O analista Lourival Sant’Anna explicou, no Agora CNN, os quatro pontos principais de divergência que impedem o avanço das negociações de cessar-fogo entre a Ucrânia e a Rússia. O primeiro e mais complexo ponto de discórdia é a questão territorial.
A Rússia exige que a Ucrânia aceite a anexação de quatro regiões: Zaporizhzhia, Kherson, Donetsk e Lugansk. O problema é que as forças russas ocupam apenas parcialmente esses territórios, e a Ucrânia se recusa a ceder áreas que a Rússia não conseguiu conquistar militarmente.
O segundo ponto refere-se à redução das forças armadas ucranianas. Moscou demanda uma diminuição drástica do contingente militar ucraniano, de um milhão para 600 mil soldados, além de exigir que a Ucrânia não receba ajuda externa. A proposta ucraniana de reduzir para 800 mil soldados não satisfez os russos, que argumentam que antes da guerra o país tinha apenas 200 mil militares.
Segurança e controle nuclear
O terceiro ponto crítico é a garantia de que a Ucrânia não entrará na Otan. Em recente reunião na Alemanha, segundo fontes americanas, os Estados Unidos ofereceram à Ucrânia garantias de segurança equivalentes ao artigo 5 da Otan, que prevê defesa mútua. Isso significa que, caso a Ucrânia continuasse sendo agredida pela Rússia após um acordo de cessar-fogo, os EUA e aliados da Otan defenderiam o país. Este avanço, no entanto, provavelmente será rejeitado pela Rússia.
O quarto ponto de divergência diz respeito à usina nuclear de Zaporizhia, a maior da Europa, atualmente controlada pela Rússia e considerada um risco para a Europa e para a Ucrânia. Não houve avanços nas negociações sobre o controle desta instalação estratégica.
Além desses quatro pontos principais, existem outras questões importantes em discussão, como a realização de eleições na Ucrânia. Volodymyr Zelensky já aceitou realizar eleições, mas condicionou isso a um cessar-fogo, que Vladimir Putin sinalizou que poderia oferecer. Zelensky também mencionou a possibilidade de realizar um referendo para consultar os ucranianos sobre a entrega de territórios, sabendo que a opinião pública ucraniana é majoritariamente contrária a essa concessão.
A postura de Putin continua sendo um obstáculo significativo. Em declaração recente, ele usou o termo “recuperar todas as terras russas originais”, expressão que remonta ao Império Russo e, na interpretação histórica russa, engloba toda a Ucrânia. Isso reforça a percepção de que Putin não reconhece a Ucrânia como um Estado soberano, visão categoricamente rejeitada pelos ucranianos.

