Na última semana, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que o desemprego está baixo no país. No primeiro trimestre de 2025, a taxa de desemprego no Brasil foi de 7% — 0,9 ponto percentual menor que a do mesmo período do ano passado (7,9%).
Esta é a menor taxa de desocupação para um trimestre encerrado em março dentro da série histórica do IBGE, iniciada em 2012. Antes o recorde era do trimestre terminado em março de 2014 (7,2%).
Isolados, porém, esses dados não dão conta de explicar todo o mercado de trabalho. Analistas apontam que a renda do trabalhador não tem acompanhado a inflação, o que significa perda de poder de compra do trabalhador.
Desemprego em 2024
- O nível de ocupação (percentual de pessoas em idade apta a trabalhar) de 2024 foi estimado em 58,6% e ultrapassou o recorde anterior de 2013, quando o índice era de 58,3%.
- Em 2024, o país teve 103,3 milhões de pessoas trabalhando — novo recorde dentro da série iniciada em 2012.
- O Brasil criou 1,69 milhão de empregos formais (com carteira assinada) em 2024. Esse número representa alta de 16,5% em comparação a 2023, quando foram criados 1,45 milhão de postos desse tipo.
Em pronunciamento em rede nacional de rádio e TV, por ocasião do dia 1º de maio, o presidente Lula (PT) ressaltou que, em dois anos e quatro meses de governo, foram gerados 3,8 milhões de postos de trabalho com carteira assinada. “Saímos do maior para o menor desemprego da história. E atingimos o recorde histórico de pessoas empregadas”, afirmou.
“A taxa de desemprego em 7% mostra que o mercado de trabalho continua firme, mesmo com juros altos. O número veio como esperado e segue entre os melhores para esse período do ano desde que o IBGE começou a medir. Mas é importante olhar também a qualidade desses empregos”, explica Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.
Segundo o IBGE, o rendimento médio subiu para R$ 3.410, o maior da série histórica. Só que essa alta foi de apenas 4% no ano, abaixo da inflação. Ou seja, o trabalhador está ganhando reajuste, não aumento real.
“Isso aparece no dia a dia, o carrinho do supermercado continua mais vazio e o consumo segue apertado. Para as empresas, isso significa que o crédito ainda vai ser necessário, mas com atenção redobrada. O consumidor está empregado, mas com pouco espaço no orçamento”, continua Eyng.
“O crescimento da informalidade pode até manter o número de desempregados baixo, mas a verdadeira questão é a falta de poder de compra. O rendimento médio aumentou, mas não suficiente para cobrir a inflação. Isso tem sérias implicações para o varejo, que precisa estar atento a um consumidor ativo, mas fragilizado”, argumenta Jorge Kotz, CEO do Grupo X.
O consumo segue em alta, mas os especialistas afirmam que ele se baseia em uma população cada vez mais endividada e com finanças instáveis.
Pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo SPC Brasil revela que 31% da população utilizou o cheque especial nos últimos 12 meses.
Empregos formais e informais
Já o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, apontou que o Brasil criou 654.503 vagas de emprego formal (ou seja, com carteira assinada) no primeiro trimestre de 2025. Em março, o número de oportunidades disponíveis foi de 71.576 — uma queda de 83,6% em relação a fevereiro, explicada pela sazonalidade típica do início de ano.
Especialistas apontam que há um aumento na informalidade e na precarização do trabalho, com postos de trabalho em sua maioria com salários baixos.
Além disso, o crescimento da ocupação tem se concentrado em setores como a construção civil e os serviços, segmentos em que a estabilidade e os salários são incertos.
Para Theo Braga, CEO da SME The New Economy, as políticas de estímulo do governo Lula adotadas no final de 2024 até ajudaram momentaneamente, mas não trouxeram soluções estruturais. “O Brasil precisa de uma agenda mais robusta para criar empregos de qualidade. Para o setor de consumo, isso exige uma visão mais cuidadosa sobre o perfil do trabalhador brasileiro, que segue fragilizado e com menos poder de compra, o que torna a recuperação econômica ainda mais incerta”, diz.
Segmentos reclamam
Apesar do avanço nos salários, os empresários de bares e restaurantes continuam encontrando dificuldades para preencher vagas. Uma pesquisa recente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) revelou que 90% dos empresários do setor consideram difícil ou muito difícil contratar novos funcionários. O principal entrave está na falta de qualificação profissional (64%), seguida da ausência de interessados (61%).
“Mesmo com o aumento real dos salários, a contratação de profissionais segue sendo um desafio, especialmente nos cargos que exigem especialização, como sushiman, churrasqueiro e cozinheiro. Nosso levantamento mostrou que 88% dos empresários classificam como ‘alta’ ou ‘muito alta’ a dificuldade de encontrar profissionais qualificados para funções como essas”, afirma Paulo Solmucci, presidente-executivo da Abrasel.
Entre as estratégias adotadas para contornar esse cenário, se destacam as premiações por desempenho (51%) e investimento em treinamentos internos (40%). A pesquisa também apontou que 92% contratam profissionais sem experiência prévia, optando por formar esses trabalhadores dentro do próprio negócio.
“É preciso valorizar quem está começando e criar caminhos de crescimento dentro do próprio negócio. A oferta de capacitação e benefícios tem sido uma forma de formar equipes mais engajadas e preparadas, mesmo diante da escassez de mão de obra pronta no mercado”, completa Solmucci.
Fonte: Metrópoles