A forma como a gordura se distribui no corpo pode dizer mais sobre o risco cardíaco do que o peso mostrado na balança. Essa é a conclusão de um estudo com 2.183 adultos entre 45 e 74 anos (43% mulheres), apresentado no congresso anual da Sociedade Radiológica da América do Norte (RSNA), que ocorreu de 30 de novembro a 4 de dezembro.
Os participantes não tinham histórico de doença cardiovascular, o que permitiu aos pesquisadores avaliar alterações sutis no coração antes de qualquer diagnóstico clínico. O objetivo do estudo foi comparar duas medidas diferentes: o IMC, que avalia o peso total, e a relação cintura-quadril, que indica onde a gordura está acumulada.
A equipe queria entender se a gordura localizada na barriga — muitas vezes chamada de obesidade abdominal ou “barriga de chope”— teria impacto próprio sobre a estrutura cardíaca. Para isso, todos os participantes passaram por exames detalhados de ressonância magnética do coração.
Os pesquisadores analisaram, principalmente, a massa do ventrículo esquerdo, os volumes das cavidades cardíacas e outras medidas que mostram como o coração se adapta a diferentes condições metabólicas.
Leia também
-
Gordura abdominal: 5 alimentos para acabar com a “barriguinha”
-
Ter mais músculo e menos gordura abdominal ajuda a preservar o cérebro
-
Chá antioxidante cuida do fígado e ajuda a reduzir gordura abdominal
-
Três alimentos que você deve cortar para perder gordura abdominal
Os resultados mostram que a gordura abdominal está associada a um padrão específico de remodelação do coração. A cada aumento de 0,1 ponto na relação cintura-quadril, os pesquisadores observaram:
- Aumento da massa do ventrículo esquerdo, indicando espessamento do músculo cardíaco.
- Redução dos volumes diastólicos dos ventrículos, o que significa que o coração passa a acomodar menos sangue a cada batida.
As alterações apareceram mesmo em pessoas sem qualquer doença cardíaca conhecida, o que sugere que a obesidade abdominal pode influenciar o coração de forma silenciosa e precoce.
Esse tipo de remodelação — músculo mais espesso e cavidades menores — é considerado mais preocupante porque costuma anteceder o surgimento de sintomas.
IMC tem efeitos diferentes no risco cardíaco
Já o IMC elevado, por outro lado, não apresentou o mesmo padrão. Pessoas com peso total mais alto, mas sem grande acúmulo de gordura abdominal, mostraram mudanças diferentes nas imagens cardíacas, sem o mesmo tipo de espessamento muscular. Isso reforça que duas pessoas com o mesmo peso podem ter riscos muito distintos, dependendo de onde a gordura está localizada.
O estudo também identificou diferenças entre homens e mulheres. Embora ambos os sexos apresentassem alterações ligadas à gordura abdominal, os efeitos foram mais fortes nos homens, possivelmente devido a padrões típicos de acumulação de gordura na região central do corpo.
Os autores destacam que esses achados não provam uma relação de causa e efeito. Ou seja, não significa que toda pessoa com gordura abdominal vai desenvolver doença cardíaca. Por ser um estudo observacional, ele mostra associações, não determina resultados inevitáveis. Ainda assim, o fato de essas alterações surgirem antes de sintomas preocupa os especialistas.
Por isso, os pesquisadores defendem que a avaliação do risco cardiovascular inclua, além do IMC, medidas simples como a circunferência da cintura e a relação cintura-quadril. Segundo eles, esses parâmetros podem ajudar a identificar quem tem maior probabilidade de desenvolver sobrecarga cardíaca no futuro.
As recomendações continuam valendo: alimentação equilibrada, atividade física regular e acompanhamento médico são medidas que reduzem tanto o acúmulo de gordura abdominal quanto o risco de alterações cardíacas. Mas, com os novos dados, acompanhar o aumento da circunferência da cintura ganha ainda mais relevância para detectar riscos precoces.
Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!
Fonte: Metrópoles

