Adicionar frutose, o açúcar das frutas, a alimentos não é uma escolha saudável para adoçá-los. Na verdade, esta inclusão pode até aumentar o risco de doenças metabólicas como a diabetes tipo 2. É o que sugere um estudo feito por pesquisadores brasileiros e canadenses que foi a capa da edição de março da revista Molecular Metabolism.
O estudo, feito em camundongos, sugere que o consumo excessivo de frutose adicionada a alimentos que não são frutas pode favorecer o desenvolvimento de doenças metabólicas e até de síndromes hepáticas.
Frutas tudo bem, mas açúcar não
A frutose costuma ser adicionada a alimentos ultraprocessados com a alegação de ser mais saudável. Entretanto, sem as fibras e outros nutrientes que compõem as frutas, o açúcar natural pode ser o contrário disso.
“As frutas, de fato, contêm frutose, mas não são a fonte do consumo exagerado se consumidas in natura. O excesso ocorre a partir do açúcar que é adicionado pela indústria a alimentos ultraprocessados e bebidas. O açúcar de mesa também tem muita frutose adicionada”, explica o professor de fisiologia Fernando Forato Anhê, orientador do estudo.
Ele explica que metade do açúcar de mesa que consumimos é composta por frutose e que, dependendo da quantidade consumida, a adição caseira também pode levar aos mecanismos observados na pesquisa.
“Açúcar de cana-de-açúcar ou de xarope de milho também são ricos em frutose. Quando consumimos uma fruta, ingerimos uma boa dose de fibras, que não só tornarão a absorção dos açúcares mais lenta e gradual, mas também terão um efeito importante na saciedade. Em outros preparos, até em sucos, a gente perde esses fatores limitantes e pode passar a consumir em excesso”, indica Anhê.
Segundo a pesquisa, a frutose ativa o peptídeo semelhante ao glucagon 2 (GLP-2), aumentando a absorção intestinal de glicose. Esse mecanismo precede o desenvolvimento de resistência à insulina da diabetes e o acúmulo patológico de gordura no fígado, condições associadas a distúrbios metabólicos graves.
Produtos que têm frutose em excesso
- Refrigerantes.
- Sucos industrializados, incluindo os néctares 100% de fruta.
- Cereais matinais, granolas adoçadas e barras de cereais.
- Molhos industrializados como ketchup, barbecue e molhos para salada.
- Biscoitos recheados e doces industrializados.
- Pães e bolos industrializados, como o pão de forma comum, bisnaguinhas e os bolos prontos.
- Chás e bebidas esportivas adoçadas, incluindo chás prontos e isotônicos.
- Iogurtes adoçados e sobremesas lácteas.
- Geleias e doces de fruta industrializados.
- Hambúrgueres e pães de redes fast-food.
Impacto da frutose no metabolismo
A pesquisa feita em ratos comparou um grupo de animais que comia carboidratos de glicose que compunham 70% de sua dieta. Em um destes grupos, a glicose foi parcialmente substituída por frutose (8,5 % do total da dieta). No segundo grupo, a substituição potencializou a absorção de glicose pelo intestino.
As dietas ricas no açúcar reprogramaram o intestino, elevando a expressão de transportadores de glicose e expandindo a superfície absortiva. O bloqueio do receptor de GLP-2 reverteu essas alterações, mitigando os efeitos negativos no metabolismo hepático.
Como evitar a frutose?
O fenômeno ocorre porque, sem as fibras e vitaminas das frutas, a frutose é rapidamente absorvida, sobrecarregando o fígado e favorecendo o acúmulo de gordura.
“As informações nutricionais que usamos no Brasil não descrevem em detalhes a adição do açúcar derivado das frutas. Isso significa que, mesmo consumindo algo aparentemente saudável podemos estar ingerindo grandes quantidades desse açúcar sem perceber. A frutose pode aparecer na lista de ingredientes com diferentes nomes, como xarope de milho rico em frutose, glicose-frutose, açúcar invertido, maltodextrina e até mesmo mel e melaço. Por isso, ler os rótulos com atenção é essencial para a saúde”, alerta o pesquisador Paulo H. Evangelista-Silva, um dos autores do estudo.
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Fonte: Metrópoles