Análise: Entenda a proposta de Trump sobre dividir a Ucrânia

A guerra da Rússia contra a Ucrânia pode estar entrando em um momento crucial.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, segundo o que a CNN relatou na sexta-feira (25), ficou surpreso e frustrado com a dificuldade de cumprir sua promessa de encerrar a guerra.

Ele afirmou que quer que a Ucrânia ceda territórios em troca da paz, essencialmente o controle da Crimeia — a península que a Rússia invadiu pela primeira vez em 2014.

Os russos controlam quase 20% da Ucrânia, grande parte da qual poderia ser perdida com a atual proposta dos americanos.

Os EUA estão considerando reconhecer a Crimeia como parte da Rússia, embora sua tomada tenha sido contrária ao direito internacional.

Tudo o que o presidente russo, Vladimir Putin, precisa fazer, na visão de Trump, é parar de lutar.

Isso deixaria Putin recompensado por invadir a Ucrânia, caso consiga manter oficialmente o número de territórios. Se o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, não ceder, os EUA ameaçaram retirar o apoio ao país.

Ucranianos têm conversado com americanos e europeus em Londres, informando sobre sua versão de um plano, no qual um cessar-fogo precederia qualquer discussão sobre a cessão de território.

Trump e Zelensky foram ao funeral do papa Francisco em Roma neste fim de semana.

Se haverá um avanço para a paz, se todo o processo de duas vias explodirá ou se a inércia se instalará e a guerra continuará, isso poderá ficar claro nos próximos dias.

Enquanto isso, as hostilidades continuam. Um general russo foi morto em um carro-bomba perto de Moscou na sexta-feira. Ataques russos ainda têm como alvo cidades ucranianas, apesar do aviso de Trump a Putin nas redes sociais: “Vladimir, pare!”.

A Ucrânia desistirá da Crimeia?

Trump acredita que sim.

“A Crimeia ficará com a Rússia”, disse ele à revista Time em 22 de abril. “E Zelensky entende isso, e todos entendem que isso está com eles há muito tempo”, prosseguiu Trump.

A Rússia invadiu a Crimeia pela primeira vez em 2014, mas, apesar da indignação moral e das sanções, não enfrentou outras consequências como as que teve mais tarde, quando tentou invadir o restante da Ucrânia em 2022. A proposta de cessar-fogo de Trump parece partir da ideia de que a Crimeia será controlada pela Rússia.

Zelensky rejeitou publicamente a ideia de ceder o território.

Mas outros ucranianos importantes parecem estar abertos à ideia. O   prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, ex-campeão de boxe, disse à BBC que não está envolvido nas negociações, mas que abrir mão da Crimeia pode ser necessário.

“Não é justo. Mas para a paz, uma paz temporária, talvez possa ser uma solução, temporária”, afirmou Klitschko.


Ponte da Crimeia conectando o continente russo com a península através do Estreito de Kerch, na Crimeia, em 17 de julho • Stringer/Reuters

Uma concessão na Crimeia levaria a um plano de paz?

O colunista do Washington Post, David Ignatius, argumenta que, se os dois lados conseguirem superar a questão da Crimeia, outros detalhes poderão ser acertados, incluindo se tropas europeias apoiarão a segurança da Ucrânia e se os EUA estarão presentes, talvez protegendo e operando uma usina nuclear.

Nick Paton Walsh, da CNN, não tem tanta certeza, em grande parte porque não está claro o que Trump quer de Putin e se o russo abrirá mão de alguma coisa. Ele escreve:

“O problema principal é que Putin acredita que o tempo está a seu favor e Trump tem repetidamente afirmado que o tempo está passando. Essas duas posições contrastantes não resultarão em um acordo duradouro.

O Kremlin talvez tenha acertado sabiamente que pode, ao longo de meses, arrancar pequenas concessões da Casa Branca e, lentamente, construir um cenário geopolítico mais favorável a ele. Considere os primeiros 90 dias da presidência de Trump e o quanto o mundo já mudou a favor de Moscou.”

O que há de errado com os EUA reconhecerem a Crimeia como parte da Rússia?

A Rússia violou o direito internacional ao invadir a Crimeia, como escreve Ivana Kottosová, da CNN. Zelensky rejeitou até agora a ideia de ceder a Crimeia, observando que isso violaria a Constituição da Ucrânia.

Se os EUA reconhecessem a Crimeia como russa, quebrariam a palavra americana repetidamente.

Da reportagem de Kottosová:

“Reconhecer a Crimeia como parte da Rússia colocaria o governo Trump em violação ao Memorando de Budapeste de 1994, no qual os EUA se comprometeram a respeitar a soberania e as fronteiras da Ucrânia, em troca da renúncia de Kiev às suas armas nucleares.

