O álcool está presente em grande parte das confraternizações, encontros com amigos e reuniões de família. Nessas situações, é comum surgir a dúvida sobre beber durante um tratamento medicamentoso, já que médicos e farmacêuticos orientam evitar a combinação. Mas, afinal, por que não devemos misturar álcool e remédios?
O hepatologista Henrique Rocha, do Hospital Brasília Águas Claras, explica que o risco começa no fígado, responsável por metabolizar tanto o álcool quanto grande parte dos medicamentos. Quando as duas substâncias são ingeridas juntas, ocorre uma espécie de competição pela metabolização.
“O fígado prioriza o álcool por se tratar de uma substância tóxica. Isso faz com que os remédios permaneçam circulando por mais tempo no organismo, o que pode aumentar a toxicidade e até provocar inflamação hepática”, afirma.
O prolongamento da ação medicamentosa nem sempre é positivo. Em vez de intensificar o efeito terapêutico, pode gerar sobrecarga no organismo e aumentar a chance de efeitos colaterais.
Riscos variam conforme o medicamento
A interação acontece em diferentes níveis, mas algumas classes exigem atenção redobrada. Analgésicos como o paracetamol, usados com frequência em automedicação, são citados como exemplo crítico.
“Quase todas as medicações têm risco de interação com o álcool. Analgésicos, antibióticos, antidepressivos, ansiolíticos e alguns anti-inflamatórios são os que mais preocupam, porque elevam o risco de danos ao fígado, sangramentos gastrointestinais e sedação excessiva”, explica Rocha.
Medicamentos para pressão arterial, diabetes e condições crônicas também podem ter sua ação comprometida, reduzindo a eficácia do tratamento.
Leia também
-
Carnaval: medicamentos e álcool não combinam! Veja os riscos
-
Cientistas descobrem molécula capaz de inibir vontade de beber álcool
-
Beber álcool em excesso aumenta risco de AVC precoce, diz estudo
-
Ozempic, Wegovy e Mounjaro podem reduzir vontade de beber, diz estudo
A farmacêutica Jaqueline Tiemi Watanabe, da Associação Nacional dos Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag), reforça que a interferência do álcool ocorre mesmo com pequenas quantidades.
“Não existe uma quantidade considerada segura. Mesmo pequenas doses podem prejudicar o tratamento, porque o álcool altera a biodisponibilidade da droga e pode diminuir ou até anular o efeito de alguns medicamentos”, explica.
O uso de medicamentos exige responsabilidade e atenção para garantir sua eficácia e segurança
Reações adversas e sinais de alerta
As reações variam de acordo com o medicamento e com a sensibilidade de cada pessoa, mas alguns sinais devem ser motivo de atenção. Tontura intensa, sonolência excessiva, confusão mental, náuseas persistentes, alteração de consciência, dificuldade para respirar e arritmias são considerados sinais de alerta.
“Se esses sintomas aparecerem após o uso combinado, é fundamental procurar atendimento médico e informar que houve ingestão de álcool junto ao remédio”, orienta Jaqueline.
Rocha lembra que nem sempre o corpo dá sinais claros de que algo está errado. Por isso, manter o álcool fora da rotina enquanto se estiver em tratamento continua sendo a medida mais segura. “A recomendação médica é abstinência total durante o tratamento”, conclui.
Fonte: Metrópoles
