Escândalo de recrutamento ilegal para guerra da Rússia atinge África do Sul

A família do ex-presidente sul-africano, Jacob Zuma, pode estar em crise depois que sua filha mais velha acusou a meia-irmã de enganar 17 homens para lutar pela Rússia na Ucrânia.

A polêmica coloca em evidência o aumento do número de africanos recrutados para as forças militares da Rússia devido à escassez de soldados russos, bem como os laços estreitos entre Moscou e os veteranos do partido político Congresso Nacional Africano.

O ex-presidente sul-africano já foi parte do partido, que nasceu como um movimento de libertação pela democracia na África do Sul. Atualmente, ele faz parte do partido uMkhonto weSizwe

Jacob Zuma deixou o cargo de presidente em 2018, na sequência de uma série de escândalos de corrupção, e foi expulso do Congresso Nacional Africano em 2024. Recebeu treino militar na União Soviética durante o apartheid, um sistema institucionalizado de segregação racial na África do Sul que mantinha negros e brancos separados.

Quem é Zuma-Sambudla e do que é acusada?

Duduzile Zuma-Sambudla, é uma dos mais de 20 filhos do antigo líder sul-africano. Ela tem apoiado fortemente o presidente russo, Vladimir Putin, e expressou admiração por ele nas redes sociais.

Na semana passada, Zuma-Sambudla renunciou ao seu cargo no parlamento, onde representava o partido liderado pelo pai, após sua meia-irmã mais velha, Nkosazana Zuma-Mncube, apresentar uma queixa-crime contra ela.

A queixa surgiu depois do governo sul-africano ter começado a investigar como 17 cidadãos ficaram presos na região de Donbass, na Ucrânia, devastada pela guerra. O governo foi alertado para a situação depois dos homens terem pedido socorro para voltar para casa.

As autoridades revelaram em outubro que os homens foram “atraídos para se juntarem às forças mercenárias envolvidas na guerra Ucrânia-Rússia sob o pretexto de contratos de trabalho lucrativos”.

Zuma-Mncube alegou que as ações da meia-irmã mais nova e de dois outros indivíduos contribuíram para a situação dos homens. Zuma-Sambudla não respondeu publicamente às acusações.

Segundo a lei sul-africana, é ilegal servir em forças armadas estrangeiras sem a aprovação do governo.

A Aliança Democrática, o segundo maior partido político da África do Sul, também apresentou acusações criminais contra Zuma-Sambudla, após discussões com as famílias dos homens presos.

Zuma-Sambudla já enfrenta acusações separadas de incitamento ao terrorismo e violência pública.

Segundo os procuradores, ela supostamente incitou à violência nas redes sociais durante motins que resultaram em mais de 300 mortes, após a prisão de seu pai por desacato às acusações judiciais em 2021. O ex-presidente foi libertado em 2023. A filha mais nova se declarou inocente das acusações.


Filha de Zuma nega culpa por protestos mortais na África do Sul • Reuters

O parlamentar Chris Hattingh, porta-voz da Aliança Democrática para veteranos militares e de defesa, compartilhou as suas conclusões com a emissora nacional SABC.

“Tenho estado em contato com famílias e todos contam exatamente a mesma história”, disse ele, explicando que os homens “foram totalmente enganados” e “atraídos para a Rússia para desenvolvimento pessoal” sob o pretexto de “formação em segurança”.

Quando chegaram à Rússia, Hattingh continuou, “suas roupas e passaportes foram supostamente queimados, seus telefones foram levadose, finalmente, não há mais contato com eles”.

Em sua defesa, Zuma-Sambudla disse que não pretendia recrutar sul-africanos para servirem como mercenários no conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

Em um depoimento apresentado à polícia e citado pelo jornal local Daily News, ela afirmou que tinha sido enganada por alguém chamado “Khoza”, que entrou em contato com ela no WhatsApp, alegando ser uma cidadã sul-africana que vivia na Rússia e tinha ligações a um “programa de treino paramilitar legítimo” que não envolvia combate.

Zuma-Sambudla revelou que se alistou e participou no treino paramilitar na Rússia durante um mês e não foi exposta a quaisquer situações de combate, segundo o jornal.

