo Pardini, a mulher pode, muitas vezes, buscar prazeres que foram perdidos devido aos sintomas da menopausa nos alimentos, levando à compulsão.
“E não estamos falando apenas de alimentação. Álcool e compras compulsivas também podem acontecer”, afirma Giacaglia.
Uso de canetas emagrecedoras durante a menopausa pode ajudar a reduzir sintomas
O ganho de peso durante e após a menopausa é comum. Além da desregulação dos centros da saciedade e da fome, a queda do nível de estrogênio leva à redução da queima de calorias. Com isso, é mais fácil para mulheres nesta fase ganharem peso.
Inclusive, de acordo com Giacaglia, o diabetes tipo 2 e a obesidade são complicações de saúde comuns durante o climatério. Nesse sentido, um dos pontos de atenção é o acúmulo de gordura visceral, ou seja, na região abdominal, o que aumenta o risco para doenças cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
“A gordura abdominal produz uma inflamação que compromete não só o órgão onde ela está localizada, mas todo o organismo”, afirma o endocrinologista.
A prática de atividade física ajuda a produzir hormônios como dopamina e serotonina, que ajudam a controlar a compulsão alimentar, segundo Giacaglia, além de contribuir para a perda de peso.
Além disso, o uso de medicamentos para obesidade e diabetes, como as chamadas “canetas emagrecedoras” — Ozempic, Wegovy e Mounjaro — também pode ser eficaz para o emagrecimento e controle dos sintomas da menopausa, quando indicados e usados com acompanhamento médico.
“Nós sabemos que perder peso com o tratamento medicamentoso ou não leva ao alívio dos sintomas da menopausa. Então, aquela paciente que não pode fazer reposição hormonal, se ela perde peso, parte dos sintomas desaparecem ou reduzem muito”, afirma Luana Casari, endocrinologista e mestre em Saúde Pública pela Universidade de Harvard, também durante o Menopausa Summit.
No entanto, além do uso de medicamentos, a alimentação balanceada é fundamental para o controle do peso e do metabolismo durante a menopausa. De acordo com Lara Natacci, nutricionista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN), aumentar a ingestão de proteínas, carboidratos e fibras é importante para a manutenção da massa muscular nesta fase.
Além disso, vale apostar em ingredientes termogênicos, ou seja, que ajudam a acelerar o metabolismo basal, e antioxidantes, que contribuem para a redução da inflamação. É o caso do chá verde, guaraná-cipó e do hibisco, que podem ser encontrados em lojas de produtos naturais, conforme aponta Natália Colombo, nutricionista especialista em protocolos personalizados e fitoterapia.
“O guaraná-cipó tem um efeito termogênico superinteressante e também ajuda como adaptógeno [auxilia o organismo a se adaptar e lidar com o estresse]”, afirma Colombo. “Existem algumas outras plantas, como o hibisco, que tem um efeito diurético, e o citrus aurantium, que é um extrato derivado da laranja com efeito ativador de metabolismo”, completa.
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