Ibovespa próximo dos 140 mil pontos é oportuno para M&As, diz Itaú BBA

O mercado brasileiro vive momento que favorece M&As (fusões e aquisições) com o Ibovespa próximo do patamar dos 140 mil pontos, segundo Flávio Souza, presidente do Itaú BBA.

Em entrevista ao Capital Insights, programa do CNN Money em parceria com a Broadcast que foi ao ar nesta quinta-feira (16), o executivo afirmou que o cenário aquecido de M&As não está relacionado somente as dificuldades das companhias.

“Transações estratégicas também continuam acontecendo. Um momento como esse, quando a gente olha para a bolsa próxima dos 140 mil pontos, a princípio é um patamar elevado. Mas quando a gente olha por múltiplos, a gente está abaixo da média que a bolsa normalmente trabalha no Brasil. Isso acaba sendo uma oportunidade, um ponto de entrada para algum player estratégico”, afirma.

Ele destaca também que as fusões e aquisições seguem em ritmo “bastante bom” e possuem interferência “menos correlacionada” com a taxa de juros em patamar elevado.

Flávio Souza ainda falou sobre a agenda sustentável do Itaú BBA. O presidente afirma que mobilizar recursos para transição energética é “papel essencial” das instituições financeiras.

O Capital Insights vai ao ar toda quinta-feira, às 19h, no CNN Money, com personagens relevantes do mercado financeiro para discutir o cenário econômico brasileiro e mundial.

Leia os destaques da entrevista a seguir.

Vivemos uma “seca” de IPOs e mais nomes robustos de companhias abertas anunciando que vão fechar capital. Que mundo é esse que estamos vivendo no mercado de ações?

Temos passado por um período extenso, lá se vão quatro anos desde o último IPO. De lá para cá, a gente tem tido essencialmente algumas operações de follow-on, algumas operações de bloco e as operações de fechamento de capital. Eu acho que isso está diretamente relacionado ao ambiente de taxa de juros que a gente tem no Brasil.

Quando a gente vê a correlação e olha historicamente como o mercado de capitais no Brasil se comporta, esse ambiente de taxa de juros no patamar que temos operado, ele tem inibido em grande medida os novos IPOs, as novas empresas de virem ao mercado.

Eu não tenho a menor dúvida que o Brasil tem ainda uma quantidade de empresas bastante importante que tem a estrutura de acessar o mercado, e essas companhias em algum momento, quando a gente tiver uma reabertura de janela, voltarão a acessar o mercado. Mas eu acho que esse cenário não parece tão de curto prazo.

Acho que esse ano já caminha para o encerramento, a gente não deve ter nenhum IPO. Para o próximo ano, quando a gente olha para um cenário que tem expectativa de taxa de juros caindo, ainda em um patamar elevado.

Como o mercado financeiro em geral antecipa os movimentos de mercado, acredito que podemos voltar a ter uma janela, provavelmente mais a partir do segundo semestre, em que possamos ver uma retomada em algumas companhias novas chegando ao mercado.

Mas até lá eu acho que a gente vai continuar vendo mais um movimento aqui de alguns follow-ons e eventualmente algumas operações de fechamento de capital.

Temos visto um volume aquecido do mercado de fusões e aquisições. Esta atividade tem sido gerada como resultado de dificuldades das empresas que estão sendo adquiridas ou absorvidas, ou tem movimento estratégico acontecendo? Qual é a razão desta onda mais quente de fusão e aquisição?

Os motivadores são vários, não tem necessariamente uma questão relacionada só a dificuldades, isso é parte da motivação, naturalmente.

Num cenário em que você tem taxa de juros alta por um tempo muito longo, eventualmente esse é um cenário que para algumas companhias isso pode trazer desafios maiores na questão de escala, de adequação de estrutura de capital, acaba sendo um motivador para o movimento dessa natureza.

Mas transações estratégicas também continuam acontecendo. Se a gente for olhar, por exemplo, o setor de energia continua sendo bastante importante nessa direção, setor de tecnologia também com bastante movimentos estratégicos, tanto de players locais quanto de players internacionais.

Um momento como esse, quando a gente olha para a bolsa próxima dos 140 mil pontos, a princípio é um patamar elevado. Mas quando a gente olha por múltiplos, a gente está abaixo da média que a bolsa normalmente trabalha no Brasil.

Isso acaba sendo uma oportunidade, um ponto de entrada para algum player estratégico que esteja olhando para expandir suas atividades ou mesmo entrar no mercado brasileiro. A atividade de M&A segue num ritmo bastante bom, tem uma interferência menos correlacionada com o ambiente de taxa de juros.

Se analisarmos historicamente o comportamento do mercado de M&A no Brasil, a taxa de juros mais alta ou mais baixa não é o principal fator para determinar se a atividade de M&A vai ser mais ou menos intensa. Ela está diretamente correlacionada ao mercado de ações.

Para 2026, tem algum setor que deve ser destaque em fusões e aquisições?

A gente vê no Brasil um país que tem oportunidades muito grandes ainda no setor de infraestrutura e de energia.

Quando a gente olha o que está acontecendo em infraestrutura, falando de saneamento, com o marco regulatório no Brasil, é uma verdadeira revolução do ponto de vista da maior presença do setor privado no setor.

