O candidato centrista de Honduras, Salvador Nasralla, alegou na quinta-feira (4), fraude na disputada eleição presidencial do país, após seu rival, Nasry Asfura, apoiado por Trump, ultrapassá-lo por uma pequena margem durante a madrugada.
Em uma publicação na rede social X, Nasralla afirmou que a tela que exibia os dados da votação ficou em branco às 3h24 da manhã e alegou que “um algoritmo alterou os dados”, dando a maior contagem a Asfura, após Nasralla liderar a apuração desde terça-feira (2).
Os resultados estão sendo atualizados no site do órgão eleitoral.
A campanha eleitoral no pequeno país da América Central foi marcada por meses de alegações de fraude.
A eleição foi alavancada para o cenário internacional quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou seu apoio a Asfura e alegou, sem provas, que houve possível fraude na contagem inicial dos votos.
Em uma coletiva de imprensa na quinta-feira, o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) defendeu o processo e afirmou que os registros de votação considerados inconsistentes não faziam parte da contagem formal e seriam revisados.
“Há casos em que os registros das seções eleitorais apresentaram inconsistências insuperáveis”, disse a presidente do CNE, Ana Paola Hall, acrescentando que a recontagem levaria tempo, mas seria concluída dentro do prazo legal — 30 de dezembro.
“Os resultados divulgados pela CNE serão definitivos”, acrescentou ela, pedindo paciência. “A pressa é, por vezes, inimiga da legitimidade.”
Na noite de quinta-feira (4), o dirigente do conselho, Marlon Ochoa, concedeu uma coletiva de imprensa na qual criticou o processo eleitoral por problemas com o sistema de publicação dos votos, suposta compra de votos e intimidação, bem como a “vulgar intervenção estrangeira”.
“Acredito que haja unanimidade entre o povo hondurenho de que estamos, talvez, na eleição menos transparente de nossa história democrática”, afirmou Ochoa, denunciando um “golpe” eleitoral.
17% dos votos serão revisados
Na quinta-feira (4), Asfura, do Partido Nacional, tinha 40,25% dos votos, quase 23.900 votos à frente de Nasralla, do Partido Liberal, que obteve 39,39%. Rixi Moncada, do Partido Liberal (de esquerda), permaneceu bem atrás, em terceiro lugar, na eleição realizada no domingo.
Com cerca de 87% das atas de apuração contabilizadas, cada uma representando os votos de uma única seção eleitoral, Asfura mantinha uma pequena vantagem, que diminuiu ligeiramente ao longo do dia.
Cerca de 17% das atas de apuração apresentam inconsistências e serão revisadas, segundo a autoridade eleitoral do país.
A publicação de Nasralla não apresentou provas de fraude eleitoral.
“Eles precisam investigar a empresa colombiana envolvida nessas alterações, a ASD”, disse ele.
Alegações de fraude assombram Honduras desde a acirrada eleição presidencial de 2013, quando líderes da oposição acusaram o partido governista de manipular a contagem de votos e violar as regras de financiamento de campanha em uma disputa marcada por irregularidades.
Nasralla afirmou que Honduras “não permitirá que a curva de Batson se repita”, em referência a David Matamoros Batson, ex-presidente do tribunal eleitoral, cujo mandato ficou marcado por mudanças repentinas na contagem de votos durante a madrugada e resultados contestados em eleições passadas.
A ASD, empresa colombiana responsável pela apuração dos votos em Honduras, não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
A última apuração marca mais uma mudança na disputa acirrada. Nasralla tinha uma vantagem mínima na quarta-feira (3), e os dois candidatos principais trocaram de posição repetidamente à medida que os resultados da contagem manual chegavam de todo o país.
Os resultados preliminares divulgados na segunda-feira (1º) mostraram o que o órgão eleitoral chamou de “empate técnico”.

Divulgação de resultados caótica
A votação de domingo (30) transcorreu de forma calma e pacífica, segundo observadores eleitorais independentes. No entanto, a divulgação subsequente dos resultados tem sido caótica, marcada por interrupções que intensificaram a frustração com a disputa acirrada.
Membros do conselho eleitoral culparam a empresa responsável pela plataforma de apuração pelas pausas na contagem dos votos.
Trump interferiu repetidamente nas eleições de Honduras. Antes da votação, ele apoiou fortemente Asfura, o ex-prefeito de 67 anos da capital Tegucigalpa, sinalizando que poderia cortar o financiamento para Honduras caso Asfura não vencesse.
Em seguida, Trump alegou possível fraude eleitoral em uma publicação nas redes sociais na noite de segunda-feira (1º), mas não apresentou provas.
Trump também concedeu indulto a um ex-presidente do Partido Nacional de Asfura: Juan Orlando Hernández, que cumpria pena de 45 anos nos Estados Unidos após ser condenado por tráfico de drogas e porte ilegal de armas.
Apesar do clima tenso, as ruas de Tegucigalpa permaneceram calmas na quinta-feira, enquanto os cidadãos aguardavam os resultados.
A presidência de Honduras é decidida em turno único. O candidato com o maior número de votos vence, mesmo que a margem seja pequena ou que o candidato não alcance a maioria.
Em ciclos eleitorais anteriores, resultados contestados levaram a protestos em massa e repressão violenta por parte das forças de segurança.
O subsecretário de Estado dos EUA, Christopher Landau, afirmou na quinta-feira (4) que todas as partes precisam defender a independência da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) para garantir total transparência e a contagem correta de cada voto e apuração.
“Os olhos do mundo, incluindo os nossos, estão voltados para Honduras”, escreveu Landau na rede social X.
