A relação entre o câncer de próstata e as doenças cardiovasculares vai além do fato de ambas afetarem homens a partir dos 50 anos. O câncer e as doenças do coração têm fatores de risco em comum, como envelhecimento, sedentarismo, obesidade e má alimentação. Por isso, é comum que as condições apareçam juntas e que influenciem a evolução uma da outra.
Com avanços no tratamento oncológico, os pacientes passaram a viver mais, mas também lidam com novas questões. Muitos acabam desenvolvendo ou piorando doenças cardíacas durante o tratamento, devido a alterações hormonais, inflamações persistentes e do efeito de medicamentos que reduzem a testosterona. Pesquisas mostram que pacientes com câncer de próstata têm duas vezes mais chances de morrer por doenças cardiovasculares do que pelo próprio tumor.
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Relação entre câncer de próstata e doenças cardiovasculares
A testosterona — hormônio produzido principalmente nos testículos — tem um papel importante na saúde masculina e está no centro da relação entre o câncer de próstata e as doenças cardiovasculares. Isso ocorre porque quando os níveis hormonais caem demais, o organismo passa por mudanças que afetam o sistema reprodutor e o coração.
Durante o tratamento do câncer de próstata, é comum que os pacientes precisem usar medicamentos que bloqueiam a produção de testosterona para frear o avanço do tumor. Mesmo que eficazes, essas terapias hormonais podem alterar o metabolismo e aumentar as chances de complicações cardiovasculares.
“Quando o câncer é diagnosticado cedo, muitas vezes a cirurgia é suficiente para curar o paciente sem necessidade de medicações que reduzem a testosterona, evitando também o aumento do risco cardiovascular”, explica o urologista Sérgio Andurte, da Oruclinic, em Brasília.
A testosterona baixa pode aumentar a resistência à insulina, favorecer o acúmulo de gordura abdominal e reduzir a massa muscular. Esses fatores elevam o risco de desenvolver diabetes, hipertensão e colesterol alto, condições que, juntas, favorecem o surgimento de doenças cardíacas.
Outros fatores de risco cardíaco
O bloqueio hormonal não é o único fator que afeta o coração. O próprio processo inflamatório do câncer, somado ao envelhecimento e ao uso prolongado das medicações, pode endurecer e estreitar as artérias do coração, o que favorece a formação de placas de gordura. Esse quadro aumenta as chances de infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
Ricardo Cals, coordenador de cardiologia do Hospital Santa Lúcia Norte, em Brasília, explica que é muito importante manter um acompanhamento médico integrado, principalmente com o cardiologista, para o controle dos parâmetros cardiovasculares.
“O paciente com câncer de próstata deve ser avaliado também pelo cardiologista. É essencial controlar os fatores de risco e seguir as metas de colesterol, glicose e pressão arterial definidas pelas diretrizes”, aconselha Cals.
Prevenção e hábitos saudáveis reduzem os riscos
A prevenção é o ponto em comum entre os cuidados com a próstata e o coração. Consultas periódicas, diagnóstico precoce e a manutenção dos níveis hormonais são indispensáveis para evitar a progressão das doenças.
Além disso, a adoção de hábitos saudáveis, como boa alimentação, prática regular de exercícios físicos, sono de qualidade e abandono do cigarro, são uma forma comprovada de reduzir o risco de ambas as condições.
Cuidado contínuo é essencial após o tratamento
O fim do tratamento do câncer de próstata não significa que os cuidados com a saúde podem ser deixados de lado. As alterações hormonais e metabólicas motivadas pela terapia podem persistir por meses ou anos, aumentando o risco de hipertensão, arritmias e acúmulo de gordura nas artérias.
Por isso, o acompanhamento com o cardiologista deve continuar mesmo após a remissão do tumor. Além dos exames de rotina, o controle do peso, da glicemia e da pressão arterial ajudam a prevenir complicações e a preservar a qualidade de vida.
“A gente não deve apenas focar no tratamento do tumor e esquecer do resto. O coração e o tratamento cardiovascular têm que andar juntos com o tumoral para aumentar a qualidade de vida e a expectativa de vida do paciente”, orienta Cals.
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Fonte: Metrópoles

