Poderio militar da Venezuela é capaz de combater avanços dos EUA no Caribe?

O aumento das forças navais dos Estados Unidos no Caribe, reforçado pela chegada do porta-aviões USS Gerald R. Ford próximo à América Latina, tem levantado especulações de que tanto os EUA quanto a Venezuela podem estar se preparando para um conflito maior.

Embora os EUA tenham caracterizado a mobilização como uma ação voltada ao combate ao tráfico de drogas, alguns especialistas questionam por que tanto poder de fogo seria necessário se o único objetivo é combater embarcações do narcotráfico.

Observa-se também que a chegada do navio marca a maior presença militar americana na região desde a invasão do Panamá em 1989.

Além do próprio porta-aviões – descrito como a “plataforma de combate mais letal” da Marinha americana – os EUA reuniram cerca de 15 mil militares na região, junto com mais de uma dúzia de navios de guerra.

 

Os veículos marítimos incluem um cruzador, contratorpedeiros, um navio de comando de defesa aérea e antimísseis, e embarcações de assalto anfíbio, além de um submarino de ataque.

Os Estados Unidos também enviaram 10 caças F-35 para Porto Rico, que se tornou um centro de operações militares americanas como parte do aumento do foco no Caribe.

Esse poder de fogo evidencia o que especialistas caracterizam como equipamentos obsoletos da era soviética com os quais a Venezuela teria que contar caso o presidente dos EUA, Donald Trump, decidisse realizar uma ação militar dentro do país.

Uma imagem soviética forte, mas envelhecida

As Forças Armadas convencionais da Venezuela, as FANB (Forças Armadas Nacionais Bolivarianas), construíram nas últimas duas décadas uma reputação de potência militar regional superior à maioria de seus vizinhos na América Latina.

Grande parte dessa imagem foi forjada através da aquisição contínua de equipamentos russos sob o antecessor de Nicolás Maduro, o falecido presidente Hugo Chávez.


Um soldado da Milícia Bolivariana segura um lançador de mísseis terra-ar 9K338 "Igla-S" de fabricação russa durante um protesto contra a atividade militar dos EUA no Caribe, em Caracas, no dia 30 de outubro
Um soldado da Milícia Bolivariana segura um lançador de mísseis terra-ar 9K338 “Igla-S” de fabricação russa durante um protesto contra a atividade militar dos EUA no Caribe, em Caracas, no dia 30 de outubro • Federico Parra/AFP/Getty Images via CNN Newsource

Ele foi um ex-militar profissional que chegou ao poder graças ao movimento revolucionário que fundou dentro das Forças Armadas.

Depois que Chávez se tornou presidente em 1999 (sete anos após organizar uma tentativa fracassada de golpe militar), ele direcionou os vastos recursos petrolíferos do país para as Forças Armadas.

Chávez comprou equipamentos russos devido a um embargo informal dos EUA, e colocou militares em posições-chave do governo.

Como resultado, sistemas de armamento como caças Su-30, tanques de guerra T-72, mísseis antiaéreos S-300, Pechora e Buk, sistemas portáteis Igla-S e fuzis Kalashnikov – todos projetados na era soviética – passaram a definir a imagem das FANB.

A posse dessas armas diferenciou as FANB de outras forças militares da região, que tendem a depender mais de armamentos americanos ou europeus (embora a Venezuela ainda possua alguns equipamentos antigos de origem americana da época pré-Chávez).

Um tigre de papel?

O problema para a Venezuela é que, embora no papel possua forças militares relativamente bem equipadas, existem dúvidas sobre a manutenção de seus equipamentos e o treinamento dos soldados.

Essa preocupação surge principalmente porque o país sofre há mais de uma década com dificuldades econômicas, uma das maiores taxas de inflação do mundo e queda na produção de petróleo, tudo agravado pelas sanções americanas.

Em parte devido a esse colapso econômico, cerca de 7,9 milhões de venezuelanos – muitos deles jovens em idade de serviço militar – deixaram o país, segundo dados do ACNUR (Agência da ONU para Refugiados).

Embora o governo “tenha recentemente retomado modestos esforços de manutenção e modernização”, de acordo com um relatório de 2024 do IISS (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos), esses anos de subinvestimento deixaram suas marcas.

“As FANB têm um nível bastante baixo de capacidade operacional e disponibilidade de ativos, em parte porque passaram por mais de uma década de crise econômica no país”, disse à CNN Andrei Serbin Pont, analista especializado em defesa da organização de análise CRIES.


