Análise: Controvérsias nas respostas de Trump sobre o caso Epstein

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode querer parar de falar sobre Jeffrey Epstein, mas isso não significa que o assunto esteja encerrado para ele.

“Não é a minha assinatura, não é a minha maneira de falar, e qualquer pessoa que me acompanhou por muito tempo… não, essa não é a minha linguagem”, disse Trump na noite de terça-feira (9) sobre uma carta assinada em seu nome para o 50º aniversário de Epstein, em 2003.

O presidente americano negou a legitimidade da carta desde que ela foi noticiada pela primeira vez pelo Wall Street Journal, em julho.

E ele continua tentando minimizar o caso Epstein depois que o Comitê de Supervisão da Câmara dos EUA divulgou registros, incluindo o chamado “livro de aniversário”, do espólio do criminoso sexual condenado no início desta semana.

“Eu não comento sobre algo que é um assunto morto. “Eu dei todos os comentários à equipe. É um assunto morto”, afirmou Trump à NBC News em uma breve entrevista por telefone na terça.

Mas o fato de o assunto continuar sendo comentado é, em grande parte, culpa do próprio Trump.

Diversas vezes, ele e seu governo prolongaram a controvérsia sobre Epstein dizendo coisas que não fazem sentido, mudando suas posições e, de outra forma, semeando questionamentos legítimos sobre a forma como lidaram com o assunto.

Às vezes, parece que eles estão tentando manter a situação desse jeito.

Abaixo estão alguns dos pontos mais curiosos da resposta do governo dos Estados Unidos sobre o caso Jeffrey Epstein e as perguntas que eles levantaram.

Carta de aniversário de Epstein

Seria difícil provar com absoluta certeza que Trump escreveu a carta de aniversário para Epstein. Mas o que sabemos é que suas negações não fazem sentido.

A carta apresenta uma estranha conversa imaginária entre os dois, digitada dentro do contorno de um corpo feminino.

Imediatamente após a publicação da matéria do Wall Street Journal, Trump pontuou: “Nunca desenhei um quadro na minha vida” e “Eu não desenho quadros”.

Só que ele claramente desenhou quadros sobre o período em questão. Mais tarde naquele mês, ele disse que “alguém poderia ter escrito uma carta e usado meu nome”.


Carta de aniversário de Jeffrey Epstein que teria sido assinada por Donald Trump
Carta de aniversário de Jeffrey Epstein que teria sido assinada por Donald Trump • Reprodução CNN Brasil

Mas o processo que foi aberto contra a empresa controladora do Journal alegou que a carta nem sequer existia, chamando-a de “carta inexistente”.

Agora sabemos que a carta não apenas existia, como também estava no espólio de Epstein. Isso certamente sugere que não se tratava de uma falsificação criada recentemente para prejudicar Trump; era algo que estava em posse do financista.

E, finalmente, logo após a divulgação da imagem da carta na segunda-feira (8), a Casa Branca alegou que a assinatura era tão diferente da de Trump que obviamente não era a dele. Exceto pelo fato de que correspondia muito bem às suas assinaturas em cartas pessoais do mesmo período.

Trump não enfrenta nenhuma acusação de irregularidade em relação a Epstein, mas ele tem feito alegações falsas sobre o criminoso sexual condenado e seu relacionamento com ele, o que torna cada vez mais difícil levar a sério suas negações sobre a carta.

Inexplicável transferência de Ghislaine Maxwell de prisão

Já se passaram 40 dias desde que soubemos que a cúmplice de Epstein, Ghislaine Maxwell, foi transferida para um campo de prisioneiros de segurança mínima.

Isso foi surpreendente por dois motivos. Um deles é que a notícia foi divulgada na época em que ela concedeu uma entrevista ao procurador-geral-adjunto Todd Blanche — um dos primeiros esforços do governo dos EUA para conter a reação negativa à decisão de revogar a divulgação de todos os arquivos de Epstein.

O outro é que, como criminosa sexual, ela não parecia elegível para tal transferência, a menos que alguém lhe concedesse uma isenção.

Mas, apesar da divulgação das transcrições dessa entrevista, o governo ainda não explicou como e por que a transferência de Maxwell ocorreu.

A Casa Branca afirmou em julho que Trump não estava considerando clemência para ela, mas o presidente deixou a porta aberta para isso por semanas.

Em entrevista à CNN na noite de segunda-feira (8), Arthur Aidala, advogado que representou Maxwell, não minimizou exatamente a ideia de que ela obteve uma concessão por conversar com Blanche.

“Qualquer pessoa representada por um advogado que saiba o que está fazendo, que se reúna com o governo, sempre há um quid pro quo“, disse Aidala a Abby Phillip, da CNN.

