Indicadores e condições macroeconômicas neste fim de ano alimentaram a expectativa do mercado pela redução dos juros no Brasil. O IGP-M encerrou 2025 com deflação acumulada de 1,05%, surpreendendo os agentes financeiros, enquanto o dólar deve fechar o ano com recuo de mais de 10% frente ao real.
A conjuntura reforça as previsões de que a Selic, atualmente em 15% ao ano, passará a cair no primeiro trimestre de 2026. A dúvida é: quando? Economistas se dividem entre a primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, em janeiro, e o encontro subsequente, em março.
“O cenário de inflação se tornou muito favorável a partir da metade do ano, sobretudo pela queda do dólar, ajudando muito a política monetária do Banco Central, que está muito apertada”, destacou Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Way Investimentos.
Especialistas ressaltam que o ambiente mais favorável deve garantir com que algum dos dois cenários ponderados pelo mercado seja realizado, mas salientam que o BC ainda precisa manter os pés no chão.
“Estamos divididos entre janeiro e março de 2026, mas deve haver alguma cautela, no entanto, por conta dos problemas políticos e institucionais, assim como pela ainda delicada situação fiscal”, disse Julio Netto, economista da JHN Consulting.
Segundo os contratos mais recentes de opções de Copom divulgados pela B3, há 66% de chance de o BC manter os juros estáveis em janeiro, 27% de diminuir em 0,25 ponto percentual e 5% de cortar 0,50 ponto percentual.
Já em relação à reunião de março, as probabilidades majoritárias são de recuo de 0,25 p.p. (34%), diminuição de 0,50 p.p. (30,5%) e manutenção da taxa (27%).
“Eu acredito que o primeiro movimento será de corte de 0,25 ponto já em janeiro, mas, caso isso não aconteça e haja manutenção, espero que o Comitê reduza 0,50 ponto em março”, afirmou Alexandre Espírito Santo.
Por trás das quedas de IGP-M e dólar
O mercado esperava que o último IGP-M do ano tivesse variação positiva de 0,15%, mas foi registrado recuo mínimo de 0,1% no índice de dezembro, o que levou à queda acumulada de mais de 1% em 2025.
O desempenho do índice de preços da FGV está ligado diretamente às sucessivas desvalorizações do dólar diante do real. O IGP-M é composto por: Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA – 60%), Índice de Preços ao Consumidor (IPC – 30%) e Índice Nacional de Custo da Construção (INCC – 10%).
Ou seja, mais da metade da composição do IPG-M vem de preços aos produtores, que capta os valores no atacado de produtos industriais e agropecuários, como soja, milho, trigo, minério de ferro e petróleo. Os preços dessas commodities são fixados no mercado internacional em dólar.
“O IGP-M, principalmente através dos preços ao produtor, mostrou que a parte industrial entregou preços mais baixos. Isso, de fato, cria um ambiente de menor repasses e uma condição mais favorável ao corte de juros”, pontuou André Braz, coordenador de Índices de Preços do FGV Ibre.
O especialista, no entanto, pondera que a inflação sobre o orçamento familiar ainda pesa para a decisão do BC, apesar do alívio nos últimos meses com a queda de preços em alguns segmentos, como a alimentação.
“Como vimos no IPCA, preços monitorados e os preços dos serviços ainda ficam acima do intervalo de tolerância da meta [4,5%]. Os serviços respondem por 30% do orçamento familiar e estão com aumento médio de 6%, segundo o indicador oficial de inflação, enquanto os preços monitorados, que comprometem 25% do orçamento das famílias, têm alta acumulada de 5,5%”, explicou.
Essa ponderação é compartilhada por outros especialistas de mercado, que esperam a continuação da desaceleração da alta dos preços no Brasil.
“O cenário de inflação, hoje, está mais confortável pelo Banco Central, mas a vitória ainda não foi totalmente conquistada”, destacou Alexandre Espírito Santo.
André Braz revelou os ingredientes decisivos para um ciclo de queda dos juros mais consistente nos próximos meses: dólar em queda e oferta de commodities em alta.
“Câmbio e safras boas são decisivos para que em 2026 a gente tenha uma pressão menor nos preços dos alimentos e, com isso, condição de ver uma inflação mais baixa”, declarou.
“Foi uma boa notícia que o IGP-M antecipou para a sociedade, isso foi basicamente influenciado pelo comportamento do IPA, que registrou queda nos preços agrícolas e industriais, uma condição que a autoridade monetária deve considerar, mas temos que olhar com cautela os outros segmentos, principalmente serviços e preços monitorados, que ainda nem perto do intervalo da meta chegaram”, concluiu.

