Mercado ilegal de armas se moderniza e amplia poder de fogo do crime

O mercado ilegal de armas passou por uma transformação tecnológica nos últimos anos no Brasil.

Um estudo do Instituto Sou da Paz, divulgado nesta segunda-feira (8), revela que o arsenal do crime no Sudeste do país ficou mais moderno, mais potente e significativamente mais novo.

A mudança redesenha o perfil das apreensões, antes dominadas por revólveres antigos e espingardas, e agora marcadas pelo avanço de pistolas semiautomáticas, calibres de alta potência e fuzis.

O estudo indica uma tendência clara: o crime organizado está cada vez mais equipado com armas modernas e de maior poder de fogo, antes restritas a forças de segurança.

O levantamento, batizado de Arsenal do Crime, analisou 255.267 armas que foram apreendidas entre 2018 e 2023 e mapeou dados de polícias estaduais do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, além de bases federais.

Pistolas 9mm e semiautomáticas

A principal virada é a ascensão das pistolas semiautomáticas, sobretudo no calibre 9x19mm, que ganhou espaço de forma acelerada no mercado ilícito. A participação desse calibre nas apreensões do Sudeste saltou de 7,4% em 2018 para 18,8% em 2023, segundo o estudo. Entre pistolas, o crescimento é ainda mais expressivo e aparece em todos os estados analisados.

As pistolas modernas superam os revólveres em três dos quatro estados do Sudeste, a exceção é São Paulo, onde a ultrapassagem ainda não ocorreu, embora a tendência esteja consolidada. O uso desse tipo de arma amplia o risco nas ruas: maior capacidade de munição, recarga mais rápida e, no caso do 9mm, cerca de 40% mais energia do que os modelos tradicionais calibre .38.

Fuzis, metralhadoras e submetralhadoras: poder de fogo cresce 55,8%

O estudo detecta também um avanço expressivo no armamento pesado. Entre 2018 e 2023, as apreensões de fuzis, submetralhadoras e metralhadoras cresceram 55,8% no Sudeste. Os calibres de fuzil mais encontrados nas apreensões foram 5.56x45mm e 7.62x51mm.

Esse salto representa uma mudança qualitativa na estrutura do crime, que passa a ter arma de guerra com mais frequência, algo que, segundo especialistas do Sou da Paz, aumenta o risco de confrontos mais violentos e dificulta a atuação das forças de segurança.

Armas roubadas cada vez mais novas

Um dos indicadores mais preocupantes do levantamento é o que mede o tempo entre a fabricação da arma e sua apreensão. O intervalo caiu em todos os estados, mostrando que o crime tem acesso a armamento recém-produzido e, provavelmente, recém-comprado.

Minas Gerais concentra o salto mais dramático: o número de armas com até dois anos de fabricação apreendidas aumentou dez vezes, de 83 para 882 no período analisado. O padrão de armas muito novas no crime é típico de desvios intencionais, reforça o instituto.

As médias de idade das armas apreendidas caíram de forma consistente:

ES: de 30,7 anos (2018) para 24,5 anos (2023)

MG: de 34,7 para 26,2

SP: de 21 para 19

RJ: não possui dados de número de série disponíveis

Falhas nos registros dificultam combate

Além das mudanças no arsenal ilegal, o estudo chama atenção para problemas estruturais na qualidade das informações registradas pelas polícias.

Pelo menos 30,6% das armas industriais apreendidas não tinham marca identificada. Em alguns estados, dados essenciais foram negados ao estudo.

Para o Instituto Sou da Paz, isso compromete a capacidade de o país mapear rotas de desvio e estratégias do crime. A diretora-executiva da organização, Carolina Ricardo, afirma que o Brasil ainda opera “de olhos vendados” na tentativa de enfrentar o mercado ilícito.

O instituto destaca a necessidade de padronização de registros, transparência e fortalecimento de unidades especializadas como divisões de desarmamento, essenciais para qualificar a produção de dados.

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