Entre os vários estímulos que chegam ao cérebro todos os dias, só alguns viram lembranças duradouras. O processo não é aleatório: o organismo usa critérios biológicos e psicológicos para decidir o que registrar com mais profundidade. Emoções, nível de atenção, qualidade do sono e até situações de estresse influenciam quais episódios ganham espaço na memória.
Essa escolha acontece em fases. Primeiro, a experiência é captada. Depois, precisa se fortalecer para permanecer por mais tempo. Informações consideradas pouco relevantes se dissipam com facilidade porque o cérebro privilegia aquilo que contribui para a aprendizagem e para a adaptação. Esse mecanismo evita sobrecarga e permite que o sistema mantenha o foco no que considera mais útil.
Leia também
-
Chá com erva popular favorece a saúde do cérebro e melhora a memória
-
3 alimentos para melhorar a memória e o foco, segundo nutricionista
-
Psicólogo revela hábito simples que ajuda na concentração e na memória
-
Tempero comum é um aliado para a memória, imunidade e saúde do coração
Como o cérebro faz a seleção de lembranças
Para decidir as lembranças que valem a pena guardar, o cérebro utiliza alguns critérios básicos. O primeiro envolve emoção, no qual situações que despertam medo, alegria intensa ou forte conexão afetiva ativam regiões ligadas à relevância. Isso aumenta a chance de que o episódio permaneça como uma memória duradoura.
A neuropsicóloga Leninha Wagner, de Florianópolis, explica que o cérebro usa pistas emocionais e contextuais para reforçar os registros.
“O cérebro privilegia aquilo que conversa com a nossa história interna. Emoções, contexto e repetição funcionam como códigos que informam o que merece atravessar do registro momentâneo para a memória mais estável”, afirma.
Outro critério básico é a atenção. Quando o foco está voltado para um acontecimento específico, o cérebro organiza melhor as informações e reforça a lembrança. Em momentos de distração, por pressa, multitarefa ou excesso de estímulos, a formação da memória fica falha e tende a se perder antes da fixação.
Além desses critérios básicos, episódios negativos ou associados a risco costumam ficar guardados por mais tempo. Em momentos de tensão, o organismo libera substâncias que intensificam o registro, deixando a lembrança marcada com detalhes claros. Esse mecanismo era útil para evitar ameaças no passado mas, hoje, explica a persistência das memórias difíceis.

As lembranças podem mudar ao longo do tempo
A lembrança não permanece idêntica ao dia em que foi criada. Sempre que ela é acessada, passa por uma fase de atualização. O cérebro reabre o registro, reorganiza informações e preenche lacunas com elementos do presente. Esse processo torna as lembranças suscetíveis à mudança, mesmo quando parecem muito vívidas.
André Sena Machado, psicólogo e membro do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro, destaca que essa flexibilidade não é um defeito, mas uma característica que acompanha a espécie desde os primeiros humanos.
“A memória nasceu como uma ferramenta de adaptação. Nas paisagens instáveis em que nossos ancestrais viviam, reconstruir partes de uma lembrança era mais útil do que manter cada detalhe fixo. Esse mecanismo ajudava a interpretar situações novas a partir de experiências antigas, mesmo que a exatidão se perdesse no caminho”, ressalta André.
Hábitos que ajudam a fortalecer a memória
Alguns comportamentos fortalecem o processo de transformar experiências em memórias duradouras. Uma noite de sono adequada oferece ao cérebro o tempo necessário para organizar e transferir informações para regiões mais estáveis do córtex.
Além disso, a repetição distribuída ao longo do tempo contribui para firmar conexões entre neurônios, o que permite que o conteúdo seja recuperado mais fácil. A redução de multitarefa e de estímulos digitais também ajuda, já que interrupções dificultam ainda mais a consolidação e favorecem lembranças fragmentadas.
Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!
Fonte: Metrópoles