Os motivos para a alta de casos de sarampo na Alemanha

De acordo com o principal centro de controle de doenças do país, o Instituto Robert Koch (RKI, na sigla em alemão), “o sarampo voltou à Alemanha”. O ano de 2024 registrou um aumento dramático no número de casos da doença, especialmente comum em crianças pequenas e que pode ser fatal. Cerca de 614 casos foram contabilizados até agora.

Em 2023, foram apenas 79 infecções e em 2022 foram contabilizados apenas 15 casos da doença. Entretanto, em anos anteriores já foram registrados números bem maiores, como em 2015 (2.470) e 2013 (1.770).

O sarampo é uma doença transmitida pelo ar que comumente causa erupções cutâneas e febre alta, sendo extremamente perigosa para crianças pequenas e que provocou a morte de 107,5 mil em todo o mundo em 2023.

Outras doenças que podem ser prevenidas por vacinas, como hepatite B e coqueluche, também estão em alta na Alemanha. Os motivos por trás disso são multifacetados e complexos, de acordo com os especialistas, indo da imigração à Covid-19, passando pelo crescente ceticismo sobre vacinas e campanhas antivacina disseminadas nas mídias sociais.

Efeitos da pandemia da Covid-19

“Quase todas as taxas de doenças infecciosas diminuíram durante a pandemia”, diz o pediatra Axel Gerschlauer, de Bonn, atribuindo isso às medidas sanitárias da Covid-19, como distanciamento social e uso de máscaras. Os efeitos colaterais ainda podem ser vistos em uma “hesitação em ir ao médico, exceto nos casos mais necessários, por medo do risco de infecção” dentro de um consultório.

Casos importados também são um problema. A médica Karella Easwaran, de Colônia, disse à emissora pública ARD que “hoje, há muitas pessoas viajando. Muitas pessoas imigrando para cá. Muitas crianças de zonas de guerra”, onde as vacinas não estão disponíveis e cujos pais podem não estar cientes da necessidade da imunização quando chegam à Alemanha.

Ceticismo sobre vacina

Depois, há a questão da hesitação em relação à vacina e do movimento antivacina. Gerschlauer alerta que os dois devem ser vistos como fenômenos separados.

“Com pais céticos, preocupações e medos podem frequentemente ser amenizados com explicações e estatísticas. Muitas vezes, um simples folheto informativo ou uma breve conversa é o suficiente”, diz. No entanto, “com oponentes radicais da vacina, nossas mãos estão atadas. Eles vivem em sua própria bolha, que não podemos mais penetrar de fora.”

De acordo com um estudo publicado no início de novembro pela empresa de pesquisa Statista, o ceticismo em relação à vacina tem aumentado constantemente na Alemanha, de 22% dos adultos em 2022 para 25% em 2024.

Já o movimento antivacina “hardcore” tem uma longa história na Alemanha, que remonta aos anos 1800, promovido por pessoas com várias agendas – de precursores antissemitas dos nazistas, que viam os avanços médicos vindos de médicos judeus com ceticismo, a grupos de médicos preocupados com a segurança de como as primeiras vacinas eram administradas.

De acordo com o Centro Federal de Educação em Saúde (BzgA, na sigla em alemão), o número daqueles que se dizem completamente antivacinas aumentou apenas ligeiramente nas últimas décadas, de 4% em 2004 para 6% em 2020. Seus números podem parecer maiores, no entanto, por meio da sua prevalência nas mídias sociais e do número de manifestações antivacinas que ocorreram na Alemanha em resposta à pandemia de Covid-19.

Por isso, alguns médicos veem a obrigatoriedade de vacinas como medidas contraproducentes, que “adicionam combustível ao fogo antivacina” e podem ser tachadas como restrição às liberdades individuais.

Pensamento esotérico

Estudos mostraram outros indicadores significativos de sentimento antivacina. Um relatório recente de médicos da Universidade de Freiburg, no sul da Alemanha, mostrou uma conexão entre o que eles chamaram de “pensamento esotérico” e hesitação e recusa à vacina.

Por exemplo, pessoas que eventualmente acreditam em homeopatia ou passaram por formas alternativas de educação, como escolas Waldorf, são mais propensas a ver as vacinas de forma crítica.

Outro estudo realizado pelo governo estadual da Saxônia em 2021 encontrou uma correlação entre apoiadores do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) e ceticismo em relação à vacina.

O pediatra Axel Gerschlauer acredita que políticos e grupos de médicos poderiam ajudar a resolver o problema por meio de campanhas de informação.

“Quando você vê quanto esforço foi feito para anunciar a vacinação contra o meningococo B nos últimos anos, mesmo que essa vacina na época nem fosse recomendada pela [comissão de vacinas da Alemanha] Stiko na época, e quantas pessoas foram alcançadas por essa campanha publicitária, então você desejaria que o mesmo esforço fosse feito para a vacinação contra o sarampo!”

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Fonte: Metrópoles

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