Um estudo feito pela Dasa aponta que a busca por exames de vitaminas no sangue cresceu de forma desproporcional nos últimos anos, influenciada por sintomas genéricos e desinformação online. O fenômeno foi observado após uma análise de quais exames foram feitos pelos mais de 8 milhões de clientes do laboratório Sérgio Franco, no Rio de Janeiro, entre 2022 e 2024.
O destaque vai para os testes de vitamina B12, com aumento de quase 80% no período (76,87%). A procura por análises de vitamina A subiu 42,78%, vitamina C, 35,03%, e vitamina D teve avanço de 12,94%.
A endocrinologista Rosita Fontes, do laboratório Sérgio Franco, que participou do estudo, aponta que esse movimento foi estimulado por pessoas com sintomas inespecíficos, como cansaço e lapsos de memória, que achavam que a suplementação vitamínica poderia ser a solução para os seus problemas.
“Não há estudos científicos ou como comprovar que essa tendência esteja realmente ligada ao movimento de divulgação e influência das redes sociais e outras mídias digitais, mas observamos que informações equivocadas divulgadas na internet podem ter levado as pessoas a adotar esse tipo de comportamento”, explica ela.
Influência digital e desinformação
Apesar da associação comum entre sintomas inespecíficos e deficiência de vitaminas, não há base científica que dê suporte à relação direta. “Fraqueza e fadiga podem ter várias causas. O exame precisa ser solicitado com base em avaliação médica e exame físico”, afirma Rosita.
A preocupação maior, segundo ela, é o risco de interpretações equivocadas de resultados. “Algumas alterações são esperadas, mas causam alarme desnecessário quando vistas fora do contexto clínico”, completa. A realização indiscriminada dos testes, sem critério técnico, portanto, pode gerar excesso de diagnósticos sem relevância clínica.
Sintomas da deficiência de vitaminas
- O exame de dosagem de vitaminas é indicado para quadros clínicos específicos. O paciente deve apresentar sintomas de acordo com as vitaminas que podem estar em deficiência.
- Os sinais para deficiência vitamínica do tipo A são dificuldade de enxergar à noite e ressecamento ocular; pele seca e escamosa; maior suscetibilidade a infecções, especialmente respiratórias; e atrasos no crescimento em crianças.
- Para vitamina B12, os sinais são anemia megaloblástica ou problemas neurológicos como formigamentos, déficit de memória e concentração, dificuldade de equilíbrio e confusão mental.
- Na vitamina C, os sintomas de deficiência se manifestam como sangramento nas gengivas, anemia e infecções frequentes.
- A falta de vitamina D é sinalizada pela dor óssea, osteoporose, dores musculares, aumento de quedas.
- Além disso, pessoas com doenças intestinais, desnutrição, alcoolismo, problemas renais ou que utilizam medicamentos que podem afetar a absorção de vitaminas também podem precisar realizar os exames.
Nem todos precisam de vitaminas
Os especialistas apontam que a busca por soluções rápidas para problemas como desânimo e tristeza tem feito o uso de suplementos polivitamínicos crescer no Brasil. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (ABIAD) indicam aumento de 12% nas vendas desses produtos apenas no primeiro semestre de 2024.
Segundo o endocrinologista Daniel Lerario, de São Paulo, que não participou da pesquisa, a maioria das pessoas não tem necessidade de suplementos vitamínicos. “Uma dieta equilibrada e variada já oferece as ferramentas necessárias ao organismo”, afirma ele.
“Os suplementos são, em geral, indicados para atletas de alto desempenho, pois a intensidade e a duração dos treinos podem influenciar na demanda por nutrientes acima do que se obtém na dieta. Algumas condições de saúde ou pessoas com dietas restritivas também podem se beneficiar, por conta da dificuldade em obter todos os nutrientes necessários através da alimentação”, reforça o endocrinologista.
Riscos do excesso de vitaminas
A prática da suplementação nem sempre é benéfica e pode levar até a intoxicações graves e óbito quando não é bem feita. Cálculos renais também podem surgir pelo uso indevido. Confira os principais riscos de usar os polivitamínicos:
- Sobrecarga de órgãos: fígado e rins são os principais órgãos responsáveis por filtrar e eliminar as substâncias do organismo. A ingestão excessiva de suplementos pode sobrecarregar esses órgãos.
- Interações medicamentosas: alguns suplementos podem interagir com medicamentos, alterando sua eficácia ou aumentando o risco de efeitos colaterais.
- Desequilíbrios nutricionais: o excesso de um nutriente pode causar deficiência de outros.
- Efeitos colaterais: os polivitamínicos também podem causar efeitos colaterais, como náuseas, diarreia, dores de cabeça, insônia e aumento da pressão arterial.
Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e no Canal do Whatsapp e fique por dentro de tudo sobre o assunto!
Fonte: Metrópoles