O São Paulo foi atingido por um novo escândalo na segunda (15): um áudio revelou um suposto esquema de comercialização irregular de camarotes do Morumbis em dias de shows.
Segundo o material obtido pelo “ge.com”, Douglas Schwartzmann, diretor adjunto das categorias de base do São Paulo, e Mara Casares, diretora feminina, cultural e de eventos do clube (e ex-esposa do presidente Julio Casares), estariam envolvidos.
Na gravação, Schwartzmann admite que ele e outras pessoas teriam obtido ganhos financeiros com a prática.
Como situação chegou à Justiça
De acordo com o conteúdo dos áudios, o camarote 3A, identificado em documentos internos como “sala presidência”, teria sido repassado a uma intermediária, Rita de Cassia Adriana Prado, responsável por explorar comercialmente o espaço durante o show da cantora Shakira, em fevereiro.
Os ingressos chegaram a ser vendidos por até R$ 2,1 mil, com faturamento estimado em R$ 132 mil apenas nessa apresentação no estádio do São Paulo.
A situação ganhou contornos judiciais depois que Adriana ingressou com uma ação na 3ª Vara Cível de São Paulo contra Carolina Lima Cassemiro, da Cassemiro Eventos Ltda.
Adriana alega que Carolina reteve, sem autorização, um envelope com 60 ingressos do camarote no dia do show, após o pagamento parcial do valor combinado. O caso também foi registrado em boletim de ocorrência.
No áudio, Schwartzmann demonstra preocupação com as consequências do processo judicial e afirma que o esquema poderia ser revelado à Justiça.
Em diversos trechos, ele pressiona Adriana a retirar a ação, alertando para possíveis danos à imagem de Mara Casares, de Julio Casares e do superintendente Marcio Carlomagno, citado como responsável por autorizar a cessão do camarote.
O dirigente também admite, em determinado momento, que “ganhou” com o repasse de camarotes.
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Mara Casares, por sua vez, aparece na gravação pedindo que Adriana encerre o processo para evitar prejuízos à sua trajetória no São Paulo Futebol Clube. A diretora afirma ter planos futuros no São Paulo e diz que seria a principal prejudicada caso o caso avançasse judicialmente.
No processo, Adriana diz que Carolina pegou de suas mãos um envelope com os 60 ingressos do camarote 3A do Morumbis, no dia 13 de fevereiro, sem autorização. Ela afirma que os ingressos foram comprados pela empresa de Carolina por R$ 132 mil, mas apenas R$ 100 mil foram pagos.
Adriana registrou um Boletim de Ocorrência na 34ª Delegacia de Polícia, em São Paulo. Por isso, ela foi pressionada pelos demais envolvidos. Os registros de um telefone foram gravados e acessados pelo “ge.com”.
“Você nunca soube que era feito de forma clandestina?”: o que diziam os áudios?
“Você nunca soube que aquilo era feito de forma clandestina? A palavra é essa. Ou você não sabia? Você sabia ou não?”, pergunta Douglas Schwartzmann em um dos trechos.
“Eu não tenho camarote lá. Veio de quem? O que vai acontecer: a Mara vai ter que se explicar. Como é que faz no clube a hora que souber que ela te deu um camarote para explorar? Você vai acabar com a vida da Mara dentro do clube. E do Julio, porque ela é (ex) mulher do Julio”. completou.
Schwartzmann também menciona Marcio Carlomagno, nome forte do presidente Casares, superintendente geral do clube.
“E o Marcio vai ser mandado embora, porque foi ele quem concedeu o camarote para ela (Mara). Eu não tenho nada com isso, não tenho meu nome em nada. Não peguei camarote nenhum, não tenho nenhum documento lá. Agora, a Mara tem e o Marcio também. Quer prejudicar a Mara e o Marcio?”, questiona.
“Só queria entender o que você quer fazer com isso. O Márcio Carlomagno, CEO, me perguntou: ‘já encerrou o processo? O que nós vamos fazer? Eu vou ter que envolver o nome de todo mundo aqui, vou ter que declarar a verdade’. Acabou de me mandar. Eu falei: ‘não, fica tranquilo que a Mara está conversando com a Adriana, e ela vai retirar o processo’. Acabei de escrever. Aí você faz o que você quiser, eu não posso fazer mais nada. Eu não tenho como me envolver nisso”, seguiu o diretor.
Segundo o “ge.com”, a ligação foi gravada antes da sequência de shows no Morumbis de setembro a novembro deste ano.
Schwartzmann lembra da possibilidade de a “parceria” deles acabar antes das exibições de Imagine Dragons, Dua Lipa, Linkin Park e Oasis.
O diretor adjunto de futebol de base do São Paulo alerta para a possibilidade de Mara ser prejudicada. “É uma decisão sua, Adriana. É isso que a Mara quer saber. Se você vai foder ela ou se você vai ajudar. Só isso”, comenta Douglas. Adriana rebate diz que não “pretendo ferrar ninguém”.
Douglas também aconselhou a ex-esposa de Julio Casares.
“Mara, vou te dar um conselho, com todo respeito. Se não sair esse processo, você vai ter que testemunhar contra a Adriana. Você vai falar que não teve participação, que você nunca deu nada, que você foi lesada. Que nem sabia disso. Vai ter que ficar do lado da outra lá”.
De acordo com o “ge.com”, Adriana, Mara e Douglas não explicitam há quanto tempo faziam negócio nem a quantidade de camarotes que foram negociados.
Quem estava responsável pelo camarote
Em nota, o São Paulo confirmou que o camarote 3A pertence ao clube e informou que, no dia do show da Shakira, o espaço estava destinado à diretoria feminina, cultural e de eventos –dirigida por Mara.
O clube afirmou desconhecer o teor do áudio e negou a existência de qualquer esquema ilegal. Em nota posterior, reiterou que refuta a comercialização irregular do camarote.
O que dizem os citados
Mara Casares reconheceu que o espaço foi cedido à intermediária Adriana Prado, mas negou ter recebido qualquer benefício financeiro.
Segundo ela, a cessão ocorreu de forma pontual e baseada em uma relação de confiança, quebrada quando Adriana teria repassado o camarote a terceiros sem autorização. A dirigente afirmou ainda que chamou Douglas Schwartzmann apenas para auxiliá-la na tentativa de resolver o conflito.
Citado na gravação, Marcio Carlomagno declarou ter sido surpreendido pelo uso de seu nome e negou que o camarote tenha sido utilizado de forma clandestina.
Já Carolina Lima Cassemiro afirmou que não sabia da irregularidade do espaço e alegou ter sido enganada, sustentando que cumpriu o acordo firmado.
Douglas Schwartzmann e Rita de Cassia Adriana Prado não responderam aos contatos do “ge.com”.
Punições?
De acordo com o estatuto do São Paulo, condutas que causem dano à imagem do clube podem resultar em punições que vão de advertência à perda de mandato e inelegibilidade.
Advogados ouvidos pela reportagem do getv avaliam que o caso pode se enquadrar no crime de estelionato, previsto no artigo 171 do Código Penal, com pena de um a cinco anos de reclusão, além de multa.
Conselheiros que fazem parte da oposição à atual gestão do São Paulo pediram afastamento do presidente Julio Casares, diante do escândalo de venda ilegal de camarote no Morumbis.

