Mesmo sabendo que um filme é criado por roteiristas, interpretado por atores e produzido em cenários que não correspondem à realidade, muitas pessoas choram, riem, sentem medo ou experimentam sensações físicas diante de uma história fictícia. A reação não é exagero, é uma resposta do cérebro interpretando essas experiências como se fossem verdadeiras.
Essa resposta ocorre porque, ao acompanhar uma narrativa, o cérebro entra em um estado de imersão que reduz o filtro racional, permitindo um envolvimento afetivo maior. Assim, personagens inexistentes ganham relevância emocional e cenas simuladas despertam reações reais, desde tensão até alívio.
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Como o cérebro processa emoções em filmes
Ao assistir um filme, as primeiras estruturas a entrar em ação são as que compõem o sistema límbico, região ligada às emoções básicas. A amígdala é uma delas, ela avalia se a cena tem carga emocional — como medo, tensão ou tristeza.
Já a ínsula lida com sensações internas, como o aperto no peito ou o frio na barriga. O hipocampo, por sua vez, relaciona o que aparece na tela com lembranças já armazenadas, criando uma espécie de ponte entre a ficção e experiências pessoais.
A psicóloga Renata Zonta, do Hospital Brasília Águas Claras, da Rede Américas, explica que essas áreas cerebrais não diferenciam com precisão o que é real e o que é simbólico.
“O cérebro simula internamente aquilo que vemos na tela e reconstrói a experiência como se estivéssemos vivendo parte dela, mesmo sabendo que é simbolizada”, afirma Renata.
Outro ponto é que regiões do córtex ligadas à análise racional tendem a diminuir a atividade durante um filme. Esse fenômeno, conhecido como transporte narrativo, deixa a pessoa mais imersa na história e menos focada em checar se aquilo faz sentido na vida real.
Mesmo sabendo que é ficção, o cérebro reage aos filmes como se parte da experiência estivesse acontecendo de verdade
Empatia e identificação moldam a resposta emocional
Depois que o cérebro ativa estruturas emocionais durante um filme, outro processo passa a ganhar força. É a empatia que permite compreender o que o personagem sente e aproxima o espectador da história.
Os chamados neurônios espelho ajudam nesse mecanismo. Eles reproduzem internamente ações e expressões observadas na tela, o que facilita a percepção de dor, alegria ou tensão mostradas pela personagem.
Além disso, as redes cerebrais responsáveis por interpretar as intenções e estados internos também entram em funcionamento. Elas ajudam a imaginar o que cada personagem da história está pensando ou pretendendo fazer.
Narrativas bem construídas trabalham com temas universais, como medo de perder alguém, sensação de injustiça ou desejo de superação. Esses elementos provocam respostas emocionais mesmo quando o enredo está distante da vida do espectador.
“A imaginação cria simulações sobre o que pode acontecer e trabalha junto da memória, fazendo com que a história pareça mais verdadeira do que de fato é”, explica o neurocientista André Leão, de São Paulo.
Papel dos neurotransmissores nas emoções durante o filme
Dois neurotransmissores têm papel importante quando alguém acompanha uma história fictícia. O primeiro é a dopamina, substância ligada à sensação de antecipação e recompensa.
Sempre que a narrativa cria expectativa, como em cenas de suspense ou mudanças bruscas no roteiro, esse sistema de dopamina é ativado. É ele que ajuda a manter a atenção do espectador e a sensação de curiosidade sobre o próximo acontecimento.
O segundo neurotransmissor é a oxitocina. Ela tem relação com vínculos emocionais e com a sensação de proximidade afetiva. Nesse contexto, quando o público cria simpatia ou carinho por um personagem, essa substância aumenta e reforça ainda mais a conexão.
A presença desses dois sistemas juntos mantém o envolvimento emocional ao longo do filme e ajuda a explicar por que algumas histórias conseguem prender o espectador do início ao fim.
Então, da próxima vez que alguém começar a chorar copiosamente no cinema, saiba que a reação não é um exagero, mas sim uma reação natural do cérebro.
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Fonte: Metrópoles
