As salvaguardas criadas pela União Europeia no acordo com o Mercosul revelam a resistência do bloco europeu em abrir seu mercado para a competição em áreas consideradas sensíveis, especialmente no setor da agricultura. A análise foi feita por Ingo Plöger, presidente da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), durante participação no WW.
“É evidente que é um tema de competitividade direta. No momento que você interfere em preços, você está interferindo na competição de mercado. Então, a União Europeia não quer abrir uma competição nessas áreas sensíveis”, afirma.
O presidente da Abag destaca que a principal frustração para o Brasil não está apenas nas salvaguardas em si, mas na percepção de que a União Europeia não está considerando o acordo em uma perspectiva de médio e longo prazo.
Plöger aponta que essa resistência vem especificamente da França, que agora busca atrair outros países europeus para sua posição. “Quando a França entra com esse tema, ela traz consigo também a Polônia. E agora quer induzir a Itália a acompanhá-la. Se a Itália acompanhar esse momento, o acordo não vai sair nesta quinta-feira (18)”, alerta.
Para o especialista, existe um potencial desperdiçado nas relações entre os blocos. “Nós temos uma pauta fenomenal, se você pensar em novos elementos como a SAF, que é o combustível para aviões sustentáveis, ou os marítimos, que são pautas muito interessantes, além de projetos em conjunto na área da mobilidade”, exemplifica.
O presidente da Abag enfatiza que o problema maior está na dimensão geopolítica e na falta de visão estratégica da União Europeia sobre o potencial da parceria com o Mercosul. “Isso não entra na cabeça dos franceses. Os outros veem esse potencial”, conclui.

