A volta do Remo à Série A depois de 31 anos nasceu de um domingo que Belém dificilmente esquecerá. Para Guto Ferreira, técnico responsável por conduzir o Leão à elite, a classificação na última rodada da Série B foi a síntese de uma cidade inteira empurrando um time.
“É incrível. Descrever é impossível, só sentindo. A força dessa torcida é algo único”, começou o treinador em entrevista à CNN Brasil.
O Leão entrou em campo pressionado, precisando vencer e ainda depender de combinação paralela. A força da arquibancada, segundo Guto, sustentou o time mesmo após o gol cedo do Goiás.
“Mais de 50 mil pessoas empurrando. Não houve lamento em nenhum momento. Cada erro era incentivo. A energia entrou nos jogadores”, explicou.
O treinador detalhou o impacto emocional da virada. O intervalo, com o placar em 1 a 1, serviu para reorganizar a equipe. O gol da virada saiu aos 18 minutos do segundo tempo e, dali em diante, o Remo assumiu o controle psicológico da partida.
“Eu não queria estar na pele do Goiás. Jogamos com coragem de acertar. Criamos mais, nosso goleiro trabalhou menos e poderíamos ter feito mais gols”, avaliou.
A classificação, diz ele, é consequência de um processo construído com cultura, ambiente e comprometimento. “Talvez o segredo seja viver intensamente cada clube, entender o torcedor, a cidade, valorizar todos ao redor. Tenho uma comissão competente, executivos alinhados e presidentes que dão suporte. Mas quem resolve são os jogadores.”
A festa que tomou Belém confirmou a dimensão simbólica do acesso. Pelas ruas, nas imediações do estádio e dentro do Mangueirão, Guto testemunhou cenas que o marcaram, citando o peso da espera da fanática torcida pelo retorno à elite do Brasileirão.
“O ônibus ia passando e as pessoas paravam o carro para aplaudir. A torcida vinha crescendo quadra a quadra. Muita gente com camisas em homenagem ao pai e ao avô. O Remo é passado de geração em geração. A devoção é familiar.”
O treinador também mencionou o impacto cultural que o Remo carrega para a região Norte. “Muita gente de outros clubes torceu por sermos um representante do Norte voltando. O Brasil precisa redescobrir o futebol de Belém. A força dos clubes, a força do Leão Azul. Não é por acaso que chamam de Fenômeno Azul.”
“Belém tem uma espiritualidade própria. Não sei se a força é do Sírio ou se o Sírio é a força do próprio povo. Quem tem fé precisa vir sentir”
Guto Ferreira
Com a Série A batendo à porta em 2026 e com o calendário adiantado, Guto evita detalhar projeções, mas reconhece a urgência. Seu contrato termina no fim de 2025, e as conversas com a diretoria devem acontecer nos próximos dias.
“É preciso resolver rápido. A janela corre. No futebol, se o cavalo passar encilhado e você não sobe, não pega mais. A ideia é manter uma base forte e trazer peças pontuais. Remontar do zero é muito mais difícil.”
O acesso de 2025 é o quinto de sua carreira da Série B para a Série A, além de ter no currículo um ascenso da Série D para a C. “Especialista em subir”, o comandante prefere não vestir esse rótulo.
“Sinceramente, não sei qual é o segredo. Só sei que precisa ter cultura, união e caráter. Quando a energia conecta todo mundo para o mesmo lado, é difícil dar errado.”
Outras perguntas e respostas
Você tem cinco acessos da Série B para A. Qual o segredo desse histórico?
“Não sei se há um segredo. Vivo intensamente os clubes, valorizo todos os envolvidos e conto com uma comissão técnica competente e alinhada, além de presidentes que dão suporte. Mas quem faz a diferença são os jogadores.”
Como manter a tranquilidade quando o Remo sofreu gol cedo e dependia de outros resultados?
“A primeira coisa era focar na gente. Não adianta resultado fora sem fazer dentro. A energia da torcida não deixou o time se abalar. A cada erro vinha incentivo. Isso fez o time crescer.”
Como lidar com a oscilação na reta final?
“Todo mundo oscila. Tivemos três jogos ruins, dois empates e uma derrota, e podíamos ter ficado pelo caminho. Mas há coisas que só a espiritualidade explica. Trabalhamos muito e as coisas aconteceram.”
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