Por que o aumento da resistência antimicrobiana é tão preocupante

A RAM (resistência aos antimicrobianos) — fenômeno em que bactérias, vírus, fungos e parasitas deixam de responder aos medicamentos disponíveis — continua avançando. Esse processo ocorre naturalmente e faz parte do processo evolutivo relacionado à sobrevivência desses organismos. No entanto, o uso inadequado de medicamentos antimicrobianos está acelerando esse efeito ritmo alarmante.

Em 2023, uma em cada seis infecções bacterianas apresentou algum nível de tolerância aos antimicrobianos disponíveis, aponta relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) publicado em outubro. O material foi elaborado a partir de informações do Glass (Sistema Global de Vigilância da Resistência aos Antimicrobianos, da sigla em inglês) e revela que, em comparação a 2018, o aumento da resistência a esses fármacos ultrapassou 40%.

Hoje, o Sudeste Asiático e o Mediterrâneo Oriental concentram os níveis mais elevados desse tipo de resistência, com uma em cada três infecções já sem resposta aos tratamentos convencionais. No continente americano, o cenário, embora menos grave, é igualmente alarmante, com um a cada sete casos de infecções sendo causadas por microrganismos resistentes aos antimicrobianos.

No Brasil, dados do Ministério da Saúde sugerem que a RAM é responsável por cerca de 34 mil mortes a cada ano e contribui indiretamente para o agravamento de outros 138 mil quadros clínicos, que acabam em óbito por reduzir as chances de tratamento eficaz. Além disso, anualmente, o país registra 221 mil falecimentos por infecções bacterianas e 400 mil casos de sepse (infecção generalizada), o que evidencia a gravidade da situação.

Mecanismos biológicos de resistência

Por mais que a resistência dos microrganismos a compostos com atividade antimicrobiana sempre tenha existido na natureza, quando os seres humanos introduziram esses produtos na prática clínica, em meados do século 20, variantes resistentes aos princípios ativos mais usados passaram a ser selecionadas. Assim, esses grupos evoluíram perpetuando os organismos mais aptos a sobreviver às terapias antimicrobianas existentes.

Há diversos mecanismos biológicos que permitem aos microrganismos escaparem da ação dos tratamentos modernos. Entre eles, estão alterações na permeabilidade do envoltório celular, que dificultam a entrada dos fármacos; e mutações genéticas, que modificam os alvos dos antibióticos, impedindo que se liguem aos patógenos.

“Certas bactérias produzem enzimas capazes de degradar completamente os medicamentos, enquanto outras acionam bombas de efluxo que expulsam rapidamente os compostos terapêuticos de seu interior”, explica o farmacêutico-bioquímico Pedro Eduardo Almeida da Silva, professor da Furg (Universidade Federal do Rio Grande), no Rio Grande do Sul. Combinados, esses mecanismos tornam os tratamentos menos eficazes e favorecem a persistência das infecções.

Além das adaptações individuais, os microrganismos contam com estratégias que aceleram a disseminação da resistência. A transferência horizontal de genes permite que bactérias compartilhem fragmentos genéticos entre si, espalhando a capacidade de resistir mesmo entre espécies distintas. A formação de biofilmes (estruturas organizadas que revestem superfícies e protegem as células) também dificulta a ação dos medicamentos, criando barreiras físicas e químicas contra os antibióticos.

Empecilhos no combate

O aumento no número de casos de resistência antimicrobiana pode estar relacionado ao crescimento da população mundial e à desigualdade social. “Baixa higiene pessoal, saneamento básico precário e pouca adesão às campanhas de vacinação são questões que colocam a região em uma posição vulnerável ao problema”, avalia o infectologista Moacyr Silva Junior, do Einstein Hospital Israelita.

Quanto mais rápido é identificada a causa da infecção, maiores são as chances de garantir um tratamento eficiente ao paciente e menor o risco de utilizar antimicrobianos de forma inadequada. Embora os métodos tradicionais de microbiologia disponíveis hoje tenham alta acurácia para identificar a etiologia e o perfil de RAM, seus resultados demoram cerca de 48 a 72 horas para sair.

“Sem as devidas informações sobre a etiologia e o perfil de resistência do microrganismo responsável pela infecção, é comum que os clínicos acabem por prescrever um tratamento empírico com antimicrobiano que, muitas vezes, não é o mais indicado”, aponta o professor da Furg. “Atualmente estão disponíveis plataformas de diagnósticos rápidos e acurados, capazes de identificar o agente etiológico e seu perfil de resistência em poucas horas. Entretanto, essas tecnologias são, quase em sua totalidade, importadas, restringindo seu uso a grandes laboratórios e centros de saúde especializados.”

Outro fator que ajuda a explicar o aumento da resistência antimicrobiana é a automedicação. Não é raro ouvir relatos de pessoas que, mesmo instruídas a utilizar o remédio por certo número de dias, continuam tomando as doses por mais tempo, ou ainda voltam a usar o produto que sobrou na caixinha em outra situação, sem passar por avaliação médica.

A resistência torna os quadros de saúde mais complexos e pode levar a internações prolongadas e maiores custos direcionados ao tratamento. Em longo prazo, a ausência de antimicrobianos eficazes para prevenir as infecções poderá fazer com que procedimentos médicos essenciais, como transplante de órgãos, quimioterapia, controle de diabetes e cirurgias de grande porte, representem um alto risco para os pacientes.

“Não vivemos um cenário de calamidade. Contudo, os dados indicam que os médicos e a população em geral precisam ter mais consciência sobre a prescrição e o uso de antimicrobianos”, destaca Silva Junior. Isso diz respeito tanto a quadros simples de gripe ou resfriado quanto a procedimentos hospitalares mais complexos.

Mudanças são urgentes (e necessárias)

Repensar como os antimicrobianos são utilizados virou uma necessidade. “Assim como temos feito com os recursos naturais para minimizar os impactos na natureza, racionalizar os remédios serve para frear o avanço da resistência antimicrobiana”, avalia o médico do Einstein. O Brasil, inclusive, já conta com diversas iniciativas desenhadas para atingir tal objetivo por meio de boas práticas.

Um exemplo é a Diretriz Nacional para Implantação de Programa de Gerenciamento de Antimicrobianos em Serviços de Neonatologia e Pediatria, lançada em maio de 2025 pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Ela orienta a gestão estruturada do uso de antimicrobianos por meio de PGAs (Programas de Gerenciamento), que promovem prescrição adequada, revisão periódica da terapia, otimização de doses, escolha adequada da via de administração e acompanhamento multiprofissional. O documento destaca que educação continuada e conscientização também são fundamentais.

No âmbito individual, a principal medida preventiva é a vacinação. Imunizar-se contra uma doença bacteriana ou viral atenua o impacto da infecção e, com isso, diminui a necessidade de antimicrobianos. Lavar bem as mãos, colocar preservativo durante a relação sexual (oral, vaginal ou anal) e usar máscara em gripes e resfriados são outras práticas preventivas que podem ajudar a frear a circulação dos patógenos.

“A prevenção é chave para combater o avanço do problema”, conclui o médico infectologista. “Por isso, também é indicado o acompanhamento regular com clínicos gerais e médicos de família e comunidade.”

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