O senador acreano Alan Rick tem uma dívida de gratidão considerada impagável com o ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Foi ele quem interveio junto ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que liberou as redes sociais de Alan Rick (União-AC), após ele comentar a invasão aos poderes, em 8 de janeiro de 2023, como, segundo interpretou Moraes, incentivo os atos golpistas e tentativa de golpe de estado mesmo antes de assumir o cargo de senador.
À época o parlamentar acreano foi penalizado com o bloqueio de todos os seus perfis por, segundo Moraes, divulgar “conteúdos revestidos de ilicitude e tendentes a transgredir a integridade do processo eleitoral e a incentivar a realização de atos antidemocráticos”. Era o auge dos ataques golpistas e investigações que resultaram na perdas de mandatos, uso de tornozeleiras e até prisões.
Mas Alan, que não tinha qualquer influência junto ao STF, era deputado do baixo clero e inimigo do governo federal recém empossado. Conseguiu um milagre, apesar de todo o distanciamento da igreja: saiu ileso do processo.
Vale lembrar que a reversão da sentença de Moraes contra Alan evitou que o senador do Acre fosse incluído nas investigações que tornaram Bolsonaro inelegível, o puseram em prisão domiciliar e em vias de ser condenado.
Mas na República nada fica oculto por muito tempo. E a liberdade de Alan Rick lhe custou um preço. Um preço alto.
Há rumores de que o senador acreano somente abandonou a postura de bolsonarista extremista-radical em razão também da cirúrgica intervenção de Pacheco e do apoio velado do Palácio de Planalto.
Desde então (meados de janeiro de 2023), Rick cessou os ataques ao STF e ao sistema eleitoral brasileiro, tecendo comentários dentro do que se conhece como politicamente correto, embora tenha botado a cara num tímido ato pró anistia, em Rio Branco, e adotou postura amena. Pacheco é aliado incontestável de Lula.
À época, Pacheco sustentou que Alan Rick não expressou adesão aos atos, somente manifestou preocupação com a situação de crianças e pessoas idosas detidas.
O apelo convincente de Pacheco foi visto por Moraes como demonstração de “empenho com a defesa da Ordem Democrática e do Estado de Direito”.
Ou, em bom português: para os amigos do poder, os benefícios da lei. Para os inimigos, os rigores dela.
Alan se tornou amigo do poder e se distanciou da base bolsonarista que o elegeu.
Pacheco (PSD) é o pré-candidato de Lula ao governo de Minas Gerais em 2026, já sinalizada pelo senador, o que consolidaria palanque com Lula no segundo maior colégio eleitoral do país em 2026.
Embora sustente divergências com o Planalto, na mais estrita discrição, Alan Rick tem sido recebido por ministros, com os quais goza de certo prestígio, mas evita fazer agradecimentos velados ao presidente pela ajuda que tem dado ao Acre – esforço necessário para garantir o eleitorado bolsonarista que nega, naturalmente, tudo que seja bom como produto da política de esquerda.
Importante lembrar que o privilégio de emplacar agendas no primeiro escalão não existe entre parlamentares como Márcio Bittar, Coronel Ulisses e Roberto Duarte, personas non gratas nas portarias dos ministérios e autarquia públicas e amigos de Alan.
A verdade parece cristalina: Alan se livrou das investigações dos atos golpistas se aliando a Lula e se distanciando do bolsonarismo, mesmo dando uma unhada aqui ou ali para fingir apoio à extrema direita.
Alan só esqueceu, talvez por seu distanciamento do pastoreio, que a Bíblia é clara sobre ter lado em todas as situações da vida. Basta lembrar o versículo de Mateus 6:24, que diz: “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e a Mamom”.