Dormir bem é um dos pilares mais importantes para a saúde em todas as fases da vida. Na velhice, essa relação ganha ainda mais força. Um estudo publicado na revista Neurology em 7 de outubro revelou que a insônia crônica e padrões de sono desregulados podem estar associados a alterações cerebrais e a um risco maior de declínio cognitivo.
A pesquisa, conduzida por Diego Carvalho, neurologista da Clínica Mayo, nos Estados Unidos, acompanhou 2.750 adultos com média de 70 anos que não apresentavam problemas cognitivos no início da investigação. Desses, 16% tinham insônia crônica, definida como dificuldade para dormir pelo menos três noites por semana por três meses ou mais.
O que pode causar a insônia
- Expectativa e antecipação de eventos como viagens, reuniões ou provas podem dificultar o início do sono.
- Situações emocionais passageiras, como estresse ou excitação, interferem na manutenção do sono.
- Problemas clínicos e dor crônica atrapalham o descanso e favorecem despertares noturnos.
- Ansiedade e depressão alteram o ritmo do sono e podem manter o corpo em estado de alerta.
- Efeitos colaterais de alguns medicamentos prejudicam a qualidade do sono.
- Mudanças naturais do envelhecimento podem afetar o ritmo biológico e fragmentar o sono.
O que o estudo encontrou
Durante quase seis anos de acompanhamento, os participantes realizaram testes anuais de memória e raciocínio. Parte do grupo também passou por exames de ressonância magnética e tomografias por emissão de pósitrons (PET), capazes de identificar lesões cerebrais e acúmulo de proteínas relacionadas ao Alzheimer.
Os resultados mostraram que pessoas com insônia crônica tinham 40% mais probabilidade de desenvolver comprometimento cognitivo leve ou demência em comparação com quem dormia bem. Esse impacto equivale, segundo os autores, a cerca de três anos e meio extras de envelhecimento cerebral.
Imagens de ressonância mostraram ainda maior presença de lesões na substância branca, região do cérebro ligada à comunicação entre neurônios e funções como atenção e memória. Nos exames de PET, participantes com sono ruim apresentaram níveis mais altos de placas amiloides, proteína associada ao desenvolvimento do Alzheimer.
“Observamos um declínio mais rápido nas habilidades cognitivas e alterações no cérebro que sugerem que a insônia crônica pode ser um sinal de alerta precoce ou até mesmo um fator que contribui para futuros problemas cognitivos”, afirma Carvalho, em comunicado.
Para ele, o sono deve ser visto como um componente ativo de proteção, não apenas descanso. “Dormir não se trata apenas de repouso, mas também de resiliência cerebral”, diz.
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Outro achado chamou atenção dos pesquisadores. Participantes que relataram estar dormindo menos que o habitual nas duas semanas anteriores ao início do estudo tiveram pior desempenho cognitivo, equivalente ao de pessoas quatro anos mais velhas, além de maior acúmulo de amiloide. Já aqueles que dormiam mais que o normal apresentaram menos alterações na substância branca.
Acompanhamento é necessário
Embora o estudo não prove que a insônia causa problemas neurológicos, a associação encontrada reforça a necessidade de atenção e tratamento adequado. Para os autores, identificar padrões de sono pode ajudar médicos a detectar precocemente quem está em maior risco.
O estudo aponta para a importância de procurar orientação profissional quando as dificuldades para dormir passam a ser frequentes e persistentes.
A avaliação pode evitar que um sintoma aparentemente cotidiano se torne um fator silencioso de dano neurológico a longo prazo. “Tratar a insônia crônica não melhora apenas o dia seguinte, pode proteger o cérebro ao longo dos anos”, diz Carvalho.
Fonte: Metrópoles