A expressão “quid pro quo” pode ser traduzida do latim como “trocar uma coisa por outra”.

Aidala ressaltou que não sabia dos detalhes de como a transferência ocorreu e que não organizou a reunião, mas afirmou que obter “um benefício” faz parte do processo.

Isso não resolve o problema. Mas se essa transferência para a prisão foi inocente e não tem ligação com a entrevista de Maxwell com Blanche, por que o governo não explicou isso?

Lenta divulgação de informações sobre uma das vítimas de Epstein

O segredo da comunicação de crise geralmente é divulgar qualquer coisa potencialmente ruim o mais rápido possível.

Essa definitivamente não foi a abordagem que Trump adotou em relação a Virginia Giuffre.

Giuffre, que se suicidou no início deste ano, é talvez a vítima mais conhecida de Epstein. Ela também é o elo mais significativo entre as vítimas do financista e o presidente dos Estados Unidos, porque testemunhou que Maxwell a recrutou enquanto ela trabalhava enquanto era menor de idade em Mar-a-Lago, uma propriedade de Trump.

O presidente finalmente reconheceu no mês passado que sabia que Maxwell havia recrutado Giuffre em sua propriedade; ele chegou a sugerir que essa era a causa de sua desavença com Epstein décadas atrás.

Mas essa admissão não veio antes de ele passar dias – anos, na verdade – sem conseguir revelar tudo.

Questionado em 2019 sobre o motivo do desentendimento entre ele e Epstein, Trump respondeu: “Francamente, o motivo não faz diferença”.

Em julho, a Casa Branca indicou que o desentendimento com Epstein se deu por ele ser um “esquisito”, sem especificar exatamente o que isso significava.

Em 28 de julho, Trump citou como Epstein havia “contratado ajudantes” e “roubado pessoas que trabalham para mim”, mas sem entrar em detalhes sobre quem.

Isso levou à especulação de que ele estava falando de Giuffre, visto que o relato dela correspondia à descrição de Trump. E, de fato, no dia seguinte, ele reconheceu que as funcionárias eram jovens mulheres que trabalhavam no spa – e que Giuffre era uma delas.

Mesmo reconhecendo isso, o republicano pareceu relutante em admitir completamente o fato.

“Não sei”, disse ele inicialmente quando questionado se estava se referindo a Giuffre. “Acho que ela trabalhava no spa. Acho que sim. Acho que era uma das pessoas. Sim, ele a roubou”, comentou.

Não é difícil imaginar por que o presidente não quis admitir que sabia que Maxwell havia recrutado Giuffre na época. Isso pode sugerir que ele sabia que algo desagradável estava acontecendo, especialmente considerando outras evidências de que ele sabia da afinidade de Epstein por mulheres jovens.

A família de Giuffre disse que os comentários de Trump levantaram questões sobre se ele estava “ciente das ações criminosas de Jeffrey Epstein e Ghislaine Maxwell”.

Momento “curioso” para reverter decisão sobre os arquivos Epstein

O governo dos Estados Unidos ainda não explicou bem por que mudou repentinamente de ideia sobre a divulgação dos arquivos do caso Epstein.

Trump e seus aliados construíram isso como uma iniciativa importante e prometeram total transparência, logo antes de o Departamento de Justiça americano anunciar, no início de julho, que não divulgaria mais nada.

O motivo alegado foi que o governo queria proteger vítimas e inocentes cujos nomes pudessem estar nos arquivos. Mas não deveria ser segredo que os arquivos conteriam informações sobre vítimas e inocentes.

E talvez o aspecto mais evidente dessa mudança de ideia seja quando foi feita.

Na verdade, a Casa Branca começou a minimizar os arquivos Epstein bem na época em que a procuradora-geral Pam Bondi informou a Trump que seu nome estava nos arquivos, em maio.

Trump foi informado disso em algum momento de maio, e em 18 de maio, o diretor do FBI, a agência federal de investigações dos EUA, Kash Patel, e o vice-diretor, Dan Bongino, foram à Fox News e, de repente, desmentiram as teorias da conspiração sobre Epstein que ambos haviam promovido. Eles disseram que Epstein de fato havia se suicidado.

Há também o fato de que Trump inicialmente negou ter sido informado de que seu nome estava nos arquivos – outro exemplo de suas negações sendo posteriormente desmentidas.

Tudo isso contribuiu para que algumas vítimas e aliados de Epstein sugerissem que há um encobrimento em andamento.

Muitos americanos parecem concordar que sim. E, na medida em que concordam, Trump e sua equipe têm a si mesmos como culpados.

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