Lidar com a morte e com o luto faz parte da experiência humana, mas quando envolve uma criança, o cuidado precisa ser ainda maior. A forma como as crianças entendem a ausência de alguém querido varia conforme a fase do desenvolvimento e a maneira como os adultos conduzem o tema.
A vivência do luto na infância, por sua vez, ocorre de forma diferente. Enquanto os adultos conseguem nomear sentimentos e entender de forma racional o que aconteceu, as crianças tendem a expressar a dor através de comportamentos como choro, silêncio, irritação ou brincadeiras que representam o que ainda estão tentando compreender.
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Diferenças na compreensão da morte e do luto
O entendimento da morte varia conforme a idade: nos primeiros anos de vida, a criança sente a ausência, mas não entende o conceito de fim. Entre os 3 e 5 anos, o pensamento mágico faz acreditar que quem morreu pode voltar. Já dos 6 aos 9, começa a surgir a noção de irreversibilidade, embora a compreensão ainda seja parcial.
Já na adolescência, o luto se aproxima da experiência vivida pelos adultos, mas pode vir acompanhado de irritabilidade, explosões de raiva ou isolamento. A psicóloga Larissa Fonseca, membro da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP), explica que, nessa fase, o apoio familiar e o espaço para falar sobre a perda ajudam a evitar que o sofrimento se transforme em culpa ou medo.
“A forma de lidar com a perda depende da maturidade emocional e do ambiente em que a criança está inserida. Quando há previsibilidade, rotina e escuta, o cérebro infantil entende o que está acontecendo e consegue se adaptar de forma mais saudável”, afirma Larissa.
Em todas as faixas etárias, a comunicação deve ser direta e sem metáforas. Expressões como “foi dormir” ou “viajou” podem gerar medo e confusão. Por isso, o ideal é usar explicações simples e que sejam concretas, dizendo que o corpo parou de funcionar e que a pessoa não sente dor. Isso traz sensação de segurança e ajuda a criança a elaborar a perda.
Sinais de luto prolongado
O luto costuma se tornar menos intenso com o tempo, mas cada criança tem seu próprio ritmo para elaborar a perda. Ainda assim, alguns sinais podem indicar que a dor está difícil de ser compreendida sozinha. Especialistas ouvidos pelo Metrópoles listaram os sinais que merecem atenção:
- Regressões, como voltar a fazer xixi na cama ou ter comportamentos infantilizados.
- Desinteresse por atividades que antes causavam prazer.
- Pesadelos, medo excessivo ou culpa.
- Mudanças bruscas no apetite.
- Dificuldade de concentração e queda no rendimento escolar por longos períodos.
A atenção dos pais e cuidadores é essencial para perceber quando a tristeza começa a afetar a rotina da criança. Caso esses sintomas persistam, é importante buscar ajuda profissional. O acompanhamento psicológico também auxilia no processo, prevenindo que a tristeza se torne um padrão de ansiedade ou desmotivação.
“Durante o luto, o cérebro infantil reage com ondas rápidas de emoção: momentos de choro intenso seguidos de distração. Técnicas como terapia de brincar, arte e histórias guiadas ajudam a reorganizar essas respostas e reduzem o estresse cerebral de forma comprovada”, explica o psicólogo André Machado, membro do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-RJ).
Papel dos adultos no processo de luto
A forma como os adultos reagem à perda influencia a maneira como a criança entende e vivencia o luto. Essa relação se dá porque, quando pais ou cuidadores falam abertamente sobre o que sentem e mostram que é possível retomar a rotina aos poucos, ensinam que a tristeza é uma emoção legítima e passageira.
Esse comportamento transmite segurança emocional e demonstra que o sofrimento pode ser enfrentado sem medo. Por outro lado, esconder o choro ou evitar o tema pode gerar confusão. A criança tende a interpretar o silêncio como uma proibição para sentir, o que acaba alimentando culpa ou ansiedade.

Por isso, é por meio da observação que ela aprende a nomear as emoções e compreende que a dor não precisa ser negada. Rituais simbólicos também têm um papel importante nesse processo. Atividades como criar um álbum de lembranças, escrever cartas ou fazer desenhos são formas simples e eficazes de expressar sentimentos.
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Fonte: Metrópoles