Pessoas caminham perto do sistema de mísseis terra-ar russo S-125 Neva/Pechora durante um desfile militar realizado como parte das comemorações do 213º aniversário da independência do país da Espanha, em Caracas, Venezuela, em julho de 2024
Pessoas caminham perto do sistema de mísseis terra-ar russo S-125 Neva/Pechora durante um desfile militar realizado como parte das comemorações do 213º aniversário da independência do país da Espanha, em Caracas, Venezuela, em julho de 2024 • Leonardo Fernandez Viloria/Reuters via CNN Newsource

Militares e milícia: Em números

Atualmente, as FANB contam com cerca de 123.000 militares ativos – Exército (63.000), Marinha (25.500), Força Aérea (11.500) e Guarda Nacional (23.000), segundo o IISS

Esses números são complementados por outros 8.000 reservistas.

Além das unidades militares regulares, a Venezuela pode contar com a Milícia Bolivariana – uma força de reserva formada por civis, criada por Chávez e batizada em homenagem a Simon Bolívar, o revolucionário que garantiu a independência de diversos países latino-americanos da Espanha.


Soldados descansam após participarem de um desfile militar do Dia da Independência em Caracas, Venezuela, em julho de 2023.
Soldados descansam após participarem de um desfile militar do Dia da Independência em Caracas, Venezuela, em julho de 2023 • Matias Delacroix/AP via CNN Newsource

No entanto, o verdadeiro tamanho da milícia é pouco transparente. Antes da recente mobilização dos EUA, o IISS estimava seu número em 220.000, mas em agosto Maduro afirmou que mobilizaria 4,5 milhões de milicianos em resposta.

Semanas depois, Maduro disse que esperava convocar um total de 8,2 milhões – embora especialistas tenham questionado tanto esse número quanto a qualidade do treinamento dos milicianos.

Exército: Leal, mas com excesso de oficiais?

Efetivo: Com 63.000 soldados, as forças terrestres da Venezuela representam a maior parcela de seus soldados ativos. Elas também têm a história mais longa e são as mais alinhadas politicamente com o governo venezuelano.

Além de Chávez, tanto o atual ministro do Interior, Diosdado Cabello, quanto o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, passaram pelo exército – e Padrino ainda é um general-chefe ativo.

Um indicador de quão entrelaçados estão o governo e o exército é o número incomum de generais e almirantes, com promoções sendo distribuídas por lealdade política.

Em 2019, esse número foi estimado em cerca de 2.000 pelo Almirante Craig Faller, então chefe do Comando Sul dos EUA, em um discurso ao Congresso americano. “Mais do que em toda a OTAN”, ele ressaltou. (Em comparação, em 2025, os EUA tinham cerca de 850 para Forças Armadas 10 vezes maiores).

“O Equador é um convento, a Colômbia é uma universidade, e a Venezuela é um quartel”, diz um antigo ditado, atribuído a Bolívar, que resume a relação dos venezuelanos com o exército.


As Forças Armadas da Venezuela e tanques do exército trafegam por uma rodovia durante um exercício militar em Caracas, Venezuela, em 20 de setembro
As Forças Armadas da Venezuela e tanques do exército trafegam por uma rodovia durante um exercício militar em Caracas, Venezuela, em 20 de setembro • Ivan McGregor/Anadolu/Getty Images via CNN Newsource

Armamento: Entre os sistemas notáveis comprados da Rússia nos últimos anos estão 92 tanques T-72B1 – similares aos que estão sendo usados na Ucrânia – e 123 veículos de combate de infantaria BMP-3, que equipam as brigadas blindadas ao lado de 81 tanques AMX-30 anteriormente adquiridos da França, segundo o IISS.

Os sistemas de artilharia incluem o obus autopropulsado russo Msta-S e lançadores de foguetes Smerch.

Comando: O Comandante Estratégico Operacional de todas as forças armadas da Venezuela é Domingo Antonio Hernández Lárez. Seu irmão, Major-General Johan Alexander Hernández Lárez, está no comando do exército.

Força Aérea: Alto padrão

Efetivo e armamento: Com 11.500 soldados, a Aviação Militar Bolivariana, ou Força Aérea, é a menor das forças do país, mas ocupa posição de destaque devido à aquisição de equipamentos russos que a diferenciaram entre os competidores regionais no Caribe e na maior parte da América Latina.


Um caça Sukhoi Su-30 de fabricação russa da Força Aérea Venezuelana sobrevoa Caracas em abril de 2013
Um caça Sukhoi Su-30 de fabricação russa da Força Aérea Venezuelana sobrevoa Caracas em abril de 2013 • Raul Arboldeda/AFP/Getty Images via CNN Newsource

O centro dessa força são os Sukhoi Su-30MK2, caças bimotor de alto desempenho que, mesmo desenvolvidos na década de 1980 pela União Soviética, permanecem incomparáveis na América Latina.

