Em 2021, a influenciadora Jahde Borg, de 29 anos, começou a sentir um leve formigamento nos pés. O desconforto se espalhou pelas pernas, mas parecia passageiro.
“Procurei um hospital, fiz exames, mas me disseram que era algo psicológico e recomendaram terapia”, relembra. “Saí de lá acreditando que talvez fosse ansiedade mesmo, porque depois de alguns dias os sintomas sumiram completamente”, conta.
Três anos depois, entre novembro e dezembro de 2024, o formigamento voltou e evoluiu para perda de sensibilidade nas pernas. “Eu não sentia mais frio nem calor, era como se minhas pernas fossem de outra pessoa”, explica a influenciadora. Com o avanço dos sintomas, andar ficou cada vez mais difícil. “Parecia que eu estava com pesos extra”, descreve.
Após um pico de estresse, a perda de movimento foi total. Jahde procurou atendimento médico e recebeu o diagnóstico de esclerose múltipla remitente-recorrente, a forma mais comum da doença. A doença autoimune crônica ataca a bainha de mielina, uma camada de gordura protetora dos neurônios no sistema nervoso central.
“De repente, parei de sentir meu corpo da cintura pra baixo. Foi um dos momentos mais assustadores da minha vida”, lembra.
O que é esclerose múltipla?
- Doença autoimune que ataca o sistema nervoso central (cérebro e medula).
- Pode causar surtos de sintomas neurológicos seguidos de períodos de recuperação.
- Afeta mobilidade, sensibilidade, equilíbrio e funções cognitivas.
- Não tem cura, mas tratamentos podem controlar os sintomas e reduzir surtos.
- Fatores genéticos, ambientais e de estilo de vida influenciam seu desenvolvimento.
Tratamento e reabilitação
Jahde passou a realizar infusões mensais e sessões de fisioterapia neurológica para recuperar a mobilidade, equilíbrio e percepção sensorial. O acompanhamento psicológico e psiquiátrico também é parte fundamental do tratamento.
Priscila Proveti, neurologista do Hospital DF Star, explica que é fundamental definir a gravidade e a fase da doença em que o paciente se encontra para escolher a melhor opção terapêutica.
“O primeiro passo é realizar um diagnóstico correto e o mais precoce possível. Recentemente, os critérios diagnósticos da esclerose múltipla foram reformulados, permitindo identificar a doença de maneira mais rápida e precisa”, comenta.
O neurologista Felipe Ghlen, do Hospital Sírio-Libanês, acrescenta que os avanços no tratamento aumentam as chances de qualidade de vida.
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“Estamos numa época de ouro no tratamento da esclerose múltipla. Apesar de não termos cura, existem vários remédios eficazes que controlam a doença, com pouco ou nenhum efeito colateral. Um paciente bem tratado tem altas chances de não ter incapacidades e viver normalmente”, esclarece.
Ajustes na rotina e início do tratamento
O diagnóstico exigiu mudanças imediatas. Jahde conta que perder a mobilidade foi desafiador. “Eu dependia completamente da minha namorada pra tudo: comer, tomar banho, me mover”, conta.
Além da adaptação física, ela também enfrentou o impacto emocional da doença: “A gente cresce acreditando que tem controle sobre o corpo e, de repente, ele deixa de te obedecer.”
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Jahde em tratamento na UTI
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Jahde de cadeira de rodas
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Jahde com o andador
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Atualmente, as infusões mensais ajudam a conter a ação do sistema imunológico e a prevenir novos surtos. “A fisioterapia neurológica tem sido essencial todas as semanas para conseguir voltar a andar sem apoio, identificar texturas, movimentos e temperaturas”, explica Jahde.
Relação com o corpo e autocuidado
A esclerose múltipla mudou a percepção de Jahde sobre o corpo. Antes, ela o via quase como uma ferramenta de trabalho, mas agora passou a encará-lo como um companheiro. O autocuidado se tornou prioridade, e ela aprendeu a prestar atenção aos sinais do corpo e a acreditar em si mesma, mesmo após experiências em que os surtos foram confundidos com questões psicológicas.
Segundo a neurologista Priscila, fatores genéticos, ambientais e imunológicos, como deficiência de vitamina D, tabagismo, sedentarismo e estresse podem influenciar o desenvolvimento e a evolução da esclerose múltipla.
Rotina, autocuidado e vida diária
Com o tempo, Jahde passou a organizar sua rotina de forma mais estruturada, priorizando a saúde e o bem-estar. Para se locomover, atualmente conta com o apoio de um andador, que a ajuda a recuperar autonomia e segurança.
Apesar das limitações, a influenciadora conseguiu retomar atividades de lazer e equilibrar trabalho com saúde. Ela aprendeu a respeitar os sinais do corpo, fazendo pausas quando necessário, e reforça a importância de atenção aos próprios limites, mostrando que é possível manter uma vida ativa mesmo com a doença.
“Um diagnóstico não define quem você é. A vida muda, sim, mas ela continua e pode ser incrível de outro jeito. Eu achava que a esclerose tinha vindo apenas para me limitar. Mas, na verdade, me ensinou a viver com mais propósito e a olhar para minhas dores com mais carinho”, afirma.
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Fonte: Metrópoles