“O Chile não está se desintegrando. Nós não somos os que promovem o ódio; pelo contrário, é por isso que não me escondo atrás de nenhum vidro, porque não tenho medo do povo chileno.”
Com essas palavras, Jeannette Jara, advogada e candidata à presidência pelo Partido Comunista do Chile, discursou para mais de 20 mil pessoas em seu comício de encerramento de campanha no bairro de Maipú, um dos mais populosos de Santiago.
Jeannette, que foi ministra do Trabalho durante o governo de Gabriel Boric, representa, para alguns especialistas, um fator crucial nas eleições presidenciais deste domingo (14).
Essa é a primeira vez em mais de 25 anos que o Partido Comunista consegue apresentar um candidato à presidência de La Moneda (o palácio presidencial) com o apoio de toda a coalizão de esquerda, após uma vitória expressiva nas primárias sobre Carolina Tohá (Partido Socialista), sua principal adversária e também ex-ministra durante o governo Boric.
Jara avançou para o segundo turno das eleições presidenciais, que disputa contra José Antonio Kast, do Partido Republicano.
Quem é Jeannette Jara?
Jeannette Alejandra Jara Román é uma política de 51 anos.
Nascida em 23 de abril de 1974, em Santiago, é a mais velha de cinco irmãos e passou a infância no bairro de Conchalí, na zona norte da cidade.
Filha de um mecânico e uma dona de casa, foi criada em um ambiente de esquerda.
“Venho de uma família trabalhadora e sei o que é acordar cedo para trabalhar e voltar tarde para casa, na esperança de que o sacrifício valha a pena”, declarou a candidata em um discurso no dia 8 de abril.
Ela se casou pela primeira vez aos 19 anos, mas ficou viúva aos 21.

Se tornou mãe aos 33 e, durante sua campanha, reafirmou seu sonho de um Chile “onde crianças e jovens não precisem trabalhar tanto para realizar seus sonhos”.
Sua plataforma de governo, por sua vez, se concentrará em três pilares: desenvolvimento impulsionado pela demanda interna, bairros dignos e cidadania plena.
“Esses eixos representam um compromisso com a reorganização das prioridades do modelo de desenvolvimento chileno, colocando o bem-estar das pessoas no centro e não os lucros de poucos”, afirma o programa.
Início de Jara na política
Em 1989, Jeannette Jara iniciou sua formação política na Juventude Comunista do Chile, onde permaneceu ativa até ingressar no Partido Comunista em 1999.
Pouco antes, Jara estudou Administração Pública na USACH (Universidade de Santiago do Chile), onde foi eleita presidente da Federação Estudantil em 1997.
Ela também estudou na Universidade Central do Chile, graduando-se em Direito em 2014.
Após concluir sua primeira graduação, Jara trabalhou no SII (Serviço de Receita Interna do Chile) como auditora e também foi líder sindical por vários anos.
No entanto, seu maior sucesso veio quando a ex-presidente Michelle Bachelet a nomeou subsecretária da Previdência Social durante seu segundo mandato, de 2016 a 2018.
Posteriormente, Jara dedicou-se à advocacia e ao ensino universitário. Ela também se candidatou à prefeitura do distrito de Conchalí, mas não obteve sucesso.

Com a chegada do governo de Gabriel Boric (a nova esquerda chilena), Jara foi nomeada Ministra do Trabalho e da Previdência Social, cargo a partir do qual conseguiu destravar um projeto histórico: a redução da jornada de trabalho de 45 para 40 horas semanais.
Apesar de ser integrante do Partido Comunista, diversos especialistas destacam sua capacidade de negociar acordos com a oposição política e o setor empresarial.
Mesmo assim, ela não se ausenta de críticas, principalmente em relação à posição do partido sobre Maduro e a Venezuela.
Ela afirmou que a Venezuela vive sob um regime autoritário e gradualmente se distanciou do partido; chegou a alertar que poderia suspender sua filiação caso fosse eleita presidente.
Após três anos, Jara deixou o governo Boric para se dedicar à campanha presidencial e se tornou a principal figura da esquerda chilena, tanto tradicional quanto progressista.
