Verba do “Oscar israelense” pode ser cortada após troféu de filme palestino

O ministro da cultura de Israel prometeu cortar o financiamento da academia de cinema do país e de sua premiação anual depois que um filme sobre o sonho de um garoto palestino de ver o oceano fez sucesso.

Na terça-feira (16), em Tel Aviv, a Academia Israelense de Cinema e Televisão concedeu o prêmio de Melhor Filme de 2025 a “O Mar” no Ophir Awards, conhecido como o “Oscar israelense”.

O filme, dirigido e escrito por Shai Carmeli Pollak e produzido por Baher Agbariya, acompanha a viagem de um garoto de sua casa em Ramallah, na Cisjordânia ocupada, até a cidade costeira de Tel Aviv.

Agora, ele está programado para representar Israel no Oscar na categoria Melhor Filme Internacional.

“O Mar” também ganhou outros quatro prêmios, incluindo o de melhor ator para Muhammad Ghazawi, de 13 anos, que se tornou o mais jovem a receber o prêmio. Khalifa Natour, que interpreta o pai do menino, ganhou o de melhor ator coadjuvante.

Durante a cerimônia, vários cineastas e indicados pediram o fim da guerra em Gaza, enquanto outros criticaram o governo israelense.

“Este filme é sobre o direito de toda criança de viver em paz, um direito básico do qual não abriremos mão”, disse Agbariya. “Somos todos iguais. Paz e igualdade não são uma ilusão, mas uma escolha possível aqui e agora.”

Carmeli Pollak, a diretora, não quis comentar quando contatada pela CNN.

guerra em Gaza foi tema de destaque no Emmy desta semana, onde atores como Hannah Einbinder e Javier Bardem pediram um cessar-fogo. Mais de 1.000 atores e diretores prometeram não trabalhar com instituições cinematográficas israelenses.

Para o roteirista britânico David Farr, assinar o compromisso é pessoal.

“Como descendente de sobreviventes do Holocausto, estou angustiado e enfurecido com as ações do Estado israelense, que há décadas impõe um sistema de apartheid ao povo palestino, cujas terras eles tomaram, e que agora perpetua o genocídio e a limpeza étnica em Gaza”, disse o roteirista de Night Manager em um comunicado.

No dia seguinte à cerimônia israelense, o Ministério da Cultura de Israel anunciou que retiraria o financiamento estatal para “a cerimônia vergonhosa”, a partir do ano que vem. O filme vencedor “apresenta a perspectiva palestina e retrata os soldados das Forças de Defesa de Israel (IDF) e o Estado de Israel de forma negativa”, afirmou o ministério.

O ministro da Cultura, Miki Zohar, descreveu a cerimônia e o prêmio como uma “cusparada na cara dos cidadãos israelenses”, acrescentando: “O fato de o filme vencedor retratar nossos heróicos soldados de forma difamatória e falsa enquanto lutam e arriscam suas vidas para nos proteger não surpreende mais ninguém”.

Mais tarde na quarta-feira (17), Zohar anunciou a criação do “Oscar do Estado Israelense”, uma nova cerimônia de premiação de filmes alternativos patrocinada pelo governo para homenagear criadores e filmes israelenses que “refletem os valores e o espírito da nação”.

Dando outra crítica ao Prêmio Ophir, Zohar disse que ele promove “narrativas estrangeiras e desconexas contra Israel e os soldados das FDI”.

Sem responder diretamente à ameaça, a Academia Israelense defendeu o processo de seleção como “conduzido por membros da academia, criadores, cineastas e figuras culturais, que escolhem o melhor do cinema israelense com um compromisso com a excelência cinematográfica, a liberdade artística e a liberdade de expressão”.

O presidente da Academia, Assaf Amir, acrescentou estar “orgulhoso de que um filme em árabe, fruto da cooperação entre judeus israelenses e palestinos, represente Israel no Oscar. O cinema israelense prova mais uma vez que é relevante e sensível a uma realidade complexa e dolorosa. Este é um filme sensível e empático sobre os seres humanos em geral, e sobre sua protagonista em particular – uma criança palestina cujo único desejo é chegar ao mar”.

Especialistas jurídicos questionam a legalidade do corte de verbas para a academia. Oded Feller, consultor jurídico da Associação pelos Direitos Civis em Israel, disse à CNN que o Zohar está “agitando ameaças vazias” e não tem autoridade para reter os fundos.

“O orçamento do ministério não pertence à mãe dele, e ele não tem autoridade para interferir no conteúdo cultural ou no julgamento profissional daqueles que selecionam os filmes”, disse Feller à CNN.

Zohar já entrou em conflito com a indústria cinematográfica antes.

No ano passado, o documentário conjunto israelense-palestino “No Other Land” ganhou o Oscar de Melhor Documentário. O filme acompanha a aldeia de Masafer Yatta, na Cisjordânia, onde a comunidade palestina enfrenta despejo e demolição pelas forças israelenses.

Os cineastas, Basel Adra e Yuval Abraham , usaram seus discursos de aceitação para destacar os efeitos das campanhas militares de Israel em Gaza e na Cisjordânia ocupada.

Adra disse que o filme “reflete a dura realidade que sofremos há décadas, uma realidade que continua até hoje, e pedimos ao mundo que tome medidas concretas para acabar com essa injustiça”.

Abraham pediu o fim da “terrível destruição de Gaza” e a libertação dos reféns israelenses.

“Criamos este filme juntos, palestinos e israelenses, porque juntos nossas vozes são mais fortes”, acrescentou.

A reação do governo israelense foi fortemente negativa, com Zohar chamando a vitória de “um momento lamentável para o mundo cinematográfico” e descrevendo o filme como “sabotagem” contra Israel.

Como a “música do verão” virou fenômeno cultural nos EUA

Irã apreende tripulantes de navio petroleiro no Golfo de Omã

Autoridades iranianas detiveram 18 tripulantes de um navio petroleiro estrangeiro apreendido no Golfo de Omã na sexta-feira (13) que, segundo elas, transportava seis milhões...

Prazo de 48h pressiona decisão de Hugo Motta sobre futuro de Zambelli

Com a notificação oficial na sexta-feira (12), o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), tem agora prazo para decidir sobre o futuro da deputada...

Labubu, iPhone e Canetinha: Veja os itens mais desejados no Brasil em 2025

O boneco Labubu, que se tornou febre entre os brasileiros, foi considerado o produto mais desejado do Brasil em 2025, segundo relatório do Google....