Taylor Swift pode saturar e ter o mesmo fim que a Marvel? Entenda

A cantora Taylor Swift, 35, acabou de lançar o 12º disco da carreira, “The Life of a Showgirl”, meses após rodar o mundo com a “The Eras Tour” — a turnê musical mais lucrativa da história, arrecadando mais de US$ 2 bilhões, segundo a revista comercial Pollstar. A artista também tem sido presença constante na mídia pelos lançamentos quase consecutivos de vários álbuns musicais, filmes de cinema e pelo noivado com o jogador de futebol americano Travis Kelce, 36.

Com “The Life of a Showgirl”, Taylor Swift apresenta uma versão menos sombria e triste dela mesma com letras mais alegres e divertidas em um disco e no filme homônimo, que chegou liderando a bilheteria nos Estados Unidos. A obra até fez com que ela quebrasse o recorde histórico de Adele de disco mais vendido no período de uma semana.

Mas nem tudo é um mar de rosas, isso porque o álbum recebeu opiniões mistas da crítica especializada. O jornal britânico The Guardian escreveu que, com exceção de algumas canções, as faixas “entram por um ouvido e saem por outro.” Já a revista norte-americana Rolling Stone afirmou que “Swift atinge todos os seus objetivos — desde novas e emocionantes reviravoltas sonoras até narrativas incisivas”.

Esse cenário levanta dúvidas: Taylor Swift estaria repetindo o caminho da Marvel, com excesso de lançamentos e sinais de fadiga? Afinal, ambas marcas têm produção em massa, uma base de fãs enorme e leal, além de produtos disponíveis ao público em períodos muito próximos. Para os especialistas ouvidos pela CNN Brasil, as pessoas podem estar, sim, se cansando de Taylor Swift assim como se cansaram do universo de super-heróis.

Mas, antes, uma contextualização sobre o que é saturação: Léo Morel, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e pesquisador musical, explica que a “brand fatigue”, ou fatiga de marca, ocorre quando “um artista ou produto cultural se torna onipresente, perde o senso de novidade e exclusividade que alimentava aquela empolgação inicial”.

“No caso de Taylor Swift, a superexposição atingiu níveis que geraram o fenômeno de ‘fadiga de Swift‘. Esse fenômeno ocorre quando a exposição constante leva à indiferença ou até irritação por parte dos fãs. Além da superexposição, a estagnação criativa é determinante. Quando um artista começa a repetir fórmulas sem apresentar novas ideias, a experiência se torna previsível”, pontua ele à reportagem.


Taylor Swift
Taylor Swift em performance da “The Eras Tour” • Kevin Winter/TAS24/Getty Images for TAS Rights Management

A comparação entre Taylor Swift e Marvel torna imprescindível a importância de avaliar a qualidade dos produtos junto ao período no qual são lançados, “embora a indústria da Marvel e Disney seja ainda mais acelerada do que o universo da Taylor”, segundo aponta Adriana Amaral, especialista em cultura pop e professora da UFF (Universidade Federal Fluminense).

“[Com a Taylor Swift] É um pouco do que aconteceu com a Marvel — que agora está retomando e voltando às origens, fazendo coisas menores. Essa tendência muito megalomaníaca [de ter vários lançamentos próximos e diversos] se dissipa nesses momentos, porque estamos vivendo um contexto sócio-histórico muito complicado, de guerra, por exemplo, mas os produtos culturais têm sua importância nesse contexto”, completa.

O professor da FGV ainda afirma que “embora os álbuns de Taylor Swift sejam obras independentes que não exijam acompanhamento de um universo compartilhado como a Marvel, a superexposição constante gera resultados negativos”. “Diferentemente da Marvel, Swift cultiva uma conexão emocional direta com seus fãs, mas mesmo essa lealdade tem limites quando a quantidade começa a comprometer a percepção de qualidade e autenticidade”, completa.

Simone Dreissen, professora-assistente na Universidade Erasmus de Roterdã e especialista em Taylor Swift, conta que as críticas à Taylor Swift tem aumentado. Isso ocorre, principalmente, após a cantora lançar filmes e cinco discos entre 2020 e 2025. Importante lembrar também como a “The Eras Tour” não só foi a turnê mais lucrativa da história, mas uma das mais longas: começou em 2023 e só acabou em dezembro de 2024. De quebra, os shows tinham mais de três horas de duração.

