A prematuridade é hoje a principal causa de mortalidade infantil no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, o Ministério da Saúde estima que cerca de 340 mil bebês nasçam antes das 37 semanas todos os anos — aproximadamente 12% de todos os partos. Isso significa que milhares de famílias convivem com desafios que começam ainda na gestação e seguem pelos primeiros meses de vida da criança.
Especialistas explicam que a prematuridade ocorre por diferentes motivos e que a vigilância durante o pré-natal é essencial para reduzir os riscos. Mesmo quando o parto acontece antes do tempo, avanços tecnológicos e equipes treinadas em neonatologia têm permitido que bebês cada vez menores sobrevivam e alcancem um bom desenvolvimento.
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Sinais de alerta
O ginecologista e obstetra Arlley Cleverson, membro do conselho científico da ONG Prematuridade, explica que um dos sinais mais importantes de alerta é o aumento da frequência e da intensidade das contrações.
Embora as contrações de Braxton Hicks — conhecidas como de treinamento — sejam comuns no final do segundo trimestre, mudanças no ritmo e na dor precisam ser avaliadas.
“Esse aumento é um dos principais sinais de risco para trabalho de parto prematuro”, afirma. Alterações de corrimento também devem ser observadas, já que a disbiose vaginal pode indicar risco de infecções e até de ruptura prematura da bolsa.
Bebês prematuros exigem cuidados intensivos nas primeiras semanas para garantir desenvolvimento adequado
Como o pré-natal identifica e reduz riscos
Segundo o obstetra, o pré-natal consegue identificar precocemente quem tem mais risco de antecipar o parto. Entre os fatores considerados estão histórico de prematuridade anterior, procedimentos no colo do útero (como conização por HPV) e malformações uterinas.
A medição do colo por ultrassom transvaginal entre 20 e 24 semanas é fundamental: um colo menor que 25 mm aumenta muito a probabilidade de trabalho de parto antes das 34 semanas.
“Nesses casos, a progesterona vaginal é o principal método de prevenção. Quando há incompetência ístmo-cervical, a recomendação é realizar a cerclagem, que é basicamente costurar o colo do útero e evitar o parto prematuro ou aborto espontâneo”, explica Cleverson.
Quando o bebê nasce com menos de 28 semanas, ele é considerado extremamente prematuro e necessita de cuidados intensivos. O pulmão é o órgão mais vulnerável, e muitos precisam de suporte respiratório e do uso de surfactante para conseguir respirar melhor.
Esses bebês também têm risco maior de hemorragia cerebral, enterocolite necrotizante e infecções, exigindo monitorização contínua. O controle da temperatura é outra medida vital, já que prematuros perdem calor rapidamente, o que aumenta o risco de complicações graves.
Avanços que aumentam a sobrevivência
Nos últimos anos, o avanço das UTIs neonatais melhorou a sobrevivência desses bebês. Tecnologias como monitorização mais precisa e ultrassonografias específicas, como a transfontanela (exame de imagem não invasivo que avalia o cérebro de recém-nascidos), ajudam na identificação precoce de problemas.
Mesmo assim, um recurso simples continua sendo fundamental: o método canguru. O contato pele a pele com os pais favorece o desenvolvimento e aumenta as chances de recuperação.
Causas da prematuridade: o que diz a neonatologia
A pediatra neonatologista Ana Amélia Fialho, da Maternidade Brasília, destaca que as causas da prematuridade são variadas e nem sempre relacionadas a problemas graves. Podem ocorrer complicações maternas, como hipertensão, diabetes, infecção urinária, infecções no útero ou no líquido amniótico, sangramento por descolamento prematuro de placenta e malformações uterinas.
Fatores fetais — como gestações múltiplas e alterações cromossômicas — também podem antecipar o parto. “Idade materna antes dos 18 ou após os 40 anos, tabagismo, etilismo e uso de drogas aumentam ainda mais o risco”, afirma.
A médica reforça que bebês prematuros exigem cuidados específicos nos primeiros meses, especialmente por causa da imaturidade dos órgãos. Isso envolve atenção especial à respiração, ao risco de infecções, ao desenvolvimento do cérebro e da retina e à nutrição, muitas vezes iniciada por via intravenosa.
Muitos necessitam de suplementação de vitaminas, ferro e zinco. Além disso, o calendário vacinal é diferente, com imunizações específicas e indicações próprias. “Existe um calendário vacinal próprio para prematuros, com vacinas que ajudam a evitar reações graves”, explica Fialho.
Imunidade frágil e prevenção de infecções respiratórias
A imunidade fragilizada torna esses bebês mais vulneráveis a infecções respiratórias. Para prevenção dos quadros mais graves, a pediatra reforça a importância do nirsevimabe, um imunobiológico que reduz internações e complicações.
Com o tempo, os reflexos, o peso e a maturidade dos órgãos se igualam aos de outros recém-nascidos, e os cuidados passam a ser semelhantes. O processo de alta também é feito de maneira gradual. Os prematuros não vão diretamente da UTI para casa: antes, passam pela enfermaria, onde se estabilizam até que o quadro permita o retorno ao lar.
Mesmo quando a mãe já recebeu alta, ela permanece acompanhando o bebê todos os dias. Após a ida para casa, o acompanhamento pediátrico e neonatológico — chamado de puericultura — é fundamental para monitorar o crescimento e o desenvolvimento.
Além dos desafios físicos, a prematuridade tem forte impacto emocional. Medo, ansiedade e insegurança são comuns, especialmente quando o nascimento ocorre muito cedo. Por isso, o cuidado multiprofissional, com psicólogos, psiquiatras, ginecologistas, obstetras e pediatras, é essencial durante e após a internação.
Os especialistas concordam que é possível reduzir o risco de prematuridade com pré-natal adequado e equipe capacitada. Ela explica que mulheres que nasceram prematuras não têm necessariamente maior chance de ter filhos prematuros, mas quem já teve uma gestação prematura passa a ter risco aumentado de repetir o quadro.
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Fonte: Metrópoles
