A série “Tremembé”, do Prime Video, reacendeu o interesse do público sobre os bastidores da famosa penitenciária paulista.
O jornalista e escritor Ulisses Campbell, autor dos livros “Suzane: Assassina e Manipuladora” e “Elize Matsunaga: A Mulher Que Esquartejou o Marido”, que inspiraram a produção, revelou detalhes sobre o cotidiano amoroso dentro das prisões.
Em suas investigações, Campbell descobriu a existência de um curioso método de paquera entre detentos, apelidado por eles de “Tinder do Xilindró”.
O “Tinder” das celas
Segundo Ulisses Campbell, os presos das unidades masculina e feminina de Tremembé, que ficam a cerca de cinco quilômetros de distância, criaram um sistema próprio para flertar e começar relacionamentos.
“Eles namoram muito por cartas, é impressionante”, contou o jornalista para a página Crimes do Brasil.
O processo começa quando um detento descobre, por meio de visitantes ou conhecidos, que uma mulher na ala feminina está solteira. Ele então escreve uma carta, se apresenta e envia uma foto, como se fosse um perfil de aplicativo de namoro.
Ulisses explicou que as correspondências passam por rigorosa triagem da administração prisional. As cartas são abertas e lidas por funcionárias da secretaria antes de chegar ao destinatário.
Caso contenham linguagem inapropriada ou fotos íntimas, o material é censurado ou bloqueado. “Se a foto for um nude, ela é barrada; se tiver palavrão, é riscado com caneta”, relatou. Após a verificação, a carta segue para a detenta, que decide se quer ou não responder.
Se a mulher se interessa, ela escreve uma nova carta, também com foto, e a troca de mensagens passa a ser constante. “Eles dizem que estão namorando assim, por cartas”, contou Ulisses.
Mas, assim como nos aplicativos de namoro fora das prisões, nem sempre o “match” dá certo: se a carta não for respondida, o preso simplesmente tenta com outra pessoa.
Campbell revelou que soube da prática enquanto pesquisava para seu livro sobre Suzane von Richthofen. Hospedado em um hotel próximo às penitenciárias, ele conheceu um ex-detento que havia vivido esse tipo de relacionamento por correspondência.
O homem lhe mostrou fotos e cartas trocadas com a namorada da prisão feminina, e até marcou um encontro com ela após ser libertado — que acabou em decepção, já que a aparência da parceira “não correspondia às fotos”.
“É um tipo de correio elegante que virou o Tinder deles”, explicou o jornalista. As trocas de cartas podem levar semanas para acontecer, já que o processo de censura e entrega é demorado, mas ainda assim o método continua ativo entre os detentos de Tremembé.