“Normalmente, sempre havia um intervalo de uns dois anos entre os discos. Agora, isso mudou um pouco, por algum motivo, mas também acho que ela está aproveitando esse momento para testar e ver se essa fórmula realmente funciona. Não acredito que vamos ter outro álbum dentro de um ano, talvez em dois anos, mas nunca se sabe com a Taylor Swift”, diz Simone.

O atual álbum pop e de uma fase feliz de Taylor Swift pode, para Simone, se traduzir em uma fadiga de marca: “Essa abundância, com ela presente em todas as manchetes há quase um ano e meio, junto da estratégia de marketing de deixar ‘Easter eggs’ para os fãs começarem a especular semanas antes do lançamento da música, somada ao fato de todos já estarem atentos a ela de qualquer forma — ainda mais com sua relação com Travis Kelce e o noivado — tudo isso a colocou em um tipo de holofote que raramente vemos, ou que só é possível um artista sustentar temporariamente.”

Adriana ainda ressalta que “o pop sempre viveu de abundâncias” nos números e até nas performances. “Talvez o desgaste pela repetição [afetaria Taylor Swift], mas não necessariamente a abundância. Quem curte o pop, quer que esse ritmo seja totalmente popularizado”, completa.

E qual o papel do fã clube para impedir que essa fadiga aconteça? Para Morel, esse grupo pode oferecer uma “proteção poderosa” contra a saturação de mercado por ter uma base de consumo garantida e uma defesa ativa do artista. No entanto, essa proteção tem limites, especialmente quando a superexposição se torna excessiva.

“No caso de Taylor Swift, os ‘Swifties’ têm demonstrado sinais de fadiga e frustração com a prolixidade das letras e a falta de inovação musical. Embora Swift tenha construído uma relação profundamente pessoal ao longo de quase duas décadas, transformando as regravações em uma missão coletiva, a percepção crescente de que ela está ‘tentando muito’ e produzindo de forma excessiva pode eventualmente erodir essa conexão emocional, limitando a capacidade do fandom de protegê-la da saturação”, diz ele. 

Taylor Swift reflete os tempos?


Taylor Swift durante apresentação da “The Eras Tour” • Kevin Mazur/Getty Images

A questão da fadiga não se limite apenas à quantidade de lançamentos ou presença nas redes sociais. Afinal, se por um lado Taylor Swift pode se expor demais, por outro, ela pode não seguir os conselhos da cantora Nina Simone. A dona de músicas como “Feeling Good” e “I Put a Spell On You” dizia que “o dever de um artista era refletir os tempos”. Para a professora, a loirinha não se posicionar sobre conflitos internacionais, como o da Faixa de Gaza e às recentes turbulências na gestão do presidente norte-americano Donald Trump, também afeta a imagem dela.

“Ela ainda é crítica em alguns pontos, mas definitivamente não é política de forma alguma. Nesse sentido, ao não ser política, ela acaba se tornando política”, afirma Simone Dreissen. “O curioso é que ela realmente não comenta grandes acontecimentos do mundo e sua música não carrega traços disso: ela canta apenas sobre a própria bolha. Muita gente considera isso fútil, inclusive fazendo comentários maldosos comparando-a a outros artistas.”

Taylor já se posicionou politicamente em outras ocasiões — como na eleição norte-americana de 2024, quando apoiou a ex-vice-presidente, Kamala Harris, contra Donald Trump. 

O apelo de Taylor para incentivar os cidadãos dos EUA a se registrarem também pareceu ter funcionado na época: 337.826 visitantes chegaram ao site de votação por meio do link de URL criado e divulgado pela cantora nas redes sociais. Porém, não há nenhuma declaração recente da artista sobre questões políticas.

Com isso, os especialistas afirmam que não só a rapidez de Taylor Swift ao lançar novas obras, assim como a superexposição em cinemas e redes sociais, pode estar fadigando sua imagem: a falta de pronunciamentos sobre assuntos globais também. Mesmo assim, só o tempo dirá se o público irá, de fato, cansar da cantora. Por enquanto, ela continua batendo recordes e gerando engajamento nas redes sociais. Como ela mesma disse recentemente: “Se falar meu nome, está me ajudando”.

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