A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) vê risco de inflação mais alta em 2026, mesmo após o setor ter contribuído para segurar os preços em 2025. O diretor técnico da entidade, Bruno Lucchi, afirmou que o agronegócio ajudou a derrubar a inflação de alimentos no domicílio em 6,18 pontos percentuais neste ano, colaborando para que o IPCA ficasse em torno de 4,4%.
Para o próximo ano, porém, o cenário é considerado mais desafiador e passa diretamente pela política fiscal do governo.
Segundo Lucchi, o Boletim Focus mais recente, desta segunda-feira (8), projeta inflação próxima de 4% em 2026, mas o resultado pode ser mais alto se houver aumento de gastos públicos em ano eleitoral.
“O governo até agora não deu nenhuma manifestação de trabalhar controle de gastos, pelo contrário. Então, a gente acredita que ele pode aumentar gastos no próximo ano, e aí sim essa inflação ficar mais elevada”, afirmou em conversa com a imprensa após a coletiva sobre o balanço anual do agro nesta terça-feira (9).
A CNA avalia que a trajetória da taxa Selic só deve ceder com sinais claros de compromisso fiscal e redução do risco inflacionário.
Bruno destacou que o comportamento dos alimentos continuará sendo determinante no índice cheio. A carne bovina, que caiu cerca de 1,3% em 2025, segundo ele, pode subir em 2026 com menor oferta de animais em razão da retenção de fêmeas, mas a expansão de frango e suíno tende a suavizar o impacto para o consumidor.
“Pode aumentar [o preço]? Pode. Mas pode ficar abaixo do índice de inflação ainda. Vamos ter uma grande produção de suínos e aves, que crescem muito quando a carne bovina sobe. […] Os preços, principalmente da ração, de milho e soja, têm tendência de incremento mais no segundo semestre e mesmo assim não vão ser incrementos significativos”, afirmou.
Para o diretor, a estabilidade de preços dependerá também da capacidade do setor de manter investimento e produtividade, algo que esbarra no endividamento e no crédito caro.
O agronegócio encerra 2025 com inadimplência de 11,4% no crédito rural de mercado e orçamento de seguro limitado, o que aumenta a vulnerabilidade climática e financeira do produtor.
“Esse foi o ponto negativo do ano, que aumentou consideravelmente [o endividamento] em função de vários fatores e que hoje tem preocupado muito o setor produtivo”, disse. Segundo ele, isso ainda vai se repetir em 2026, pois “não é algo que a gente vai conseguir resolver no curto prazo”.
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