A presidência da COP30 publicou neste sábado (8) a nona carta aberta à comunidade internacional solicitando respostas de governos e instituições às mudanças climáticas.
O documento, assinado pelo embaixador André Corrêa do Lago, presidente designado da COP30, se baseia em uma série de relatórios científicos recentes e mira diretamente a capacidade de cooperação internacional no momento em que delegações começam a chegar a Belém.
O texto define a COP30 como um ponto de inflexão para o regime climático global e solicita “coragem, cooperação e aceleração” para evitar a ultrapassagem de múltiplos pontos de inflexão planetários.
Conforme a carta, a ciência indica que o mundo já se aproxima de uma “zona de perigo” em que mudanças abruptas e irreversíveis no sistema climático podem gerar efeitos em cascata sobre ecossistemas, economias e instituições.
O desafio não é apenas identificar o que falta, mas mobilizar o que impulsiona – converter déficits de ambição, financiamento e tecnologia em forças de aceleração
Corrêa do Lago
A carta sublinha que a COP30 será a primeira conferência em que todo o ciclo de políticas do Acordo de Paris estará oficialmente em operação, após o fechamento do livro de regras na COP29.
Entram em vigor, integradamente, as NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas), os NAPs (Planos Nacionais de Adaptação), os BTRs (Relatórios Bienais de Transparência) e a ETF (Estrutura Aprimorada de Transparência).
A Presidência brasileira propõe uma mudança conceitual: acelerar a implementação passa a ser considerada a nova medida de ambição climática. O texto afirma que a resposta global não pode mais se limitar a metas de descarbonização — precisa integrar mitigação, adaptação, financiamento, tecnologia e capacitação.
A carta dedica um trecho central à Amazônia, que sediará o encontro. O bioma é descrito como um “ecossistema vital à beira de um ponto de inflexão irreversível”, combinando impactos do desmatamento e da elevação das temperaturas globais.
Conforme os dados citados, o Brasil registra o terceiro ano consecutivo de queda no desmatamento, com redução acumulada de 50% desde o início do atual governo.
Em Belém, a verdade deve encontrar a transformação, e a ciência deve tornar-se solidariedade. A COP30 pode ser a COP em que mudamos o rumo da luta climática.
Corrêa do Lago
O documento também destaca o papel do novo TFFF (Fundo Florestas Tropicais para Sempre), mecanismo baseado em resultados que remunerará países tropicais por área conservada. O Brasil já comprometeu US$ 1 bilhão e convida novos parceiros a aderirem.
A Presidência afirma que Belém reunirá “um ecossistema de soluções”, articulado em seis eixos temáticos — de florestas e oceanos a energia, transporte, cidades, finanças e tecnologia.
Esses eixos serão interligados por iniciativas de alto impacto, com foco em redução rápida de metano, restauração florestal e integração entre a transição climática e a transformação digital.
O texto cita a possibilidade de usar infraestrutura pública digital — como sistemas de dados, inteligência artificial e mecanismos de pagamentos — para acelerar políticas de adaptação, monitoramento e transição energética, especialmente em países em desenvolvimento.
O embaixador afirma que as consultas realizadas com países e delegações demonstraram “compromisso inabalável” com o multilateralismo e com o legado do Acordo de Paris.
A expectativa é que a COP30, que marca os 10 anos do pacto climático, consolide uma fase em que a governança climática deixe de ser apenas negociação e passe a se tornar implementação coordenada.
COP30 em Belém: o significado para o Brasil em sediar o encontro

