O dólar subiu mais de 15% em 2024 e, segundo expectativa de economistas ouvidos semanalmente pelo Banco Central (BC), ele deverá encerrar o ano cotado a R$ 5,50.
Na última sexta-feira (1º/11), o dólar à vista fechou em alta de 1,53%, cotado a R$ 5,86 para compra e R$ 5,87 para venda. Esse foi o maior patamar atingido pela moeda americana desde 2021, no auge da pandemia de Covid-19, e o segundo maior valor nominal da história. Em maio de 2020, ela alcançou R$ 5,90. Na véspera, bateu em R$ 5,78.
Para analistas, a incerteza em torno da questão fiscal (que trata da relação entre gastos e receitas do governo) foi a principal alavanca para a elevação do dólar. Especialistas alertam que se o governo brasileiro não melhorar sua situação fiscal, o dólar pode chegar à casa de R$ 6.
A alta da moeda tem ocorrido apesar da queda nos juros nos Estados Unidos pelo Federal Reserve (Fed, na sigla em inglês, o Banco Central norte-americano), fator que normalmente ameniza a pressão sobre a moeda americana. O movimento pode se intensificar se o ex-presidente dos EUA e candidato à eleição Donald Trump vencer as eleições contra a democrata e atual vice-presidente Kamala Harris.
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Trump, que governou os EUA entre janeiro de 2017 e janeiro de 2021, tem um plano de governo mais deficitário, e as políticas protecionistas devem prejudicar mais as moedas emergentes, como a brasileira, afetando a demanda por produtos estrangeiros, e por consequência, sua balança comercial. Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China.
Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, argumenta que o movimento altista do dólar pode se intensificar em uma eventual vitória do republicano, pois ele defende políticas que limitam o comércio com países emergentes, o que afetaria as exportações do Brasil. “Se o governo brasileiro não melhorar essa situação fiscal, o dólar pode chegar a R$ 6. Para conter essa alta, é fundamental controlar gastos públicos e, se necessário, o Banco Central ser mais rigoroso em relação a alta dos juros para se ter uma compensação sobre as moedas”, analisa.
Foi o que ocorreu com a moeda norte-americana no primeiro mandato do republicano, quando o dólar disparou em relação ao real, também impactado pela pandemia final da gestão Trump.
“De forma simples, é mais plausível que o dólar ganhe força globalmente sob o comando de Trump. O risco fiscal é responsável por aumentar o prêmio de risco de investimentos brasileiros, traduzindo-se em mais juros demandados pelo tomador. O aumento do serviço da dívida compromete ainda mais o orçamento já espremido, e entramos em uma bola de neve. Depois de certo ponto, a má gestão das contas públicas excede a relação risco/retorno do investidor, e observamos uma vazão do fluxo financeiro, o que corrobora para a depreciação da moeda”, explica José Alfaix, economista da Rio Bravo.
Para Milton Badan, sócio e diretor da Swiss Capital Invest, a projeção de dólar a R$ 6 até o final deste ano parece “pouco provável” no cenário atual, a menos que ocorram choques econômicos significativos, como um agravamento da situação fiscal brasileira.
Política internacional é ponto comum
Especialistas avaliam que a política externa deverá se manter semelhante, seja qual seja o vencedor. Isso porque os EUA costumam ter uma política internacional de Estado, pouco sujeita a mudanças bruscas de rota.
Nesse sentido, a guerra comercial contra a China — segunda maior economia mundial, e que ameaça a soberania norte-americana — deverá ser mantida. Isso poderá virar um ponto de tensão para a relação com o Brasil, pois o país asiático, considerado um adversário dos EUA, é desde 2009 o maior parceiro comercial do Brasil e parceiro também no âmbito do Brics (bloco fundado originalmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Assim como fez em seu primeiro mandato, Trump poderá adotar políticas comerciais e regulatórias ainda mais agressivas em relação a Pequim, na tentativa de barrar a expansão daquela economia.
Com relação à América Latina, de forma geral, e ao Brasil, de modo mais específico, a Casa Branca não tem em vista nenhum projeto ou acordo comercial na gestão Joe Biden e isso não deve mudar, seja com Trump ou com Harris.
Quais os impactos para a vida do brasileiro?
Além de encarecer viagens ao exterior, não apenas aos EUA, o dólar alto pode afetar itens da alimentação do brasileiro, como as carnes, e os bens industriais, que vinham colaborando com a queda da inflação nos últimos meses. Ele também impacta no preço dos combustíveis, que já estão altos há vários meses.
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Nesse cenário de alta da moeda norte-americana, o Banco Central brasileiro precisa subir ainda mais os juros, ou mesmo, elevá-los em ritmo mais rápido. Com isso, a atividade econômica tende a desaquecer.
Por outro lado, o dólar alto favorece as exportações brasileiras, contribuindo para um saldo positivo da balança comercial (exportações menos importações). Com o dólar mais alto, os produtos brasileiros vendidos para outros países ficam mais baratos e competitivos no mercado internacional. No entanto, à medida que o Brasil exporta mais, sobram menos mercadorias em âmbito doméstico, o que encarece os produtos no país, seguindo a lógica da lei da oferta e da procura.
Fonte: Metrópoles