Juros: Copom vai se reunir sob pressão do dólar e da inflação

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) terá uma missão delicada nesta semana, quando deve decidir a próxima taxa de juros básica do país, a Selic. O cenário se mostra desafiador devido à alta da inflação, guinada do dólar e o aquecimento do mercado de trabalho, que segue criando vagas de emprego e vê a taxa de desocupação recuar nos últimos meses.

A próxima reunião do colegiado do BC está marcada para terça-feira (5/11) e quarta-feira (6/11). O mercado financeiro aposta em uma nova elevação na Selic, que está em 10,75% ao ano. A projeção dos analistas é de alta de 0,50 ponto percentual (p.p.).

Caso a elevação de 0,50 p.p. seja aprovada, a Selic voltará ao patamar de janeiro, de 11,25% ao ano – época em que o Copom seguia fazendo cortes. Em 2024, a redução dos juros só foi interrompida em 19 de junho, quando se manteve estável em 10,50% ao ano.

Inflação

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, está em 4,42% no acumulado de 12 meses até setembro – cada vez mais próximo ao limite da meta. No mês passado, o IPCA cresceu 0,44%, puxado principalmente pelo aumento dos preços da energia elétrica (5,36%).

A meta deste ano é de 3%, com variação de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, sendo 1,5% (piso) e 4,5% (teto), como estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Economistas consultados pelo Banco Central passaram a projetar que a inflação deve estourar o teto da meta, de 4,5%. Segundo dados do relatório Focus mais recente, a expectativa é de que o índice fique em 4,59% até o fim de 2024.

Para manter a inflação dentro do intervalo, o BC usa a Selic — principal instrumento de política monetária.

imagem colorida da reunião do Copom, do Banco Central, em janeiro de 2024 - Metrópoles
Diretores do BC em reunião do Copom

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse na semana passada que acredita que a inflação ficará dentro da meta. “No acumulado do ano, estamos entendendo que a inflação deve ficar dentro da meta”, reforçou.

Segundo análise do economista Alex Andrade, essa trajetória de alta da inflação reflete uma “pressão inflacionária que vem se intensificando nas últimas semanas devido a fatores internos e externos”.

Ele explica que a projeção do Focus indica que o país pode enfrentar “um desafio significativo no cumprimento das metas de inflação”, o que pode forçar o Banco Central a manter uma postura conservadora e prolongar os juros em patamares elevados.

Para Andrade, a meta do governo e do Banco Central deve ser “manter a inflação dentro da banda estabelecida, sem comprometer o crescimento econômico, o que pode exigir ajustes na condução da política fiscal e monetária”.

Dólar

Outro fator na mesa para decidir a taxa Selic é observar o comportamento da taxa de câmbio. No fechamento do pregão desta sexta-feira (1º/11), o dólar à vista fechou em alta de 1,53%, cotado a R$ 5,86 – segundo maior marca da história.

A taxa de câmbio segue nas alturas desde o início da semana. O motivo da alta é a preocupação do mercado financeiro com a “demora” da divulgação das medidas do governo federal para a revisão de gastos públicos, além da repercussão de dados econômicos – o que pode gerar um quadro inflacionário no país.

Mercado de trabalho

A taxa de desemprego no Brasil recuou para 6,4% no trimestre encerrado em setembro (de julho a setembro de 2024) – a segunda menor taxa da série histórica, iniciada em 2012. Além disso, a desocupação registrou a melhor marca para o período desde 2012.

Outro dado importante foi o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de setembro. Segundo o levantamento, o Brasil criou 247.818 vagas de com carteira assinada no nono mês do ano. No acumulado do ano, são 1,98 milhão de postos.

Com esses resultados, especialistas alertam para uma continuidade do ciclo de alta nos juros. Conforme o analista Sidney Lima, embora positivo, esse fortalecimento pode contribuir para “uma pressão inflacionária no longo prazo”.

“Dessa forma, a decisão do Banco Central de manter o ciclo de alta nos juros se justifica como um mecanismo de equilíbrio para conter uma potencial aceleração inflacionária, enquanto o mercado de trabalho segue se aquecendo”, avalia Lima.

No recorte da criação de vagas de emprego, o economista João Kepler acredita que “a inflação e os juros altos podem importar uma desaceleração nas próximas contratações, especialmente à medida que o crédito mais caro e o consumo reduzido dificultam o crescimento contínuo”.



Fonte: Metrópoles

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