O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) confirmou, nesta terça-feira (4/2), a possibilidade de a inflação acumulada em 12 meses ficar acima do teto do intervalo de tolerância da meta durante seis meses seguidos — o que caracterizaria o descumprimento da meta inflacionária em 2025.
“Em se concretizando as projeções do cenário de referência, a inflação acumulada em doze meses permanecerá acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta nos próximos seis meses consecutivos“, destaca a ata da última reunião do comitê.
“Desse modo, com a inflação de junho deste ano, configurar-se-ia descumprimento da meta sob a nova sistemática do regime de metas”, destacou o Copom.
Meta contínua
A partir deste ano, a meta de inflação é contínua, e não mais por ano-calendário. Ou seja, o índice é apurado mês a mês.
Em 2025, a meta de inflação é de 3%, com variação de 1,5 ponto percentual, sendo 1,5% (piso) e 4,5% (teto). Ela será considerada cumprida se oscilar entre esse intervalo de tolerância.
Nesse novo modelo, se a inflação acumulada em 12 meses ficar fora desse intervalo por seis meses consecutivos, a meta é considerada descumprida.
Caso isso aconteça, o Banco Central precisa divulgar uma carta aberta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicando as razões para o estouro. Isso porque a autoridade monetária é que faz o controle da inflação, por meio da taxa básica de juros (a Selic), definida pelo Comitê de Política Monetária a cada 45 dias.
A próxima divulgação da inflação será feita em 11 de fevereiro.
Entenda a situação dos juros no Brasil
- A taxa Selic é o principal instrumento de controle da inflação, que ficou a 4,83% em 2024 — acima do teto da meta.
- Na semana passada, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a Selic de 12,25% ao ano para 13,25%.
- No ano passado, a taxa de juros fechou em 12,25% ao ano — voltando ao mesmo percentual de novembro de 2023.
- A expectativa é de novas altas nos juros ainda no primeiro trimestre, com taxa Selic próxima a 15% ao ano.
- O mercado financeiro estima que a Selic ficará em 15% ao ano até o fim de 2025, segundo o relatório Focus. Para os analistas, a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deverá estourar o teto da meta novamente este ano, com expectativa de 5,51%.
- Projeções mais recentes mostram que o mercado desacredita em um cenário em que a taxa de juros volte a ficar abaixo de dois dígitos durante o governo Lula (PT) e do mandato de Galípolo à frente do BC.
Projeções do mercado para juros e inflação em 2025
Pela 16ª semana seguida, os analistas financeiros consultados pelo Banco Central subiram a projeção deste ano do IPCA, considerado a inflação oficial do país.
Segundo o relatório Focus mais recente, divulgado nessa segunda-feira (3/2), a estimativa do mercado financeiro para a inflação de 2025 passou de 5,50%, na semana passada, para 5,51% nesta semana.
Como o teto da meta deste ano é 4,5%, o mercado acredita que a meta inflacionária será descumprida novamente. Caso isso aconteça, o BC precisa divulgar uma carta aberta ao ministro da Fazenda explicando as razões para o estouro.
O que é o relatório Focus
- O Relatório de Mercado Focus resume as estatísticas calculadas considerando as expectativas de mercado financeiro coletadas até a sexta-feira imediatamente anterior à divulgação do documento.
- O Focus é tradicionalmente divulgado toda segunda-feira.
- O relatório traz a evolução gráfica e o comportamento semanal das projeções para índices de preços, atividade econômica, câmbio (dólar), taxa Selic, entre outros indicadores.
- As projeções são do mercado, não do Banco Central. A autoridade monetária só reúne os dados.
Por outro lado, o mercado financeiro manteve as projeções da taxa Selic para o fim deste ano e para os próximos três inalteradas. A estimativa dos economistas segue em 15% ao ano, como no relatório anterior.
- Para 2026, os analistas projetam uma Selic de 12,50% ao ano.
- Para 2027, a previsão da taxa de juros segue em 10,38% ao ano.
- Para 2028, a estimativa continua em 10% ao ano.
Outro destaque nas estatísticas sobre os juros é que o mercado segue descrente com a possibilidade da Selic ficar abaixo de dois dígitos durante o governo Lula e do mandato de Gabriel Galípolo.
Alta do preço dos alimentos
O Copom avaliou que o cenário de inflação segue “adverso”. Além disso, afirmou que os preços de alimentos aumentaram de forma significativa em função, entre outros fatores, da estiagem e da elevação de preços das carnes, afetada pelo ciclo do boi.
Segundo a diretoria do BC, o aumento “tende a se propagar para o médio prazo em virtude da presença de importantes mecanismos inerciais da economia brasileira”.
“Com relação aos bens industrializados, o movimento recente do câmbio pressiona preços e margens, sugerindo maior aumento em tais componentes nos próximos meses. Por fim, a inflação de serviços, que tem maior inércia, segue acima do nível compatível com o cumprimento da meta em contexto de atividade dinâmica e acelerou nas observações mais recentes”, destacou trecho da ata.
“Disciplina fiscal”
O Copom reforçou a necessidade do governo federal ampliar o esforço nas reformas estruturais e na disciplina fiscal.
Caso contrário, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o “potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”.
Sobre a política econômica, o BC afirmou que o colegiado “manteve a firme convicção de que as políticas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas”. “O debate do comitê evidenciou, novamente, a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas”.
“No período recente, a percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida seguiu impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes”, acrescenta.
A diretoria da autoridade monetária entende que a condução da política econômica dos Estados Unidos (EUA) ainda preocupa e torna o ambiente externo “desafiador”. Entre os pontos citados estão:
- os ritmos de desaceleração e de desinflação do país; e
- a postura do Federal Reserve, (Fed, o banco central dos EUA).
Copom confirma aumento nos juros em março
Além de justificar a alta da Selic feita em janeiro, o Copom antecipou a contratação de mais uma elevação da taxa de juros, de pelo menos 1 ponto percentual, na próxima reunião, marcada para os dias 18 e 19 de março.
“Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de mesma magnitude na próxima reunião”, confirmou o BC.
Assim, os juros podem chegar a 14,25% ao ano ainda no primeiro trimestre — mesmo patamar de julho de 2015, época da crise no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Caso se confirme, este será o quinto avanço consecutivo da taxa Selic. A adoção de uma política monetária mais contracionista (isso significa o aumento dos juros) começou em setembro de 2024, quando o Copom decidiu interromper o ciclo de cortes e elevar em 0,25 ponto percentual a taxa, que passou dos então 10,50% ao ano para 10,75% ao ano.
Em contrapartida, o BC não sinalizou um fim do ciclo de aperto monetário (ou seja, aumento dos juros).
“Para além da próxima reunião, o comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação”, completou.
Fonte: Metrópoles