Ela então recomendou que outras 22 pessoas, incluindo seus parentes, se inscrevessem no programa. Das 22 pessoas que viajaram inicialmente, 17 sul-africanos estão agora no norte de Donetsk como parte das forças russas.

“Com base na minha própria experiência, acreditei que o programa era legal e seguro. Mas eu também fui manipulada e usada para criar uma falsa impressão de legitimidade”, teria dito ela.

Zuma-Sambudla teria garantido que vai cooperar plenamente com as autoridades.

A polícia sul-africana anunciou que está investigando se “qualquer crime, incluindo possível tráfico de seres humanos, recrutamento ilegal, exploração ou fraude, pode ter contribuído para o deslocamento destes indivíduos para a zona de conflito”.

A CNN solicitou comentários do Ministério Militar e das Relações Exteriores da Rússia.

Em novembro, porém, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova, afirmou em uma coletiva de imprensa que a Rússia não tinha informações sobre os homens e ainda não tinha recebido qualquer comunicação do governo sul-africano sobre o assunto.

“Se houver um pedido deste tipo por parte de Pretória, estaremos prontos para considerá-lo de acordo com o procedimento existente, no espírito das relações de parceria estratégica existentes entre a Rússia e a África do Sul”, disse ela.

As autoridades russas negaram anteriormente ter pressionado estrangeiros para se alistarem nas forças armadas.

Um golpe de recrutamento ou uma manobra obscura do Kremlin?

Segundo o ministro das Relações Exteriores ucraniano, Andrii Sybiha, mais de 1.400 cidadãos de 36 países africanos lutam pela Rússia na Ucrânia. “A maioria deles é imediatamente enviada para ataques onde são rapidamente mortos”, afirmou Sybiha no mês passado.

As informações atuais sobre as perdas militares da Rússia são limitadas, mas as agências de inteligência ocidentais estimam que o Kremlin teve mais de 1 milhão de baixas, incluindo mais de 250.000 mortes, desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022.

O Ministério da Defesa do Reino Unido estima que aproximadamente 1.000 soldados russos são mortos ou feridos todos os dias.

Os acontecimentos recentes na África do Sul refletem as controvérsias no Quênia, onde as autoridades estão tentam garantir a libertação de mais de 200 dos seus cidadãos envolvidos no conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

O Ministério das Relações Exteriores do Quênia indicou que as redes de recrutamento continuam ativas no país da África Oriental. Na semana passada, o The Star, um jornal local, noticiou que um homem queniano foi morto enquanto lutava pela Rússia na Ucrânia, apenas um mês depois de chegar para trabalhar como motorista.

Os analistas sugerem que o recrutamento de mercenários africanos para reforçar as operações militares da Rússia na Ucrânia envolve não só o Kremlin, mas também recrutadores nas redes sociais que muitas vezes enganam potenciais candidatos sobre a natureza do trabalho.

Aqueles que revelam a verdadeira natureza do trabalho anunciam ofertas atraentes, incluindo vistos rápidos, salários de até US$ 2.500 por mês e assistência médica gratuita.

Paul Mudau, professor sênior de Direito Público, Constitucional e Internacional na Universidade da África do Sul, explicou: “Os golpistas lidam com a isca inicial, muitas vezes por meio de anúncios no Telegram ou no Facebook para ‘empregos’ na Rússia”.

No entanto, disse ele à CNN: “Assim que os recrutas chegam, são detidos pelas autoridades russas, forçados a assinar contratos em russo e enviados com formação mínima”.

Nutri dá 6 dicas para aproveitar as confraternizações com saúde

A temporada de festas chegou e com isso há muitas comidas calóricas, bebidas e o desafio de não colocar o projeto verão a perder....

Cardiologista ensina como saber se você está tendo um AVC

O acidente vascular cerebral (AVC) é uma das principais emergências médicas. Acontece quando o fluxo de sangue para uma área do cérebro é interrompido...

Federações começam ser articuladas para jogo eleitoral de 2026

O Brasil está há cerca de dez meses do dia em que a população precisará escolher seus representantes em nível federal e estadual. Mesmo...