Em meados de setembro, a FANB compartilhou vídeos de dois de seus Su-30 armados com mísseis antinavio Kh-31, também de fabricação russa, em uma demonstração do que continua sendo seu sistema de armas mais avançado.

Acredita-se que a Venezuela tenha possuído 24 dessas aeronaves em determinado momento, mas pelo menos três sofreram acidentes, segundo o IISS.

A ONG venezuelana Control Ciudadano afirma que os acidentes destacam “problemas de obsolescência do sistema, manutenção e falta de peças de reposição.”

Os Su-30 coexistem com alguns antigos caças F-16 americanos que a Venezuela comprou antes de Chávez chegar ao poder.

A Venezuela também possui defesas aéreas russas que incluem 12 baterias de mísseis S-300 de longo alcance; 9 sistemas Buk e 44 Pechora, ambos de médio alcance; e numerosos lançadores portáteis Igla-S, segundo o IISS.

Essas defesas, embora avançadas, provavelmente seriam os primeiros alvos de um oponente em caso de conflito, disse Serbin Pont, o analista do CRIES.

Comando: O comando da força aérea está a cargo do Major-General Lenín Lorenzo Ramírez Villasmil.

Marinha: Ponto fraco?

Efetivo e armamento: A Marinha Bolivariana, cujos 25.500 soldados são encarregados principalmente de operações no Caribe, ficou para trás em relação às outras forças em termos de compras de armamentos nas últimas décadas.

Atualmente, a Marinha opera apenas uma fragata classe Mariscal Sucre (fabricada na Itália) e um submarino Type-209 (fabricado na Alemanha) em sua frota marítima, segundo o IISS.


Uma lancha de patrulha da Marinha venezuelana navega ao largo da costa caribenha em meio a tensões elevadas com os EUA, em Puerto Cabello, Venezuela, em 24 de outubro
Uma lancha de patrulha da Marinha venezuelana navega ao largo da costa caribenha em meio a tensões elevadas com os EUA, em Puerto Cabello, Venezuela, em 24 de outubro • Juan Carlos Hernandez/Reuters via CNN Newsource

O país também possui nove navios de patrulha oceânica e costeira, incluindo quatro comprados da Espanha.

“A Marinha perdeu muitos de seus ativos que tinha antes de Chávez, e estes não foram totalmente substituídos.

As corvetas compradas da Espanha nunca foram equipadas com armamento, até alguns anos atrás quando mísseis antinavio chilenos e iranianos foram instalados, mas elas não possuem sistemas viáveis de defesa antiaérea”, disse Serbin Pont.

Liderada por: O comando da Marinha Bolivariana está a cargo do Almirante Ashraf Suleimán Gutiérrez.

E as milícias?

Nas últimas semanas, Maduro tem repetidamente enfatizado o papel da Milícia Bolivariana, formada em 2008 por Chávez para fornecer uma força paramilitar leal.

Embora tecnicamente a milícia faça parte das Forças Armadas, o grupo está diretamente sob o controle do presidente.


Integrantes da Milícia Bolivariana formam durante um treinamento militar, em meio a crescentes tensões com os EUA, em Caracas, Venezuela, em 11 de outubro
Integrantes da Milícia Bolivariana formam durante um treinamento militar, em meio a crescentes tensões com os EUA, em Caracas, Venezuela, em 11 de outubro • Gaby Oraa/Reuters via CNN Newsource

Como um termo guarda-chuva para vários grupos que variam amplamente em experiência e capacidade, é difícil obter um número definitivo de quantas pessoas pertencem à Milícia Bolivariana.

Dias após a notícia do destacamento naval dos EUA, Maduro disse em agosto que iria “ativar mais de 4,5 milhões de milicianos” recrutados de “todas as fábricas e locais de trabalho do país.”

“Mísseis e rifles para a classe trabalhadora, para que possam defender nossa pátria”, disse ele.

Posteriormente, ele sugeriu que havia mais de 8 milhões de pessoas na milícia.

Além das discrepâncias nos números, Serbin Pont, analista especializado em defesa da organização de análise CRIES afirmou que, embora existissem algumas milícias tradicionais compostas por reservistas com experiência militar, a maioria dos grupos exibidos pelo governo na televisão e nas redes sociais era inexperiente demais para desempenhar um papel decisivo em combate.

“Essas pessoas não têm treinamento suficiente. Não existe uma estrutura armada real para mobilizar esses elementos, e esses elementos não seriam eficazes em combate”, disse Pont.

Seu verdadeiro uso, sugeriu o analista, era servir “como uma rede de inteligência e uma ameaça repressiva contra a população civil, precisamente por serem baseados em uma rede que penetra toda a sociedade.”

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