Benício Xavier de Freitas, de 6 anos, morreu após receber uma dose de adrenalina na veia aplicada para tratar sintomas de crise respiratória. O episódio aconteceu na madrugada do dia 23 de novembro, em uma unidade hospitalar de Manaus.
O uso da adrenalina, medicamento geralmente associado a emergências cardíacas, possui diferenças cruciais de manipulação e indicação, especialmente em casos que envolvem problemas respiratórios.
Em uma análise sobre os possíveis efeitos do medicamento no corpo, o Dr. Anis Mitri – Cardiologista e Presidente da AHOSP (Associação de Hospitais do Estado de São Paulo) – detalhou as particularidades dos métodos inalatório e injetável.
Segundo o especialista, a principal diferença está na forma como a substância alcança o organismo, e o mais importante, na sua potência.
“A diferença é que na inalação você coloca a adrenalina dentro de um vaporizador, igual você faz na inalação para bronquite e asma, e aí essa adrenalina vai pelas gotículas de ar entrando pelas narinas. Então ela entra pela respiração, ela não entra na corrente sanguínea. A injeção entra na corrente sanguínea — ela pode entrar na corrente sanguínea ou muscular — e aí tem um efeito muito mais potente do que a inalatória,” explica o cardiologista.
Segundo o especialista, a via inalatória envolve a absorção de “micropartículas de adrenalina que vão entrando pela via respiratória.” Em contrapartida, quando injetada diretamente na corrente sanguínea, “o efeito é imediato e total, bem mais potente.”
O cardiologista ressaltou que as indicações para cada via são distintas, geralmente separando problemas circulatórios de respiratórios:
- Adrenalina Inalatória (tratamento respiratório):
“Quando você faz adrenalina inalatória, é para tratar doenças respiratórias, o que era o caso da criança. É para tratar doenças respiratórias como asma, bronquite, pneumonia, pneumonite, doença do bebê chiador, sintomas de insuficiência respiratória, pacientes que já receberam outras medicações chamadas broncodilatadoras — que servem para abrir o pulmão, dilatar o pulmão — e aí não fizeram efeito. Você usa adrenalina inalatória.” Ele adiciona que também é usada para pacientes com “algum problema na glote, que é um orgãozinho do esôfago que fecha a garganta e não deixa a passagem de ar aberta.”
- Injeção de Adrenalina (emergências circulatórias):
“A injeção de adrenalina você usa basicamente em pacientes que estão em parada cardiorrespiratória, pacientes que pararam o coração. Ela serve para problemas circulatórios e não respiratórios.”
Finalizando, o Dr. Mitri enfatizou a importância da escolha da via correta de administração, especialmente em um contexto de crise respiratória:
“No caso do menino, o mais indicado seria ter sido feita a via inalatória, porque era um problema respiratório. Então é contraindicado; não havia nenhuma indicação de ser feita a via circulatória, o que foi feito — e aí gerou óbito.”
