A crise de bebidas adulteradas com metanol foi um dos principais assuntos do Brasil na semana. São mais de 100 casos em investigação em pelo menos cinco estados e no DF, com uma morte já confirmada e outras sete ainda sendo analisadas.
Nesta sexta-feira (3), o Instituto de Criminalística de São Paulo confirmou a presença de metanol em duas garrafas de bebida alcoólica apreendidas pela Polícia Civil, em informação apurada pela CNN.
Também ontem, uma operação do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) de São Paulo prendeu um dos principais fornecedores de materiais para a produção de destilados adulterados. Os itens usados para produzir as falsificações de uísque, vodcas e gins eram armazenados em dois imóveis diferentes.
A CNN elencou os principais pontos sobre o caso.
Intoxicações
Segundo o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, são 113 casos suspeitos em todo o país, com 1 óbito confirmado e outros 11 suspeitos. A informação foi dada em entrevista à CNN nesta sexta-feira (3).
São cinco estados com casos suspeitos – São Paulo, Pernambuco, Bahia, Paraná e Mato Grosso do Sul – além do Distrito Federal.
Como identificar garrafas adulteradas
Em meio aos casos recentes de intoxicação por metanol relacionados ao consumo de bebida alcoólica em São Paulo, o presidente executivo da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurante), Paulo Solmucci, afirmou a importância de identificar garrafas falsificadas.
Paulo diz que a associação recomenda a busca por fornecedores de reputação, exigência de nota fiscal e desconfiança por preços muito abaixo do mercado são indicadores de produtos que podem ter sido adulterados.
Além das orientações com relação à compra das bebidas, o presidente da associação apontou recomendações para identificar se uma garrafa de bebida alcoólica foi ou não falsificada. “O rótulo de uma bebida mais sofisticada, que são normalmente falsificadas por ter maior preço e mais margem de ganho, são muito bem feitos — às vezes em alto-relevo — e, quem falsifica, não faz nessa qualidade“, declarou Paulo.
Veja imagens da perícia realizada em bebidas
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1 de 24Perícia em bebidas com suspeita de metanol • Cedidas/Governo de SP
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Trabalho das autoridades
Além das fiscalizações realizadas em bares e distribuidoras para identificar possíveis irregularidades, órgãos estaduais e federais mobilizaram uma série de ações de emergência:
- Sala de Situação
O Ministério da Saúde instalou uma “Sala de Situação”, na última quarta-feira (1), visando monitorar os casos de intoxicação por metanol decorrentes do consumo de bebida alcoólica e coordenar as medidas que precisam ser adotadas em resposta a esta crise.
A instalação da Sala de Situação foi motivada pelo cenário de aumento significativo de casos. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reforçou que a situação é “anormal e diferente de tudo o que consta na nossa série histórica”.
A Sala de Situação é definida como um espaço onde a informação em saúde será analisada sistematicamente por uma equipe técnica. O objetivo central dessa análise é caracterizar a situação de saúde da população intoxicada por metanol.
- Fechamento de estabelecimentos comerciais
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, solicitou que a Secretaria da Fazenda abrisse uma investigação contra estabelecimentos comerciais que comprovadamente comercializaram bebida com metanol e defendeu internamente o fechamento como medida pedagógica para que os demais saibam que, se for constatado o produto em suas bebidas, também serão fechados.
O processo já foi aberto pela Secretaria da Fazenda, que analisa os casos. Parte deles já tiveram a inscrição estadual suspensa.
Na prática, a ideia é cassar a Inscrição Estadual (IE) que é atribuída aos contribuintes paulistas de ICMS e que permite ao estabelecimento a emissão de Notas Fiscais. A Inscrição Estadual é feita no Cadastro de Contribuintes do ICMS do Estado de São Paulo (Cadesp) e é obrigatória para todo ponto comercial. Sem a inscrição, ela não pode atuar.
- Canal para denúncias
Já o Procon-SP lançou, também na última quarta-feira (1), um atalho em seu site para receber denúncias de adulteração. A medida faz parte da determinação do governador Tarcísio de Freitas e integra a força-tarefa do governo paulista após casos de contaminação e mortes confirmadas na capital e na Região Metropolitana de São Paulo.
Consumidores que identificarem produtos suspeitos em mercados ou bares podem acessar o site do Procon-SP e formalizar a denúncia. O sistema permite que o registro seja feito de forma anônima.
- Acionamento de autoridades internacionais
Diante do cenário, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) acionou autoridades reguladoras internacionais para trazer um antídoto contra a substância para o Brasil. Para viabilizar a disponibilidade do medicamento, conhecido como fomepizol, a agência de vigilância já consultou formalmente as autoridades sobre a autorização para comercializar o produto.
Segundo a agência, o medicamento não tem registro sanitário no país, fator que leva à busca por fornecedores em outros países para atender à demanda do SUS (Sistema Único de Saúde).
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Visando acelerar a importação do produto, a Anvisa também publicou um edital para identificar fabricantes e distribuidores internacionais com disponibilidade imediata para fornecer o medicamento ao Ministério da Saúde.
- Laboratórios para preparação de etanol
Em meio a tentativa de trazer o medicamento para o Brasil, a agência de vigilância identificou, em caráter emergencial, mais de 600 farmácias de manipulação com capacidade para preparar etanol em grau de pureza adequado para uso médico. Segundo a Anvisa, o produto pode ser considerado uma alternativa terapêutica ao fomepizol, caso haja necessidade.
Durante entrevista coletiva na quinta-feira (3), Padilha destacou que a nota técnica do governo reafirma o etanol farmacêutico como antídoto eficaz para o tratamento, desde que prescrito e acompanhado por médicos. Ele explicou que o governo federal já mantém estoques do produto em hospitais universitários e está ampliando a distribuição, para ficar disponível a qualquer estado ou unidade de saúde que necessite.
Recomendações
O MJSP (Ministério da Justiça e Segurança Pública) emitiu uma recomendação urgente aos estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas no estado de São Paulo e em regiões próximas. O documento do MJSP é direcionado a bares, restaurantes, casas noturnas, hotéis, organizadores de eventos, mercados, atacarejos, distribuidoras, plataformas de comércio eletrônico e aplicativos de entrega.
Em nota, o ministério recomendou atenção a itens com lacres tortos, erros evidentes de impressão e preços atipicamente baixos. O texto também alerta que devem ser tratados como suspeita de adulteração sintomas como visão turva, dor de cabeça e náusea.
Veja lista de quais cuidados necessários para reduzir os riscos de comprar bebidas adulteradas:
- Procure estabelecimentos conhecidos ou dos quais tenha referência
- Desconfie de preços muito baixos – no mínimo podem indicar alguma falha como sonegação e adulteração, por exemplo
- Observe a apresentação das embalagens e o aspecto do produto
- Ao notar alguma diferença, não fazer testes caseiros como cheirar, provar ou tentar queimar a bebida
- Comunique as autoridades competentes
- Exija sempre a nota fiscal ou comprovação de origem: documento precisa ter todas as informações de identificação do fornecedor e da compra, isso ajuda na rastreabilidade do produto
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