Eu acho que devemos assistir no setor de saneamento um movimento parecido com o do setor de energia nos últimos 20 anos. O setor de energia, quando houve o marco regulatório no início desse século, em 2001, triplicou de tamanho de lá para cá.

Acho que em saneamento a gente está vendo um movimento, num estágio ainda inicial, na mesma direção: marco regulatório definido, a gente viu o processo de privatização de algumas companhias como Cedae, Corsan, Sabesp ,no ano passado.

A presença do setor privado vem se tornando mais relevante, portanto acho que companhias que estão presentes, e eventualmente que tenham interesse em entrar, podemos ver formação de portfólio ao longo do tempo não só no próximo ano, mas ao longo dos próximos anos.

Energia pela própria maturidade do setor, pelas oportunidades e pelos desafios que vemos. Acredito que muita companhia pode olhar para o posicionamento, com todo o desafio que a gente está vendo do curtailment, pode pensar em ter um portfólio com um mix mais diferenciado.

O setor de varejo é outro que deve ter um nível de atividade importante em M&A, é um setor em que o evento de taxa de juros alta por um período muito prolongado é bastante desafiador. Acho que pode ser estimulado a ter várias transações.

Saúde e educação são setores bastante ativos nas atividades de M&A e também no desenho dos seus portfólios, são setores em que a gente também acredita que deverão ainda continuar puxando atividade de M&A.

A Aliança Climática Global dos Bancos anunciou que vai encerrar as atividades e isso traz uma série de mensagens. Como os bancos estão discutindo financiamento climático?

Para nós, no Itaú BBA, esse movimento foi neutro. O conglomerado Itaú desde sempre teve uma visão da importância da agenda de responsabilidade social e ambiental.

Quando falamos da pauta ESG, nas operações do Itaú BBA, é uma pauta de negócios. Vivemos um momento em que precisamos fazer uma transição energética no mundo, e estamos falando de financiar essa transição e novas tecnologias.

Do ponto de vista prático, para uma instituição financeira, o papel essencial é de mobilização de recursos.

Em relação à NZBA [Aliança Bancária de Emissão Zero], a notícia veio em um momento que a agenda climática está sofrendo pressões maiores. Do ponto de vista dos compromissos que os bancos tinham que prestar contas, isso deixa de existir.

Mas a parte de políticas e diretrizes, que foram e continuam sendo importantes para olhar como fazer o planejamento da descarbonização do portfólio, os elementos continuam sendo referência.

A gente sempre olhou para essa agenda de forma desconectada de “modismo”. Acreditamos que essa é uma pauta sustentável, de transição e que vai nos acompanhar.

Temos ambições e objetivos bem definidos em relação a essa pauta. Em 2019, estabelecemos que mobilizaríamos R$ 100 bilhões para financiamento de atividades de impacto positivo até 2025.

Em 2021 revisitamos a ambição, passamos para R$ 400 bilhões até 2025. A gente atingiu esse número em meados de 2024, renovamos a ambição, a nossa ambição é mobilizar R$ 1 trilhão ao longo dessa década de 2020 até 2030 para financiamento de atividades de impacto positivo, e acompanhamos isso com cuidado.

Essa é uma agenda que pode mudar a velocidade, a intensidade, mas na visão do Itaú BBA, não muda direção.

Na agenda sustentável, falta o tomador de decisões da política pública avançar algumas casas no mercado de carbono?

O ambiente regulatório para essa pauta ainda tem algumas casas para avançar, mas percebemos avanço. Sobre o mercado de carbono, o projeto (de lei) finalmente foi aprovado, falta o detalhamento e toda a parte de regular. É importante que isso aconteça.

Quando a gente olha para o potencial que o Brasil tem no tema, a gente não pode dispensar essa oportunidade. Sou otimista de que vamos caminhar na direção de ter um mercado de carbono regulado, que na nossa visão vai impulsionar também o mercado livre.

O Brasil tem 12% da área de florestas do mundo, quase 60% do território do Brasil continua sendo um território de mata nativa. A oportunidade que a gente tem nessa agenda é absolutamente extraordinária. Tal qual a gente tem em energia, no agronegócio, em água. O Brasil tem 12%, 13% de superfície de água doce do mundo.

Todo o movimento regulatório que vá na direção de trazer previsibilidade, segurança, credibilidade, é muito bem-vindo. No final do dia, o mercado fica mais atrativo para os diversos bolsos poderem financiar a atividade.

Amazon alerta: IA reduzirá força de trabalho no futuro

Hamas nega declaração dos EUA sobre “violação do cessar-fogo”

O Hamas rejeitou neste domingo (19) uma declaração do Departamento de Estado dos EUA na qual citava “relatórios confiáveis” indicando que o grupo militante...

Base aliada do governo contorna oposição e dita rumos da CPMI do INSS

A base aliada do governo tem garantido vitórias na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Os parlamentares...

China se prepara para definir plano econômico em meio à disputa com EUA

Tarifas, terras raras e dúvidas quanto ao desempenho econômico são temas que permeiam o Partido Comunista da China em uma semana decisiva para os...