Manifestantes realizaram protestos por toda a França na quarta-feira (10), interrompendo o trânsito, queimando latas de lixo e, entrando em confronto com a polícia, em uma tentativa de “bloquear tudo” em sinal de raiva contra a classe política e os cortes orçamentários planejados.
Os atos começaram dois dias após o primeiro-ministro, François Bayrou, perder um voto de confiança no Parlamento. O ex-premiê renunciou ao cargo na terça-feira (9).
O presidente da França, Emmanuel Macron, nomeou o ministro da Defesa da França conservador Sebastien Lecornu para ocupar o cargo.
As forças de segurança foram mobilizadas por todo o país para tentar remover quaisquer bloqueios o mais rápido possível, disseram autoridades, o que significa que a França, por enquanto, não está bloqueada. Quase 200 manifestantes foram presos em todo o país, e houve alguns confrontos.
Muitas pessoas expressaram sua raiva contra Macron, que já enfrenta turbulência política depois que a oposição parlamentar se uniu para derrotar seu governo na segunda-feira (8).
“O problema é Macron, não os ministros”, disse Fred, representante da filial de transporte público da RATP, do sindicato CGT, em um protesto em Paris.
“Os ministros são um problema, mas é mais o Macron e sua maneira de trabalhar, o que significa que ele tem que sair.”
Em Paris, a polícia disparou gás lacrimogêneo contra jovens manifestantes que bloqueavam a entrada de uma escola secundária e os bombeiros removeram objetos queimados de uma barricada.
A polícia disse ter impedido um grande grupo de cerca de mil manifestantes de entrar na estação de trem Gare du Nord, na cidade.
O Ministro do Interior, Bruno Retailleau, disse a repórteres que manifestantes incendiaram um ônibus na cidade de Rennes, no oeste do país. Ele também disse que alguns manifestantes atacaram a polícia com paralelepípedos pesados, mas não especificou onde.
Retailleau alertou que os protestos programados para mais tarde naquele dia poderiam ser infiltrados por grupos de linha dura e se tornarem violentos.
O movimento “Bloqueie Tudo” – uma ampla expressão de descontentamento sem uma liderança centralizada e uma organização improvisada por meio das mídias sociais – surgiu online em maio entre grupos de direita, disseram pesquisadores e autoridades, mas desde então foi dominado pela esquerda.
Descontentamento com o governo
O Parlamento destituiu o primeiro-ministro François Bayrou em um voto de confiança por seus planos de controlar a crescente dívida do país. Macron nomeou seu quinto primeiro-ministro em menos de dois anos na terça-feira (9), escolhendo um aliado próximo, Sébastien Lecornu, o que indignou políticos de esquerda.
Ao assumir o cargo, Lecornu disse que será necessária uma mudança política na França, e que o governo terá que conversar com partidos da oposição.
Um professor que participava dos protestos em Paris disse que era contra os cortes orçamentários planejados pelo governo deposto.
“Bayrou foi deposto, (agora) suas políticas devem ser eliminadas”, disse o professor Christophe Lalande, pedindo mais financiamento para escolas e hospitais.
Em outro protesto na cidade, o sindicalista Amar Lagha disse: “Este dia é uma mensagem para todos os trabalhadores deste país: que não há renúncia, a luta continua, e uma mensagem para este governo de que não vamos recuar e, se tivermos que morrer, morreremos de pé.”
Na cidade de Nantes, no oeste do país, manifestantes bloquearam uma rodovia queimando pneus e lixeiras. A polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar pessoas que tentavam ocupar uma rotatória.
Em Montpellier, no sudoeste, a polícia entrou em confronto com manifestantes que haviam montado uma barricada para bloquear o trânsito em uma rotatória. A polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes, alguns dos quais atiraram diversos objetos contra eles. Alguns manifestantes carregavam uma faixa com os dizeres: “Macron, renuncie”.
A operadora de rodovias Vinci relatou interrupções no trânsito em rodovias por todo o país, incluindo Marselha, Montpellier, Nantes e Lyon.
O movimento “Bloqueiem Tudo” reflete o descontentamento popular com o que os manifestantes consideram uma elite governante disfuncional pregando um evangelho doloroso de austeridade. O movimento está sendo comparado aos protestos dos “Coletes Amarelos” de 2018, que surgiram em razão dos aumentos nos preços dos combustíveis, mas se transformaram em um movimento mais amplo contra Macron e seus planos de reforma econômica.
Cerca de 50 pessoas encapuzadas tentaram iniciar um bloqueio em Bordeaux, enquanto em Toulouse, no sudoeste, um incêndio foi rapidamente extinto, mas ainda interrompeu o tráfego de trens, disse o ministro do Interior, Retailleau, a repórteres.
Ele disse que 80 mil forças de segurança foram mobilizadas em todo o país, incluindo 6.000 em Paris. A mídia francesa noticiou que 100.000 pessoas eram esperadas nas manifestações.