Em 2018, durante o primeiro governo Trump, o então Secretário de Estado Mike Pompeo emitiu uma declaração reafirmando a recusa dos EUA em reconhecer as reivindicações de soberania do Kremlin sobre a Crimeia.”

O que significa se Putin conseguir manter a Crimeia?

“Isso significa que ele basicamente perturbou a ordem internacional”, disse o coronel aposentado Cedric Leighton, analista militar da CNN na sexta-feira.

“Em essência, o que ele fez foi criar uma situação em que voltamos ao século 19, onde a força faz a justiça, e é isso que ele quer”, afirmou Leighton, comparando as ações de Putin à invasão da Tchecoslováquia pela Alemanha nazista na década de 1930.

Os ucranianos sentem que a Crimeia faz parte do seu país desde a queda da União Soviética. Na mais de uma década desde que a Rússia a tomou, Putin tem trabalhado para “russificar” a Crimeia.

Há também considerações sobre recursos, já que a Crimeia e outras partes disputadas da Ucrânia são ricas em petróleo, gás natural e outros recursos. Por fim, a Crimeia fica às margens do Mar Negro e oferece importantes vantagens estratégicas à Rússia.

E se Zelensky não ceder e os EUA, como ameaçaram, se retirarem?

“O que significa ‘retirar-se’ ainda é uma questão sobre a qual ninguém tem uma compreensão realmente clara”, de acordo com Andrea Kendall-Taylor, pesquisadora sênior do Centro para uma Nova Segurança Americana e ex-vice-oficial de inteligência nacional dos EUA para a Rússia e Eurásia.

“Isso significa apenas que os Estados Unidos não estarão mais envolvidos no processo diplomático para tentar encerrar a guerra? Ou significa que os Estados Unidos farão as malas e voltarão para casa completamente, incluindo o fim de qualquer ajuda militar restante?”, disse ela a Bianna Golodryga, da CNN.

A Ucrânia ainda lutaria sem o apoio dos EUA?

A Ucrânia depende do apoio dos EUA, principalmente para defesa aérea e inteligência. Mas também construiu seus próprios recursos e se apoia na Europa.

“Os ucranianos não vão parar de lutar se os Estados Unidos fizerem as malas e se retirarem”, disse Kendall-Taylor.

São os drones ucranianos que estão causando a maior parte das baixas entre os soldados russos neste momento, afirmou. Os ucranianos também estão produzindo drones de longo alcance que podem atingir a Rússia, o que significa que a Ucrânia pode preferir ganhar tempo para “convencer Putin de que ele não pode permanecer neste conflito indefinidamente”.

Putin tem algum incentivo para encerrar a guerra?

“Não muito”, segundo Kendall-Taylor. “E é exatamente por isso que vimos tanta intransigência da parte dele em fazer qualquer progresso em direção à guerra.”

“É realmente do interesse dele continuar com a enrolação, para tentar demonstrar que eles [a Rússia] estão cooperando para que possam preservar o relacionamento EUA-Rússia”, afirmou.

“O resultado desejado [por Putin] seria preservar esse relacionamento e fazer com que os Estados Unidos abandonassem a Ucrânia”, ela acrescentou.


Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca, em Washington 28/02/2025 REUTERS/Brian Snyder • Reuters

A Europa preencherá o vazio deixado pelos EUA?

Michael Kimmage, ex-especialista do Departamento de Estado em Rússia e Ucrânia, que agora dirige o Instituto Kennan no Wilson Center, afirmou que já parece improvável que o Congresso dos EUA aprove mais gastos para ajudar a Ucrânia e que a Europa, em particular a Alemanha, está se mobilizando para preencher esse vazio.

“Isso é profundo”, disse ele sobre a mudança da Alemanha para priorizar a segurança em seus gastos.

“De certa forma, Trump está radicalizando a política externa alemã, e há uma necessidade de avançar o mais rápido possível na direção da independência (dos EUA), ele continuou.

“Se a Alemanha vai gastar um trilhão de dólares em defesa nos próximos dois anos, grande parte disso irá para a Ucrânia, ou servirá como garantia para apoiar a Ucrânia.”, acrescentou.

Mas essa é uma mudança que levará tempo.

“Não é como se a Alemanha pudesse substituir os Estados Unidos no curto prazo, mas pode equilibrar a natureza errática e basicamente anti-Ucrânia da presidência de Trump”, concluiu.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Análise: Entenda a proposta de Trump sobre dividir a Ucrânia no site CNN Brasil.

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