Mark Carney, próximo líder do Canadá, é relativamente um político iniciante, vindo de uma carreira de décadas em finanças, onde conduziu governos por grandes crises globais e períodos de turbulência — experiência que espera aproveitar agora enquanto se prepara para assumir o lugar do primeiro-ministro Justin Trudeau.
É um histórico que pode colocar Mark Carney em boa posição enquanto o Canadá busca conter um confronto econômico iminente com seu gigante vizinho — a guerra comercial do presidente dos EUA, Donald Trump.
Carney foi eleito no domingo (9) para liderar o Partido Liberal do Canadá nas próximas eleições federais no final deste ano. Embora ele nunca tenha concorrido a um cargo eletivo antes, rumores circulam há anos sobre se — e quando — ele poderia se aventurar na política.
Os liberais vêm cortejando Carney há mais de uma década, e o mesmo aconselhou Trudeau sobre a recuperação econômica do Canadá da COVID-19. Mas o banqueiro que virou político não fez sua entrada oficial até que Trudeau anunciou sua renúncia em janeiro.
Todos os seus concorrentes eram políticos em exercício: Carney está na situação incomum de se tornar primeiro-ministro do Canadá sem ter uma cadeira no Parlamento.
Mas antes de tudo isso, ele nasceu em Fort Smith, Territórios do Noroeste, e foi criado em Edmonton, Alberta. Seus pais eram professores e — fiel às suas raízes canadenses — ele jogou hóquei no gelo como goleiro enquanto crescia, de acordo com seu site de campanha.
Ele então foi para os Estados Unidos para se formar em economia na Universidade de Harvard, antes de fazer mestrado e doutorado em economia na Universidade de Oxford.
Ele passou 13 anos trabalhando para o Goldman Sachs, viajando entre os escritórios da empresa em Londres, Tóquio, Nova York e Toronto, de acordo com um perfil do Banco do Canadá, ao qual ele se juntou em 2003.
Em 2008, ele estava servindo como governador do banco central do Canadá, assumindo o cargo enquanto o mundo enfrentava a Grande Recessão.
Durante sua campanha para liderar o Partido Liberal, Carney apontou esse momento como evidência de sua experiência em lidar com crises, dizendo em seu site que ajudou a proteger empregos e estabilizar a economia canadense.
Quando terminou seu mandato de cinco anos, foi contratado pelo Banco da Inglaterra para ser governador — a primeira pessoa não-britânica a ocupar o cargo.
Defensor da mudança climática
Os anos seguintes foram igualmente marcados por crises, com o público britânico votando para deixar a União Europeia. Em discursos antes do referendo de 2016, Carney alertou sobre o impacto econômico que o Brexit teria no país. Ele deixou o Banco da Inglaterra em 2020, após quase sete anos no cargo.
Depois de se tornar o Enviado Especial da ONU para Ação Climática e Finanças em 2019, ele defendeu que o setor financeiro investisse em emissões líquidas zero.
“Quando me tornei governador do Banco da Inglaterra, que supervisiona o setor de seguros, vi que o número de eventos climáticos extremos havia triplicado e o custo desses eventos havia aumentado cinco vezes em um quarto de século. Essas coisas realmente concentraram minha mente no clima.”
Mark Carney, em entrevista no site da ONU
Desde então, ele fez da energia limpa, das políticas climáticas e da prosperidade econômica para o Canadá algumas das facetas centrais de sua campanha, enfatizando que ser de baixo carbono ajudará o Canadá a ser mais competitivo.
Ele propôs transferir o fardo financeiro do imposto sobre o carbono dos consumidores para as grandes corporações e disse que, sob sua liderança, o imposto que os consumidores canadenses e as pequenas empresas pagam sobre o combustível seria substituído por incentivos para reduzir as emissões de carbono.
Alguns especialistas acreditam que a formação de Carney pode torná-lo especialmente adequado para o cargo, enquanto o Canadá luta contra um relacionamento azedo com os EUA e uma guerra comercial crescente.
“Ele é muito competente em economia, então com essas tarifas, essa guerra econômica, muitas pessoas o estão apoiando”, disse Charles-Etienne Beaudy, professor de ciência política na Universidade de Ottawa e autor de “Radio Trump: How he won the first time”.
Desde que as tarifas de 25% dos EUA sobre o Canadá foram anunciadas no mês passado, Carney tem sido um defensor declarado de tarifas retaliatórias dólar por dólar.
Ele abordou a questão no domingo em seus primeiros comentários após a votação, criticando os planos do governo Trump.
Trump está “atacando famílias, trabalhadores e empresas canadenses, e não podemos deixá-lo ter sucesso e não o faremos”, disse ele.
“No comércio, assim como no hóquei, o Canadá vencerá”, acrescentou.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Quem é Mark Carney, próximo premiê do Canadá que substituirá Justin Trudeau no site CNN Brasil.