Se estivesse viva, Elis Regina, a eterna “pimentinha”, completaria 80 anos nesta segunda-feira, (17/3). Apesar de sua ausência, seu legado resiste e continua vibrando na Música Popular Brasileira. Para marcar a data, o produtor musical João Marcello Bôscoli, filho mais velho da cantora, conversou com a reportagem do portal LeoDias e refletiu sobre a herança da mãe.
“Elis Regina é uma das grandes vozes do século XX e creio ser uma referência, uma ‘escola’ de canto brasileiro, assim como as grandes Elizeth Cardoso, Gal Costa e Elza Soares. O Brasil tem grandes vozes”, descreveu.
Veja as fotos
Produtor musical, jornalista e empresário do setor fonográfico brasileiro, João Marcello sabe bem como funciona o universo musical. Quando fala da mãe, ele lembra do carinho que ela imprimiu na memória do público e dos fãs: “Creio que sua voz e seu modo de cantar sejam bem contemporâneos; parecem terem sido gravados há pouco tempo, soam bem nos dias de hoje e não parecem um canto de outra época. Essa contemporaneidade tem grande impacto em sua permanência. Além do timbre, afinação e senso rítmico, foi sorte dela haver tantas pessoas compondo bem durante sua trajetória. Ela foi uma repórter de seu tempo”, lembrou, com saudosismo.
Fundador da gravadora Trama, que revelou e lançou artistas como Charlie Brown Jr., Otto e Racionais MC’s, Bôscoli ressalta que a maior lição que aprendeu com a mãe foi o senso de percepção da vida: “Além de sua capacidade de trabalhar muito, creio nunca ter havido uma separação entre o que ela acreditava e o que fazia. Essa verdade na primeira pessoa me encanta”, afirmou ele.
O jornalista já mencionou em outras ocasiões que a música brasileira está vivendo um ponto de saturação. Ele acredita que a diversidade é das maiores no planeta: “Quem trabalha com música lembrar disso no cotidiano já ajuda. O ponto de saturação do qual falei, diz respeito aos ciclos naturais da vida. Aconteceu com muitos gêneros e movimentos”, contou.
Como estudioso da música brasileira, ele também aponta um desafio contemporâneo: os principais obstáculos que os novos artistas enfrentam atualmente. “Com quase 100 mil faixas lançadas por dia, o maior desafio é ganhar atenção. Esses micro ciclos de 15 segundos tornam a audição de uma música inteira um desafio. Por outro lado, gravar e publicar nunca foi tão acessível”, admitiu.
Quanto à preservação do legado de Elis, ele é direto e diz que não existem fórmulas. “Acho produtivo apoiar as iniciativas das pessoas e não ter um comportamento censor ou policial e, sempre que possível, apresentar o canto de Elis quando as oportunidades aparecem. Seja num musical, filme ou livro, seja no desenvolvimento de personagens ou andando de Kombi com a filha”, brincou, fazendo referência à propaganda da Volkswagen que reviveu a cantora com Inteligência Artificial, cantando ao lado de Maria Rita.
Em homenagem à data, o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) divulgou as músicas mais executadas de Elis Regina nos últimos cinco anos. Entre as faixas mais tocadas, lidera “Como Nossos Pais”, de Belchior; “Águas de Março”, de Tom Jobim; e “O Bêbado e a Equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc.
Elis partiu precocemente em 1982, quando Marcello tinha apenas 11 anos e ela, 36. Mas, a cantora deixou um repertório que não apenas marcou a história da música brasileira, como continua sendo referência de interpretação, afeto e potência.
Fonte: Portal LEODIAS