O debate da política monetária do Federal Reserve está dividido entre dúvidas técnicas e “muita ansiedade política”, observou Roberto Padovani, economista-chefe do BV, em entrevista ao Capital Insights desta quinta-feira (25).
Mesmo num intervalo de 3,5% a 3,75%, os juros dos Estados Unidos estão em um nível acima das taxas historicamente baixas e incomodam o público norte-americano.
A esfera política tem pressionado o Banco Central dos EUA a reduzir os juros, com críticas contundentes partindo principalmente do presidente Donald Trump.
Padovani observa então que os dirigentes do Fed estão divididos entre o viez técnico, questionando o patamar de inflação que teima a convergir para a meta de 2%, e a questão política.
Fatores como o efeito do tarifaço de Trump na economia, um impulso fiscal promovido pelo “One Big, Beautiful Bill” do presidente, o mercado de trabalho com sinais mistos, a pressão ao mercado imobiliário e um potencial impulso da inteligência artificial à produtividade norte-americana são vistos de maneira diferente a depender do espectro político.
Quanto à IA, Padovani reconhece que a tecnologia é uma ruptura, porém questiona se os efeitos serão sentidos “já vem mês que vem”.
“Acho que este processo é mais lento e não deveria estar no cálculo de curtíssimo prazo”, ponderou.
Quando vê o Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto, o Copom norte-americano) dando sinalizações divididas sobre os juros, Padovani ressalta que o momento “causa muito incômodo” nos agentes econômicos.
“Estamos falando da maior economia do planeta e não tem nenhuma pista sobre o rumo da política monetária. Essa divisão reduz previsibilidade dos cenários”, concluiu.
O Capital Insights é fruto da parceria entre o CNN Money e a Broadcast, e entrevista semanalmente as principais vozes do mercado sobre o cenário econômico. O programa vai ao ar às 19h das quintas-feiras.
Banco Central do Brasil
Quando o assunto é o trabalho da política monetária brasileira, Padovani aponta a condução do Banco Central como uma “das melhores possíveis”.
O economista relembra que, em 2024, ao passar por um período de transição de comando, o mercado viveu um momento de ceticismo em relação ao BC.
O indicado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Roberto Campos Neto, passava o bastão para Gabriel Galípolo, nome de confiança do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Foi a primeira troca de presidentes com um BC autônomo.
Padovani ressalta que “havia uma incógnita para saber qual seria a política a ser seguida”, uma vez que o mercado questionava se Galípolo manteria a independência da autarquia ou se seria influenciado pelas críticas de Lula à política monetária.
“O que a gente viu foi um comprometimento muito sério do Banco Central com o centro da meta de 3%, com uma comunicação muito clara de que vai se buscar o centro da meta. Além de comunicar muito bem, as ações confirmam essa postura”, pontua o economista, destacando o choque monetário que levou a Selic, a taxa básica de juros do Brasil, a 15% e sua manutenção por longo prazo.
“A comunicação corrente é de um Banco Central que começa a ver melhorias, mas não vê expectativas ancoradas, o que aumenta a confiança da trajetória da dinâmica inflacionária”, conclui.
